Nos primeiros dias, parecia uma mudança bem-vinda. Eu desfrutava da solidão, das manhãs tranquilas, das noites pacíficas. Era o tipo de calma que sempre desejei. Mas conforme os dias se transformaram em semanas, comecei a sentir a ausência de algo – ou talvez alguém. Não tive visitantes, não tive companhia, e logo a quietude começou a parecer sufocante. Pensei que ficaria bem, que poderia me virar sozinho. Mas não era tão simples.
Certa noite, sentindo-me inquieto, decidi olhar algumas fotos antigas no meu celular. Eu costumava fazer isso quando me sentia solitário, olhando fotos de férias, reuniões familiares e velhas memórias que me faziam sentir conectado a algo maior do que este apartamento vazio. Enquanto estava rolando, encontrei uma foto que me parou em seco. Era uma imagem de mim, dormindo.
Eu não lembrava de ter tirado essa foto. Podia perceber que era recente, a qualidade da imagem estava clara, a iluminação do meu quarto exatamente como era. Meu rosto estava relaxado, pacífico, quase sereno, mas o que mais me impressionou foi quão perfeitamente o ângulo estava enquadrado. Não parecia um selfie típico ou uma foto espontânea tirada por um amigo. Não, isso foi tirado à distância, como se o fotógrafo estivesse me observando cuidadosamente enquanto eu dormia.
A coisa estranha era que eu tinha certeza de que estava sozinho. Ninguém tinha visitado, e eu não tinha convidado ninguém. Eu moro no terceiro andar do prédio, longe da rua, sem que ninguém tivesse fácil acesso ao meu apartamento. Olhei ao redor do meu apartamento, tentando me tranquilizar de que era apenas uma coincidência estranha, talvez um deslize de dedo enquanto a câmera estava ligada. Mas o pensamento não se acomodou. Eu podia sentir meu coração acelerar enquanto uma sensação de afundamento tomava conta de mim.
Alguém esteve no meu apartamento enquanto eu dormia? Quanto mais eu pensava sobre isso, mais não fazia sentido. Sempre tranco as portas antes de dormir. Nunca ouvi nenhum som, nenhuma porta rangendo, nenhum passo ecoando pelo corredor. Como alguém poderia ter estado aqui sem que eu soubesse? A foto era inquietante em seu silêncio, como uma observação silenciosa.
Comecei a pensar nas últimas noites. Alguém poderia ter me observado? Eu poderia ter perdido algo? Eu não conseguia nem lembrar a última vez que me senti completamente à vontade aqui. Cada vez que ia para a cama, era com uma vaga sensação de que algo não estava certo, de que eu estava sendo observado, mas tinha descartado isso como paranoia. Mas agora, com essa foto me encarando, a possibilidade parecia real demais para ser ignorada.
Eu não conseguia parar de me perguntar—quem tirou essa foto? Por quê? Foi uma simples brincadeira, ou havia algo mais por trás disso? O pensamento perturbador me consumia. Tentei me convencer de que era apenas minha mente pregando peças, mas no fundo, sabia que isso não era algo que eu pudesse simplesmente ignorar.
Eu estive sozinho por tanto tempo, mas agora, aquele silêncio parecia uma mentira. O silêncio não era pacífico; ele estava escondendo algo. Alguém esteve no meu apartamento quando eu pensei que estava sozinho. E de alguma forma, eles tiraram uma foto enquanto eu dormia, sem meu conhecimento.
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