sábado, 23 de novembro de 2024

A Família Perfeita

Tudo começou com os recém-chegados.

Uma família - uma mãe, pai e duas crianças - se mudou para a casa antiga no final da Rua Maple há um mês. Era o tipo de casa que todos evitavam. As pessoas sussurravam sobre os estranhos desaparecimentos que haviam ocorrido lá ao longo dos anos, as luzes estranhas vistas piscando nas janelas muito tempo depois que o lugar havia sido abandonado. Mas quando a família se mudou, os rumores pararam. A casa de repente voltou ao normal, e a vizinhança suspirou aliviada.

Pelo menos, era assim que parecia.

A família - Robert, Claire e seus filhos, Sarah e Lucas - parecia perfeita. Robert era alto, atlético e amigável, sempre disposto a conversar com os vizinhos. Claire era quieta mas gentil, com um jeito de fazer você se sentir à vontade. As crianças eram bem-comportadas, educadas e sempre com as melhores maneiras. Elas não agiam como crianças normais. Não brincavam alto nem corriam por aí. Estavam sempre juntas e sempre um pouco quietas demais.

Notei pela primeira vez quando passei pela casa deles uma noite. Sarah, a menina mais velha, estava parada junto à cerca, olhando fixamente para a rua. Seus olhos estavam bem abertos, sem piscar, como se estivesse observando algo muito distante. Acenei, mas ela não reagiu. Senti um arrepio na espinha, mas ignorei. Era apenas a estranheza de uma nova vizinha.

Mas nas semanas seguintes, o desconforto não passou. Ele cresceu.

A família estava sempre junta. Robert e Claire nunca pareciam ir a lugar algum sem seus filhos. Estavam sempre no quintal, sempre caminhando para o parque, sempre... perfeitos. Mas algo estava errado. Robert nunca parecia dormir. Eu frequentemente o via sentado do lado de fora, olhando para as estrelas por horas, seus olhos sem piscar, sua postura rígida. Era perturbador.

E Claire - ela nunca parecia fazer contato visual de maneira normal. Seu sorriso sempre parecia um pouco largo demais, sua expressão um pouco calma demais. Lembro de vê-la no supermercado uma vez, andando pelo corredor, e por um momento, eu poderia jurar que ela nem estava olhando para as prateleiras. Seu olhar estava fixo em algo muito além do que estava bem na frente dela.

As crianças também eram estranhas. Nunca riam ou brigavam como crianças típicas. Elas brincavam, mas sempre em perfeita sincronia - balançando nos balanços juntas, andando pelo quintal, mas nunca faziam barulho. Era quase como se estivessem fazendo isso por hábito, como marionetes puxando cordas invisíveis.

Uma noite, passei pela casa deles novamente, e desta vez, vi Sarah parada no mesmo lugar perto da cerca, me olhando. Mas ela não estava apenas olhando para mim. Ela estava me observando. Seus olhos pareciam seguir cada movimento meu, e senti um arrepio subir pelas minhas costas.

Quando me virei para desviar o olhar, ouvi sua voz, suave, mal um sussurro, "Você não entende, não é?"

Congelei, coração acelerado. Virei-me rapidamente, mas ela havia sumido. Não havia ninguém no quintal.

Foi então que percebi que algo não estava certo. Algo sempre esteve errado com eles. Mas eu não conseguia identificar o que era.

Os dias se arrastaram. Tentei falar com Sophie, minha esposa, sobre a família, mas ela apenas descartou. "Você está pensando demais, querido," ela disse. "Eles são apenas novos vizinhos."

Mas eu não conseguia me livrar da sensação de que algo estava terrivelmente errado. Toda vez que os via, me sentia observado - como se algo estivesse esperando que eu notasse. Quanto mais tempo eles ficavam, mais inquietante se tornava.

Então, uma noite, recebi uma visita.

Era tarde, depois da meia-noite, quando ouvi a batida na minha porta. Eu não estava esperando ninguém, e Sophie ainda estava trabalhando até tarde. Hesitei por um momento, mas a curiosidade venceu. Abri a porta, e lá estava Claire, segurando uma cesta de pão recém-assado.

"Pensei que você pudesse gostar," ela disse, sua voz suave demais, macia demais. "É caseiro."

Sorri, tentando esconder meu desconforto. "Obrigado. É muito gentil da sua parte."

Ela me entregou a cesta, e notei seus olhos - calmos demais, intensos demais. Olhei para o pão em minhas mãos, sentindo uma pressão estranha no ar.

"Está tudo bem?" perguntei, quase sem pensar.

Claire inclinou levemente a cabeça, seu olhar nunca deixando o meu. "Sim," ela disse suavemente, mas o sorriso não chegava aos seus olhos. "Tudo está perfeito."

Houve um silêncio constrangedor, e me forcei a desviar o olhar. "Obrigado novamente. Vou deixar você voltar para dentro," disse rapidamente, tentando fechar a porta.

Mas ela não se moveu. Seu sorriso não vacilou. "Nós temos observado você," ela disse, sua voz mal passando de um sussurro.

Congelei. Meu coração martelava no peito. Me observando?

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela recuou para as sombras, desaparecendo na escuridão. Fechei a porta e tranquei-a imediatamente. Minhas mãos tremiam enquanto eu ficava ali, a cesta ainda em minhas mãos.

Que diabos ela quis dizer com "nós temos observado você"?

No dia seguinte, fui até a casa para confrontar Claire. Eu precisava de respostas. Mas quando bati na porta, não houve resposta. Tentei novamente, mas a casa permaneceu silenciosa. Espiei pela janela, mas as persianas estavam fechadas.

Foi então que notei algo estranho: as janelas não estavam apenas escuras. Estavam vazias. Sem móveis, sem sinais de vida - nada.

Dei um passo para trás, confuso, meu pulso acelerado. Para onde eles tinham ido?

Tentei afastar o pavor crescente que subia pela minha espinha. Mas quando me virei para ir embora, ouvi - o som de alguém sussurrando, logo atrás de mim. Girei, mas não havia ninguém lá. Apenas a casa vazia me encarando de volta.

Na manhã seguinte, acordei e encontrei uma mensagem no meu celular. Sem identificação de chamada, apenas um texto:

"Você faz parte do jogo agora. Venha nos encontrar."

Meu sangue gelou.

Tentei ligar para Sophie, mas ela não atendeu. Corri para fora, em pânico, e olhei para a casa no final da rua. Ainda estava vazia. Mas algo estava errado. O ar parecia pesado, e eu podia sentir - eles estavam me observando.

Nesse momento, ouvi passos atrás de mim. Virei-me, esperando ver Sophie ou um vizinho, mas em vez disso, não havia nada. Apenas a quietude da rua.

Então, o sussurro veio novamente, mas desta vez estava mais alto, mais claro:

"Você nunca deveria ter perguntado."

Girei, coração batendo forte no peito. Mas a rua estava vazia. A casa estava vazia. E ainda assim, eu sabia - eles ainda estavam lá fora. Observando, esperando.

E agora eu fazia parte do jogo deles.

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa história de terror é arrepiante e cheia de mistério. A forma como a família recém-chegada se comporta de maneira tão estranha e perturbadora é assustadora. A atmosfera de suspense e a sensação de ser observado são muito bem construídas, e tornam a narrativa ainda mais angustiante. O final aberto deixa espaço para a imaginação do leitor, criando um senso de inquietação duradoura. Certamente é uma história que faz a pele arrepiar e os nervos ficarem à flor da pele.

Flora disse...

Este conto de terror apresenta diversos elementos clássicos do gênero, como:

1. A casa assombrada/maldita: A casa no final da rua Maple tinha um histórico de desaparecimentos e luzes estranhas, sendo evitada pelos moradores. Isso cria um ambiente de mistério e medo.

2. A família estranha: A nova família que se muda para a casa - Robert, Claire e seus filhos Sarah e Lucas - têm comportamentos e maneirismos muito incomuns, o que desperta a desconfiança e o desconforto do narrador.

3. A sensação de ser observado: O narrador tem a constante sensação de que está sendo observado pela família, criando uma tensão e paranoia crescentes.

4. O sobrenatural/desaparecimento: Quando o narrador vai confrontar a família, a casa está completamente vazia, sem móveis ou sinais de vida. Isso é ainda mais perturbador.

5. A ameaça/jogo: Ao final, o narrador recebe uma misteriosa mensagem dizendo que agora ele faz parte do "jogo" deles, evidenciando que algo sinistro está por vir.

Essa combinação de elementos clássicos do terror - a casa assombrada, a família perturbadora, a sensação de vigilância e a ameaça do sobrenatural - cria um ambiente denso e inquietante, que deixa o leitor com um sentimento de medo e ansiedade em relação ao desfecho da história. Resumindo tudo: amei pra caramba

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon