Eu olhei para cima, assustado, quando ouvi a cadeira vazia à minha mesa se mover. Ela era linda, de uma maneira única, no estilo de uma modelo de passarela. Ela era bonita de uma forma que fazia as cabeças virarem, seja por inveja ou interesse.
Eu sei disso, porque já fui descrito de maneira semelhante.
Sua expressão parecia preocupada, quase furtiva. Ela limpou a garganta e franziu os lábios em um sorriso fraco, não convincente. Sorri educadamente de volta para ela. O café estava lotado, mas não a ponto de ela precisar ocupar a cadeira vazia à minha mesa. Lembro-me disso, porque na época estava vagamente incomodado, mas talvez ela precisasse de ajuda.
Lembro-me dela, porque estava usando roupas demais para o dia quente de outono.
"Posso te ajudar?" perguntei a ela. "Você está bem?"
Ela balançou a cabeça levemente antes de concordar mais vigorosamente. Não escapou a mim como seus olhos se moviam, olhando além dos outros clientes, como se estivesse assustada com algo.
O cartão que ela colocou na minha frente parecia um cartão de visita, mas não era. Era muito grosso, quase luxuoso demais para ser um cartão padrão. O som abafado de suas unhas quase encobriu as últimas palavras sussurradas para mim antes de sair tão repentinamente quanto apareceu.
Desculpe-me.
Isso... Foi há algumas semanas. Eu nem consigo realmente te dizer sobre o que era toda essa situação, mas tudo o que sei é que desencadeou algo. Algo hostil.
O cartão que ela deixou nem tinha um nome nele. Tinha apenas um número - algo na casa das centenas - e uma frase que fez os pelos do meu pescoço se arrepiarem.
Você é o escolhido, dizia em letras grossas e blocadas. Era muito uniforme para parecer manuscrito, mas quase rústico demais para parecer tipografia. Havia um número de telefone no verso, mas eu o ignorei. Tentei jogar fora aquele cartão várias vezes, mas ele continuava aparecendo na minha bolsa, como se eu tivesse acabado de deixá-lo lá em vez de na lixeira.
Sim, eu sei. Da primeira vez que aconteceu, isso me assustou muito. Com mais coisas acontecendo, no entanto, isso se tornou mais um incômodo do que qualquer outra coisa.
A melhor maneira de descrever o que estava acontecendo era como um jogo demente de pega-pega, mas em vez de "isso" encontrando os outros jogadores, os outros jogadores é que estavam encontrando "isso".
Só que eu não acho que os jogadores sejam humanos.
Levei vários dias para perceber o que estava acontecendo... E, para ser honesto, ainda não tenho certeza se meu palpite estava certo.
Minha melhor amiga foi a primeira a perceber as estranhezas, rindo disso porque pensou que fosse aquele fenômeno de pareidolia. Ela foi a primeira a apontar como o padrão de madeira no espelho do corredor parecia um rosto pequeno. Ela achou charmoso porque nunca tinha notado, comentando como, uma vez que você percebe, fica mais evidente.
Ficou mais evidente porque estava ficando mais claro a cada semana. Depois de notar o rosto, comecei a vê-los por toda parte.
A maioria deles mal estava lá, parecendo algum tipo de mancha. Mas não eram manchas, eram alterações no meu ambiente.
Toquei em um deles por acaso, em meu cachecol. Era um dos meus favoritos e o frio repentino me assustou. Queimou minha pele, o suficiente para eu ir ao pronto-socorro e eles me advertirem sobre o dano pelo frio. Essa área ainda está dormente.
Continuei vendo os rostos. A maioria era ambígua o suficiente para eu mal chamá-los de rostos, mas alguns estavam ficando mais claros a cada dia. A maioria deles estava no meu apartamento, já que eu passava a maior parte do tempo lá.
Eu podia ignorá-los, até certo ponto, mas isso mudou rapidamente. Eu não podia mais fingir que eles não existiam.
Como havia tantos, eu estava constantemente com frio perto deles. Comecei a usar mangas compridas o tempo todo em meu apartamento, e não importava o quanto eu aumentasse o aquecimento, meu apartamento estava frio.
O da pintura no meu quarto era o mais claro. Havia pupilas nos olhos escuros, não humanos, que surgiram de repente. Parei de dormir lá quando o contorno dos olhos estava claro, mas nem conseguia entrar lá depois que percebi que havia pupilas. Foi quando engoli meu orgulho e peguei o cartão de visita.
Eu não achava que estavam ligados, mas era muita coincidência eu começar a ver rostos em objetos depois de receber aquele cartão da mulher aleatória. Era como se ela me amaldiçoasse, ainda que relutantemente.
O telefone tocou duas vezes antes de alguém atender. O silêncio do outro lado era ensurdecedor, mesmo depois de eu perguntar se alguém estava lá. Estava prestes a desligar quando o outro lado finalmente falou.
"Você tem uma semana", disseram. A entonação enviou outro calafrio pela minha espinha. "Encontre um como você."
Perguntei o que eles queriam dizer, mas a voz apenas repetiu as palavras antes que a linha ficasse silenciosa.
Estremeci e olhei ao redor. Alguns dos olhos estavam mais claros, especialmente o do vaso de planta. Quando peguei um vislumbre do rosto no quadro, vi que também tinha olhos.
A boca tinha se transformado em um sorriso. Um sorriso malévolo, ansioso.
Estremeci novamente conforme a temperatura caía apesar de tudo no máximo.
Foi quando tomei a decisão.
Escrevo isso, sentado em um café diferente do normal que costumo frequentar. Havia muitos rostos lá. Ninguém parecia perceber o quão frios eles estavam, mas alguns outros clientes notaram a peculiaridade e mencionaram o quão encantadores eles eram.
Levou vários dias, mas encontrei um. Um homem, desta vez. Ele não era convencionalmente atraente, mas era único.
Eu podia ver as mulheres perto dele lançando olhares furtivos, assim como os que eu receberia. As mais descaradas lhe dando olhares maliciosos de longe. Eu já tinha visto outros antes dele, mas não eram os certos. Estavam muito interessados em outras pessoas, trocando olhares sedutores com seus admiradores.
Mas ele era o certo, porque não olhava para elas em retorno. Estava lendo um livro como eu tinha estado naquele dia. Havia uma cadeira vazia em frente a ele.
Eu tinha o maldito cartão no bolso.
Se eu não fizer isso agora, não terei outra chance.
Desculpe-me.