quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Na igreja onde trabalho, todos os ícones são amaldiçoados. Estou preso aqui para sempre

Vim trabalhar na Igreja de Santo Anselmo para fugir de tudo. Naquela época, achei que um emprego tranquilo como zelador numa cidade pequena me daria espaço para respirar, uma chance de esquecer.

Eu não era religioso, mas havia algo na calma daquele lugar que me tocava profundamente. Talvez fosse o silêncio reconfortante dos bancos ou a forma como a luz do sol atravessava os vitrais antigos, como o sopro de Deus. Eu só precisava de paz — e a igreja tinha isso de sobra.

A igreja fica em Rochester, uma cidade esquecida por Deus no interior do estado de Nova York, perdida entre florestas densas e rodovias abandonadas. As pessoas aqui são educadas, mas reservadas, como costumam ser em cidades pequenas. Nunca são rudes, mas também não fazem perguntas. Ninguém quis saber por que um cara de trinta anos, vindo da cidade grande, se mudou para a casa da igreja. Eles só ficaram felizes por alguém finalmente cuidar do lugar.

Santo Anselmo estava vazio havia muitos anos. O zelador anterior, um velho chamado Abdiel, morreu em circunstâncias estranhas. Ninguém sabia a causa exata — alguns diziam que foi insuficiência cardíaca, outros que ele simplesmente “foi embora e nunca voltou”. Não insisti no assunto; não estava particularmente curioso.

A igreja era antiga, construída no século XIX, com pisos rangentes e correntes de ar nos corredores. A torre do sino não funcionava havia anos, e os bancos de madeira haviam sido polidos até brilhar por inúmeras mãos.

Mas o que mais me perturbava — o que realmente me deixava inquieto — eram os ícones. Havia muitos deles. Não apenas os crucifixos comuns e os vitrais com santos, aos quais todos estão acostumados, mas grandes painéis pintados pendurados em lugares estranhos: ao lado das portas, acima do confessionário, até mesmo ao pé do púlpito. Eram antigos, claramente trazidos de longe. Estilo ortodoxo oriental — com olhos grandes, abertos, e expressões severas.

Durante toda a minha vida, esse tipo de arte sempre me deu a sensação de estar sendo observado. Mesmo sabendo que não estava, ainda me causava um profundo desconforto.

Não sou especialista, mas não era preciso ser um erudito para perceber como era estranho encontrar ícones assim numa igreja católica no interior da América. Eles não pertenciam àquele lugar — era o que eu pensava. E talvez eu também não pertencesse.

Então, as coisas estranhas começaram. No começo, culpei a adaptação. Eu estava sozinho num prédio antigo e enorme, cheio de rangidos e gemidos. Pensei ter ouvido sussurros de vez em quando, mas atribuí isso à fadiga e às noites sem dormir.

Até que os ícones começaram a mudar.

No início, era quase imperceptível. Uma manhã, vi manchas vermelhas na lança de São Jorge, perto da entrada. Pensei que fosse tinta. Talvez sempre tivesse sido assim, e eu simplesmente não havia notado. Mas então os olhos da Virgem Maria, no ícone perto da escada para a reitoria, começaram a brilhar — não por causa da luz, mas como se fossem lágrimas. Aproximei-me e observei a imagem por um longo tempo antes de tocar a madeira. Arrepios percorreram meus braços quando percebi que estava úmida. Esfreguei a superfície, concluindo que deveria haver um vazamento na parede.

Mas no dia seguinte, aconteceu de novo. A umidade estava apenas no rosto dela, como se a própria madeira estivesse chorando.

Uma semana após minha chegada, acordei por volta das três da manhã. A casa estava em silêncio absoluto, exceto por um leve farfalhar, como garras arranhando pedra. Presumi que fosse algo nas paredes — até perceber que o som vinha da própria igreja. Vesti um suéter e caminhei descalço pelo chão frio. Não havia necessidade de luz; o luar entrava, banhando o corredor em prata.

Quando entrei no santuário, o ar mudou. Sutilmente, mas inconfundível — cheirava como o ar carregado antes de uma tempestade. Os bancos estavam envoltos em sombras, e o ícone de São Sebastião, perto do altar, parecia mais escuro que o normal. Suas feridas — pequenas flechas em seu peito — pareciam frescas e úmidas. Juro por tudo que tenho: elas estavam sangrando.

Fiquei paralisado por dez minutos, com o cheiro metálico de sangue nas narinas. Então o farfalhar veio novamente, mais alto e rítmico, vindo da direção do altar.

Avancei, com a boca seca e um nó na garganta. Contornei o púlpito — e tudo ficou em silêncio. Olhei atrás do altar.

Nada. Sem ratos, sem pedras caídas. Apenas uma cruz de madeira e os ícones. Um deles fez meu coração parar: um monge sombrio com olhos como abismos negros, segurando um livro inscrito com símbolos vermelhos. Eu nunca o tinha visto antes.

Quando acendi as luzes, o ícone havia desaparecido. Não consegui dormir pelo resto da noite.

As coisas pioraram nos dias seguintes. O ícone de Cristo no santuário começou a mudar de expressão. Sua boca, antes serena, contorceu-se num franzido profundo. Seus olhos me seguiam — não metaforicamente, mas literalmente. Testei, andando de um lado para o outro. Eles me rastreavam. Um dia, do coro, vi Sua mão levantada num gesto que não estava lá antes: dois dedos erguidos em bênção... ou advertência.

Continuei dizendo a mim mesmo que era tudo coisa da minha cabeça — talvez eu estivesse enlouquecendo. Eu já tinha passado por coisas tristes e pesadas na vida. Talvez isso tivesse quebrado algo dentro de mim. Estava muito sozinho. Era o que eu pensava... até os sonhos começarem.

Muito vívidos — tanto que às vezes eu me perguntava se estava realmente sonhando. Acordava encharcado de suor, coração disparado, sem saber se ainda estava dormindo.

Era sempre o mesmo lugar: a igreja, iluminada por velas. Ícones cobriam todas as superfícies — paredes, teto, até o chão — e eles sussurravam numa língua que eu não entendia. O ritmo das palavras parecia um batimento cardíaco. O rosto da Virgem se contorcia em luto. Pedro roía as próprias mãos. As feridas de Cristo sangravam, enchendo o ar com um fedor metálico. A pior parte... era que, quando os ícones mudavam nos sonhos, também mudavam na realidade — tornando-se cada vez mais grotescos e aterrorizantes.

No final de cada sonho, o monge do ícone desaparecido aparecia. De pé ao pé da minha cama, livro na mão, a boca costurada com linha preta. Ele apontava um dedo ossudo para mim, e era quando o sonho terminava — não com o despertar, mas com meu grito.

Queria desistir. Não era para isso que eu tinha me inscrito. Contei ao padre Bellamy, o pároco, que estava me sentindo sobrecarregado. Falei sobre os sonhos. Sobre o que vi na igreja. Ele me lançou um olhar estranho — não de piedade, mas... de compreensão. Não tentou me dissuadir. Apenas fez uma pergunta:

“Você abriu a caixa na sacristia?”

“Quê?”

Ele se afastou sem dizer mais nada, deixando-me atônito.

Naquela noite, encontrei a caixa. Não a tinha notado antes — embutida na base de um armário na sacristia, escondida atrás de um painel falso. Dentro, havia uma pasta cheia de papéis amarelados. Anotações, esboços de natureza religiosa estranha e um diário. O diário de Abdiel.

Li as primeiras entradas, minhas mãos tremendo incontrolavelmente.

“Os ícones vieram da Rússia. Supostamente doados em 1912 por um bispo visitante. Mas algo está errado com eles. Conheço a arte ortodoxa. Essas não são apenas imagens. São prisões. São recipientes.”

“Eu os ouço à noite. Sussurrando. Às vezes chorando. A Virgem implora para que eu a liberte. Sebastião uiva de agonia. Cristo chora sangue. Eles estão presos em sofrimento eterno.”

“Encontrei um ritual para purificá-los. Mas requer sangue. O meu não serve. Tem que ser uma alma boa. Não consigo fazer isso. Perdoe-me, Senhor.”

Larguei o diário e me curvei, meu estômago revirando. Quase vomitei. Na manhã seguinte, dirigi até a cidade para exigir respostas do padre Bellamy.

Ele não ficou surpreso. Convidou-me para seu escritório, serviu uísque para nós dois. A sala estava abarrotada de livros — tomos antigos, encadernados em couro, que pareciam mais ocultos do que teológicos.

“Você é o primeiro a durar mais de um mês”, disse ele, bebendo calmamente. “Você e o Abdiel. Aquele velho aguentou por anos. Até o fim.”

Mostrei o diário. Ele assentiu.

“Sabemos há muito tempo... Os ícones nunca deveriam ter vindo para cá. Foram criados durante uma fome por um culto que acreditava que os santos podiam absorver o sofrimento humano — literalmente. Eles despejaram seu tormento nas pinturas. Passaram fome. Mataram os seus. Alimentaram os ícones, selando-os com oração e sangue.”

“E quem os trouxe para cá?”

“O bispo que os doou morreu queimado semanas depois. Ninguém sabe quem realmente os enviou. Mas já era tarde demais. A igreja os aceitou, e agora eles não podem ser removidos. Toda vez que alguém tenta, algo terrível acontece — peste, incêndio, loucura. Paramos de tentar. Um homem local tentou destruir o ícone da Santíssima Trindade. Ele desapareceu. E um novo ícone apareceu — um que nunca tínhamos visto antes.”

“E vocês simplesmente... convivem com isso?”

Ele me olhou com olhos vazios.

“Que mais podemos fazer? Eles agora são parte do prédio. Como podridão nos ossos. Estamos condenados, meu filho.”

Saí, meu corpo tremendo com o peso daquilo. O que me aterrorizava não era o que ele disse — mas a calma com que disse.

Tentei fugir. Fiz uma mala, reservei um motel, planejei ir para o sul. Mas a estrada estava bloqueada. Uma árvore caída. As pessoas disseram que foi uma tempestade. Eu não acreditei.

Tentei sair a pé pela floresta — caminhei por horas, mas sempre acabava voltando para a cidade. Pedir ajuda aos moradores era inútil. Eles apenas me olhavam com desespero.

Algumas vezes, quando pensei que estava escapando, uma enxaqueca cegante me paralisava em segundos. Eu desmaiava. E acordava na casa da igreja. Quando finalmente ousei voltar ao santuário, os ícones haviam mudado novamente. Todos me encaravam. Não com julgamento — mas seus olhares faziam minha pele arrepiar.

Eles sabiam que eu tentei fugir.

Os pesadelos pioraram — o monge começou a falar. Sua boca não estava mais costurada. Sua voz era como gelo rachando sob os pés.

“Você vive onde eles descansam. Alimente-os. Ou tome o lugar deles. Tente destruí-los — e junte-se a mim.”

Os sons agora vinham durante o dia: arranhões sob o assoalho, gemidos nas paredes. Abri uma grade de ventilação e encontrei um embrulho de pano. O que vi quase me causou um ataque cardíaco. Uma mão humana decepada, segurando um crucifixo retorcido em espiral.

Parei de dormir.

A igreja começou a mudar. Corredores que levavam a lugar nenhum. Quartos que não existiam antes. Portas que se trancavam sozinhas. Uma vez, encontrei escadas atrás do púlpito, descendo para a escuridão. No dia seguinte — elas haviam sumido.

E os ícones continuavam chorando. Sangrando e se movendo.

Comecei a ouvir vozes enquanto acordado — implorando, gritando, às vezes rindo. Alguém sussurra meu nome. Outros prometem libertação... se eu obedecer.

Não podia viver assim. Vi a espada do Arcanjo Miguel enferrujar diante dos meus olhos. Um líquido espesso e viscoso pingava da lâmina. Sangue escorria do crucifixo. O ícone da Santíssima Trindade — os três anjos me encaravam diretamente na alma.

Trouxe uma marreta à noite. Parei diante da Virgem que chorava e a ergui. O rosto dela mudou. As lágrimas pararam. E, pela primeira vez desde que cheguei — ela sorriu.

Larguei a marreta e corri. Isso foi na semana passada.

Agora, algo está vindo. Eu sinto. A igreja está faminta. À noite, os ícones pulsam. A tinta se move como carne viva. Vejo mãos por trás das superfícies — empurrando, rasgando, tentando se libertar.

Agora entendo o que o monge quis dizer. Eles precisam de uma alma. Uma alma disposta. Alguém para sofrer por eles. Para se tornar um deles. Para se tornar o novo ícone.

Abdiel resistiu, mas cedeu. Não sei se serei mais forte.

Comecei a pintar. Não sei por quê. Apenas olhei para as tintas que Abdiel deixou, e minhas mãos começaram a se mover. Desenho rostos que nunca vi, mas que parecem familiares. Eu não sabia desenhar antes. Agora, o pincel se move sozinho. Alguns dos rostos... parecem o meu.

Vejo meu reflexo no vidro que cobre os ícones. Os olhos não se movem. A boca não corresponde à minha.

Está quase acabando para mim — como foi para Abdiel, e os outros.

Minhas ligações para a polícia não são atendidas. Ninguém responde. Percebi que estou preso aqui. Nunca sairei vivo. Se você algum dia encontrar esta igreja — corra. Nem pense em entrar.

Ninguém merece se tornar parte deste lugar.

Nem mesmo eu.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Retrato de um Navio. Retrato de uma Dama

Tive um sonho em que estava em um porto insular, a bordo de um pequeno navio. Um navio estranhamente antigo. Uma escuna com um timão de marfim e uma figura de proa folheada a ouro, em forma de sino de igreja. As ondas estavam calmas, e eu podia ouvi-las bater suavemente contra o casco de madeira sem emendas, produzindo um tímido tilintar. Ela era magnífica, e seu nome era A Grã-Duquesa. Nenhum navio mais majestoso existira até então. Quando o sol vermelho da manhã iluminava seu lado de bombordo, com seu verniz tão fresco, quase o refletia. Nenhuma peça dela poderia ser substituída, pois ela era única. Prata e marfim adornavam cada centímetro de seu acabamento, com toques de ouro aqui e ali.

Com rostos tristes, mas orgulhosos, toda a tripulação se preparava para uma odisseia, ciente de que seria longa e árdua, como é comum em todas as despedidas amargas. O capitão permanecia estoico ao leme, com a mão repousando sobre o timão dourado, observando sua tripulação trabalhar em silenciosa admiração. Gaivotas pairavam soltas e preguiçosas no ar, e tiras de vela soltas balançavam gentilmente na brisa. Atrás do portão do porto, muitos cidadãos e trabalhadores do cais se reuniam para assistir à partida solene do navio, ainda que brevemente, antes de perderem o interesse e se dispersarem.

Tive esse sonho muitas vezes. Ele só começou depois que vi seu retrato.

As bordas do quadro eram feitas de mogno e prata, tão habilmente construídas que, à primeira vista, pareciam ter sido colocadas ali minutos antes, não fosse pela data fixada nele. Uma placa de metal dourado, gravada com as palavras "Adeus Final de A Grã-Duquesa - 19/01/1810", estava firmemente pregada na parede ao lado. Ela era uma réplica exata dos meus sonhos. Belos traços de tinta a óleo cobriam a tela com movimentos deliberados, que, sem dúvida, davam vida à própria arte. Os detalhes em cada centímetro eram tão minuciosos que, por vezes, poderia ser confundido com uma fotografia. O simples orgulho de possuir tal obra-prima me compeliu a levá-la a uma exposição. Nem todos que viam o retrato entendiam a inscrição, mas aqueles que a compreendiam não conseguiam evitar chorar em silêncio. Alguns compararam a experiência de contemplar o retrato a assistir aqueles que amamos marcharem para a forca.

Isso e mais é o motivo pelo qual agora me recuso a exibi-la. Já era problema suficiente que ela me causasse devaneios vívidos e pesadelos terríveis, mas o fato de ela cativar tantas outras pessoas de tal maneira poderia se tornar perigoso. Era um fardo que eu carregava sozinho. No entanto, não podia evitar me sentir egoísta. Quem sou eu para cobiçar uma peça tão extraordinária? Fui eu ordenado pelo Senhor, ou apenas me investi com o poder incontrolável da arrogância? Enganei-me ao acreditar que eu era o único que poderia possuí-la. Minha revelação me atingiu com força.

Era preciso destruí-la. O feitiço que ela lançava sobre todos que a viam me preocupava mais do que qualquer coisa, após inúmeras noites insones. Eu podia ouvir as ondas rolando logo acima da minha cabeça. Todas as noites começavam iguais: calmas, com um leve splat, splat, splat quase inaudível. O rangido do casco aumentava à medida que as ondas se tornavam mais traiçoeiras, transformando-se de batidas leves em punhos furiosos golpeando cada lado do navio, cheios de uma maldade profana. O quarto se enchia com o fedor pútrido de água salgada e restos secos de peixe, martelando minha cabeça e incrustando meus pulmões. Quando ela atingia seu clímax, eu balançava e tremia, e o quarto rachava e se deformava até que, finalmente, a figura de proa soava. Um aviso de uma onda gigante chegava tarde demais, e um estrondo pesado me trazia de volta à minha cama coberta de suor.

A Grã-Duquesa dorme para sempre no fundo do oceano. Toda sua tripulação, todos os seus passageiros e toda a sua carga nunca chegaram ao destino. Era essa a minha ordenação? Viver sua tragédia noite após noite? Não posso e não vou, mas ela está me chamando agora.

Tive um sonho em que estava no mar aberto. Estava à deriva, de bruços, aterrorizado demais para abrir os olhos. Não precisava vê-la; eu a sentia. Ela era quente como uma maré fresca de verão e reconfortante como o abraço de uma mãe. Seus olhos perfuravam os meus. Quando abri os olhos, vi apenas o abismo negro, sem fundo oceânico, sem cardumes de peixes, apenas um nada puro, absoluto e infinito.

Ela chamou, e eu respondi, mas agora ela quer demais.

Quando encontrarem o que resta de mim e esta carta, façam o que deve ser feito e o que peço. Nada de mim deve permanecer. Nada da casa deve permanecer. Certamente, nada dela. Ela está me chamando novamente.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Não Pegue as Maçãs

Tudo começou de forma tão pequena – eventos que mudam a vida sempre começam assim. Apenas um evento, uma ação, uma escolha, e nada nunca mais foi o mesmo.

Tudo começou, na verdade, como uma piada entre mim e minha mãe. Estávamos voltando para casa de carro um dia, quando eu já era grande o suficiente para sentar no banco da frente, e vimos um balde de maçãs virado no quintal de alguém. Minha mãe riu e disse que parecia que alguém tinha sido abduzido por alienígenas enquanto colhia maçãs.

A partir daí, virou uma piada interna entre nós duas. Sempre que víamos alguém carregando baldes de maçãs ou colhendo maçãs de uma árvore, gritávamos “Não faça isso! É uma armadilha!” enquanto passávamos de carro. Era bobo, inocente e inofensivo.

Até que deixou de ser.

Eu não devia ter mais que treze anos quando aconteceu. Meu primo estava nos visitando no fim de semana – vou chamá-lo de Colby. Ele era um garoto doce, meio desengonçado, alguns meses mais novo que eu, com cabelos cacheados escuros, óculos redondos e hobbies esquisitos o suficiente para ganhar o título de “garoto estranho” na escola. Ele colecionava bolinhas de gude e penas, e podia te contar toda a história da franquia Final Fantasy se você perguntasse. Provavelmente teria sido diagnosticado com autismo se tivesse tido a chance.

Estávamos brincando no quintal da frente, uma mistura de pega-pega com esconde-esconde. Eu passava o tempo todo do lado de fora naquela época. Era quando estar ao ar livre ainda era divertido e eu não vivia ansioso. Antes de eu ter medo da minha própria sombra e a visão de pinheiros não me deixasse nauseado. De repente, Colby parou de correr e apontou: “Você tá vendendo maçãs?”

Segui o dedo dele com os olhos até ver do que ele estava falando. Afastado um pouco da estrada, encostado em um dos grandes pinheiros que ladeavam nossa entrada, havia uma barraquinha de madeira. Parecia frágil, meio inclinada para um lado, como se tivesse sido feita por crianças. Baldes de maçãs estavam posicionados dos dois lados, com mais alguns equilibrados em cadeiras próximas, e uma placa pintada à mão na frente da barraquinha dizia “Maçãs à Venda” em tinta preta borrada e escorrendo.

“Não…?” eu respondi, franzindo a testa. Tínhamos macieiras no nosso quintal – árvores feias, cheias de crostas, provavelmente mais velhas que a casa, que produziam um punhado de maçãs pequenas, machucadas e azedas a cada dois anos. Nada que pudéssemos vender. Todos os vizinhos também tinham macieiras, então por que comprariam as nossas?

Colby riu, e eu não o culpo. A barraquinha estava ali, então, aparentemente, estávamos vendendo maçãs. Essa era a única explicação, certo? Mas, enquanto observava Colby caminhando em direção à barraquinha, as palavras ridículas da minha mãe voltaram à minha mente e me impediram de segui-lo.

*Não faça isso! É uma armadilha!*

Não me lembro se chamei Colby para parar. Quero acreditar que sim – que tentei salvá-lo, mesmo sem saber do que o estava salvando. Quero que seja culpa dele por ter ido até a barraquinha e pegado uma maçã de um dos baldes. Ele ignorou meu aviso, então a culpa é dele, não havia nada mais que eu pudesse fazer. Mas não me lembro se gritei para ele ou se apenas fiquei olhando enquanto ele ia. Olhando enquanto ele caminhava até a barraquinha torta, pegava uma maçã gorda e vermelha – grande demais para ser uma das nossas – de um balde e dava uma mordida, com o suco escorrendo pelo queixo – doce demais para ser uma das nossas.

Ele se virou da barraquinha para me encarar, sorrindo como se tivesse acabado de fazer algo proibido. É assim que escolho me lembrar dele, a imagem do rosto dele que guardo na minha mente. Não a foto rígida e desconfortável da escola que usaram no funeral, mas como ele estava naquele momento. Óculos embaçados tortos no rosto suado e sujo de terra, sorrindo tão largo que o rosto mal conseguia conter. Ele estava de costas para a barraquinha, então não viu o que vinha. Posso não lembrar se gritei para ele, mas lembro o que aconteceu depois.

Parece que tudo aconteceu em câmera lenta, mas não deve ter durado mais que alguns segundos. Assim que Colby se virou da barraquinha, algo se moveu atrás do pinheiro, e uma mão se curvou ao redor do tronco. Não era uma mão humana. Pensando agora, não consigo lembrar exatamente como era – apenas uma forma escura e esguia contra a casca musgosa da árvore – como uma daquelas imagens geradas por IA que são tão embaralhadas que seu cérebro tenta adivinhar o que está vendo, mesmo que seja um absurdo. Meu cérebro classificou aquilo como uma mão, talvez para se poupar de desmoronar sob a pressão do que realmente estava vendo.

Era grande. Grande o suficiente para envolver seus “dedos” disformes ao redor do tronco de Colby e puxá-lo para trás mais rápido do que eu podia piscar. Como uma aranha-caranguejeira arrastando silenciosamente um grilo para sua toca, Colby desapareceu atrás da árvore antes que pudesse gritar. Nem mesmo uma folha se moveu.

Ele ainda estava segurando a maçã.

Fiquei parado, congelado, por um minuto. Não parecia real. Era como se eu tivesse assistido a uma cena assustadora de um filme, vendo tudo pelos olhos de um estranho enquanto o verdadeiro eu estava a quilômetros de distância. Só voltei à realidade quando um gaio-azul gritou de algum lugar escondido nas árvores. Meus olhos ardiam como se eu não tivesse piscado em dias, e meu pai estava na minha frente, me chacoalhando pelos ombros e perguntando o que havia de errado. Ele disse que veio correndo quando me ouviu gritar. Não me lembro de ter gritado, mas minha garganta estava rouca, como se eu tivesse.

Contei a ele que algo atrás da árvore tinha levado Colby. Disse que algo estava escondido atrás da árvore. Pedi para ele não chegar perto das maçãs.

“Que maçãs?”

Olhei por cima dele então, ao redor do corpo dele, para o lugar onde Colby estava poucos segundos antes. A barraquinha de maçãs tinha sumido. Não havia nem uma marca na grama onde ela estivera.

Meu pai chamou a polícia depois disso. Não havia nenhum vestígio de Colby em lugar algum, nem um fio de cabelo, nem um pedaço de roupa, nem sangue. O único sinal de que ele esteve na nossa casa era a jaqueta dele pendurada em um gancho na nossa cozinha. Jeans surrado e um número menor que o dele. Ele nunca usava quando a mãe não estava por perto para obrigá-lo.

Um policial me interrogou. Era um homem jovem, de rosto fresco, mais adequado para ser professor de jardim de infância do que policial. Contei a verdade: algo estava escondido atrás da árvore e levou Colby.

“Por que Colby foi com ele?” o policial perguntou.

“Ele não foi,” eu disse. “A coisa o agarrou e o puxou.”

O policial rabiscou no caderno dele. “Você disse que ele não gritou, no entanto?”

“Não, foi rápido demais.”

Mais rabiscos. “Você viu para onde ele levou Colby?”

“Para trás da árvore.”

“Ele não entrou em um carro?”

“Não! Colby foi até a barraquinha de maçãs, pegou uma maçã, e algo o puxou para trás da árvore!”

“Ele te disse que tinha maçãs?”

Nunca quis tanto bater em alguém quanto naquele momento.

Depois disso, me mandaram para psiquiatras. Pessoas bem-intencionadas que queriam falar sobre meus sentimentos, explicar o que era trauma e me convencer que o que “pensei ter visto” era só minha mente me protegendo do que realmente aconteceu. Não havia barraquinha de maçãs. Não havia monstro alucinante escondido atrás da árvore. Era só um doente que sequestrou Colby e o arrastou para um carro, um galpão ou a casa, e eu precisava lembrar o que realmente aconteceu para que pudessem salvá-lo.

Eu estava atrapalhando a investigação. Eu era a chave para resolver tudo. Eu era o motivo de não encontrarem Colby. Não importava que os cães farejadores seguiram o cheiro de Colby até a árvore e pararam ali – que rosnaram, eriçaram os pelos e correram em círculos ao redor da árvore até caírem de exaustão. A culpa era minha.

Eventualmente, comecei a acreditar neles. Quando adultos suficientes dizem a uma criança assustada que o que ela viu foi só imaginação, é mais fácil concordar. Eles eram profissionais treinados, eram pagos para estar certos sobre esse tipo de coisa.

Meu pai foi preso, mesmo que nunca tenham encontrado Colby, vivo ou morto, e eu me deixei acreditar que foi isso que aconteceu. Minha mãe se divorciou, voltou a usar o nome de solteira, nos mudamos para outro estado onde ninguém nos conhecia, e fizemos o nosso melhor para recomeçar. Colby virou uma lembrança amarga que enfiei no porão da minha mente, só aparecendo em pesadelos por anos, até que até esses começaram a desvanecer.

Eu poderia ter conseguido esquecer completamente, se não fosse pelo que vi hoje e pelo motivo de estar escrevendo tudo isso.

Sou adulto agora, morando sozinho em uma casinha na periferia da cidade, com nada além dos meus bichos de estimação para me fazer companhia.

Quando olhei pela janela para o meu quintal da frente hoje de manhã, vi, afastado um pouco da estrada, encostado em uma das árvores que ladeiam minha entrada, uma barraquinha. É frágil, meio inclinada para um lado, como se tivesse sido feita por crianças, e há baldes de maçãs gordas e vermelhas dos dois lados, além de mais alguns equilibrados em cadeiras próximas. Na frente da barraquinha, há uma placa, pintada à mão com tinta preta borrada e escorrendo: “Maçãs à Venda”.

Tem algo atrás da árvore, não consigo ver, mas sei que está lá. Olhar para a árvore faz meus olhos arderem como se eu não tivesse piscado em dias. Há algo impossível de compreender, algo *Outro*, algo que não pertence aqui. Ou talvez sejamos nós que não pertencemos.

Ninguém passou por aqui ainda, mas, se você passar, se por acaso vir a barraquinha...

Estou implorando – não pegue as maçãs.

domingo, 21 de setembro de 2025

O Espelho

A maioria das memórias da minha infância é meio embaçada, como fotos antigas que ficaram expostas ao sol. Mas essa, essa é afiada como uma navalha, cravada em mim como uma farpa que não sai. Era o verão de 95, numa cidadezinha de Oklahoma, daquele tipo onde o calor grudava na pele como um pano úmido. Nossa casa era um forno, sem ar-condicionado, só um ventilador velho que espalhava o ar quente. À noite, as cigarras gritavam lá fora, e o cheiro oleoso de asfalto quente entrava pelas janelas abertas.

Ricky, meu melhor amigo, morava a três quarteirões dali. A mãe dele, Karla, era o segredo aberto da cidade. As prateleiras dela eram cheias de potes de ervas, velas queimadas até o fim, cartas de tarô espalhadas como folhas secas. Ela chamava isso de bruxaria; os outros chamavam de bobagem. Eu achava fascinante. Ela nunca escondia, encarava os cochichos com um sorriso esperto.

Naquela tarde, Ricky e eu perambulávamos pela cidade pra fugir do calor insuportável de casa. Acabamos numa venda de garagem, um amontoado triste de caixas de papelão e fitas VHS tortas. Foi aí que eu vi, o espelho. Era mais alto que eu, com uma moldura cinza e toda desgastada. O vidro também era estranho, as bordas pareciam cheias de fumaça presa dentro dele. Passei os dedos pela superfície: sem poeira, sem sujeira, só um frio que não fazia sentido em julho.

— Cinco pratas — murmurou a velha que organizava a venda, mal levantando o olhar.

Paguei, pensando que a Karla poderia usar pra vidência, já que a bola de cristal embaçada dela não prestava, como ela mesma admitiu. Arrastando o espelho pra casa, meu suor encharcou a camiseta, o troço era mais pesado do que parecia. Minha ideia era levar pra ela, mas nunca cheguei a fazer isso.

Naquela noite, encostei o espelho numa cadeira no meu quarto, planejando levar no dia seguinte. O ar cheirava a poeira e suor enquanto eu me sentava na cama, me abanando com uma revista *Sports Illustrated* toda amassada. Olhei pro espelho e travei.

Meu cabelo não era o meu.

Eu sempre tive cabelo loiro claro, tão claro que as crianças chamavam de “loiro de bebê”. No espelho, era vermelho acobreado, como ferrugem, como sangue seco. Não era o brilho amarelado da lâmpada. Não era reflexo de sol na pele. Vermelho, vivo, errado.

Levantei, as molas do colchão rangeram. Meu reflexo ficou sentado, me encarando. Coração batendo forte, cheguei mais perto. O ar perto do espelho estava gelado, como uma corrente de ar vinda do nada. Meu reflexo sorriu, mas não como eu. Largo demais. Como se estivesse faminto por algo.

Tropecei pra trás, os joelhos bateram na cama. O reflexo inclinou a cabeça, me olhando como um coiote avaliando a presa. Meu pescoço formigava, o suor ficando gelado. Peguei um cobertor e joguei sobre o espelho, coração martelando enquanto me enfiava debaixo dos lençóis.

Essa foi a primeira noite.

Na manhã seguinte, o cobertor estava dobrado direitinho na cadeira. O espelho estava descoberto, o vidro brilhando. Chequei meu cabelo no espelho do banheiro, ainda loiro, graças a Deus. Mas quando voltei, o cabelo do reflexo era vermelho de novo, e os olhos estavam mais escuros, com olheiras, como se não dormisse há anos.

Disse a mim mesmo que era o calor, desidratação, qualquer coisa. Arrastei o espelho pro porão, enfiando atrás de latas de tinta velhas. Ao anoitecer, ele estava de volta no meu quarto, encostado na cadeira.

Não contei pra ninguém. Nem pra minha mãe, nem pro Ricky. Quem acreditaria num garoto dizendo que seu espelho estava errado?

O reflexo ficou mais ousado. Às vezes, era eu, mas mais afiado, com maçãs do rosto muito marcadas, sorriso largo demais. Outras vezes, mostrava mais.

Numa noite, acordei com silêncio, as cigarras mudas. O relógio do corredor tiquetaqueava como um martelo. No espelho, o Ricky estava deitado aos pés do meu reflexo, uma corda apertada no pescoço, lábios azuis, olhos vidrados. O corpo dele balançava, como se tivesse acabado de ser cortado. Meu reflexo estava lá, sentado de pernas cruzadas, batendo no joelho como se esperasse que eu notasse. Então sorriu, como se exibisse um troféu.

— Não — sussurrei, a voz falhando. — Não, não, não…

O reflexo sorriu mais largo, os olhos brilhando.

Dois dias depois, a Karla encontrou o Ricky pendurado no poste da corda de varal no quintal deles. A polícia chamou de acidente. Eu sabia que não era. O espelho tinha me mostrado.

Olhando pra trás, eu devia ter contado pra alguém, mas quem, caramba, ia me levar a sério?

Naquela manhã, meus tênis estavam sujos de terra, a mesma argila vermelha do quintal do Ricky. Minhas mãos doíam, com marcas leves de corda em volta. Esfreguei até a pele sangrar.

Fui até a Karla, desesperado. A casa dela cheirava a sálvia e cera, os olhos dela inchados de tanto chorar.

— O Ricky já falou alguma coisa sobre um espelho? — perguntei.

Ela balançou a cabeça. Então me encarou por um tempo. — Chris… seu cabelo. Tá mais escuro.

Toquei o couro cabeludo, o coração despencando. No espelho do banheiro dela, meu loiro estava intacto, mas nas raízes, a cor sangrava vermelha. Dei uma risada forçada, murmurei algo sobre a luz e saí correndo.

As visões vieram mais rápido. No espelho, vi a Karla, a pele toda queimada, fumaça enchendo o quarto. Ela não se mexia. Meu tio, esmagado pelo próprio caminhão, sangue se espalhando na terra.

Eu acordava com cinzas sob as unhas, o cheiro de fumaça na camiseta. Ou graxa manchando minhas mãos, óleo de motor nas unhas. Uma semana depois, a casa da Karla pegou fogo. Dias depois, o caminhão do meu tio o esmagou. Nas duas vezes, o espelho me mostrou antes.

Tentei quebrar o espelho. Peguei o martelo do meu pai, bati até faiscarem. A cabeça do martelo rachou. O espelho, não.

Comecei a me amarrar na cama à noite. De manhã, os nós estavam desfeitos, minhas roupas sujas de cinzas ou terra. Um vizinho disse à polícia que me viu andando perto do quintal do Ricky. Jurei que não estive lá. Minha mãe mexia a sopa uma noite, me olhando com aquele olhar que só mães têm.

— Você não tá sendo você mesmo ultimamente, Chris.

A voz dela era suave, mas me deu vontade de gritar. Fiquei olhando pras mãos dela, firmes na colher. Naquela noite, no espelho, essas mesmas mãos estavam escorregadias de sangue.

Pesquisei sobre o passado do espelho. O microfilme da biblioteca trouxe uma notícia: um culto dos anos 1920, membros desaparecendo após “rituais com um vidro amaldiçoado”. A foto mostrava meu espelho; a moldura entalhada com símbolos que pareciam mudar se eu olhasse por muito tempo.

— Cuidado com histórias antigas, garoto — disse a bibliotecária.

Dois dias depois, o obituário dela saiu. Ataque cardíaco, disseram. O espelho me mostrou antes, ela agarrando o peito enquanto meu reflexo ria.

Parei de comer. A comida apodrecia no prato. Cocei os braços até sangrarem. Meu nariz sangrava sem parar, os lençóis manchados de um marrom enferrujado. O zumbido do espelho ficou mais alto, como um diapasão dentro do meu crânio.

Meu cabelo agora era totalmente vermelho acobreado. Meus olhos, escuros como carvão. Minha pele, pálida como osso. Meu reflexo não sorria mais, só encarava, paciente, esperando.

Chegou a noite em que o mundo inteiro ficou parado. Sem cigarras. Sem vento. Só o espelho zumbindo.

O vidro mostrou minha mãe na cozinha, a camisola encharcada de vermelho, a garganta cortada como um segundo sorriso. Meu reflexo estava atrás dela, a faca pingando no azulejo.

Tranquei a porta do quarto, me amarrei com força. Mas quando acordei, estava na cozinha, faca na mão, o corpo da minha mãe estendido aos meus pés. Exatamente como eu tinha visto.

Não lembro de ter saído do quarto.

Sirenes tocaram. O vizinho chamou a polícia por causa dos gritos.

Os policiais arrombaram a porta, armas em punho. — Solta, Chris!

Deixei a faca cair, engasgando, mas quando olhei na janela da viatura, não era eu me encarando de volta. Era a coisa de cabelo vermelho, sorrindo, enquanto meu rosto de verdade batia no vidro do outro lado.

Chamaram de surto psicótico. Agora que penso bem, talvez eu esteja aliviado por não ter contado pra ninguém.

Me colocaram aqui depois disso. Um lugar pra quem “perde o contato com a realidade”. Os corredores fedem a água sanitária, as paredes brancas demais. Tiraram todas as superfícies refletoras, mas eu ainda vejo flashes numa colher ou numa vidraça. Sempre o cabelo vermelho. Sempre o sorriso.

Semana passada, soube que o espelho foi vendido num leilão de evidências. Alguém tá com ele agora, encostado numa cadeira em algum quarto novo.

Quem comprou esse espelho… vai me ver. E, quem sabe… talvez seja burro o suficiente pra me deixar sair.
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Quem sou eu

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon

Na igreja onde trabalho, todos os ícones são amaldiçoados. Estou preso aqui para sempre

Vim trabalhar na Igreja de Santo Anselmo para fugir de tudo. Naquela época, achei que um emprego tranquilo como zelador numa cidade pequena ...