sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Encontrei um diário pertencente ao meu tataravô. É a coisa mais aterrorizante que já li...

Para contextualizar, sou um estudante de história de 23 anos numa faculdade de uma pequena cidade nos Estados Unidos. Adoro aprender sobre história, especificamente guerras. Meu avô faleceu recentemente após uma longa batalha contra leucemia em estágio IV. Éramos muito próximos. Ele costumava me contar histórias sobre suas experiências de combate no Vietnã. Alguns dias depois, recebi um pacote de seu espólio. "Caro Sr. Thompson. Em anexo estão alguns itens que seu avô queria que você tivesse." Abri o pacote revelando um diário encadernado em couro e uma placa de identificação da época da Primeira Guerra Mundial. Abri a carta que acompanhava os itens. "Jack. Isto é algo que nunca te contei pelo seu próprio bem. Vovô." Respirei fundo e abri o diário.

Diário do Soldado James Holden, 2º Batalhão, Frente Ocidental

5 de outubro de 1917
Dizem que a guerra terminará em breve. Já ouvi essa mentira antes, mas escrevo isso aqui por uma questão de esperança. A trincheira continua a mesma - lama até os joelhos, ratos engordando com os mortos e o constante fedor de decomposição.

Esta noite, a névoa ficou mais densa do que já vi. O Cabo Davies jura que viu algo se movendo na terra de ninguém. Rimos disso, mas ele não deixou pra lá. Não o culpo. O silêncio parece... errado. Até as armas parecem hesitantes.

16 de outubro de 1917
Algo aconteceu. Mal consigo segurar a caneta, minhas mãos estão tremendo tanto.

Willoughby - jovem rapaz, recém-saído do treinamento - desapareceu durante a noite. Ele estava de vigia comigo quando de repente largou seu rifle e saiu da trincheira. Não disse nada, apenas desapareceu na névoa. Chamamos por ele, mas não respondeu.

Horas depois, ele voltou. Só que não era ele. Não realmente. Seu uniforme estava rasgado e sua pele cinzenta como cinzas. Quando sorriu, não era um sorriso humano - era largo demais, antinatural demais.

Atiramos nele. Deus nos ajude, não tivemos escolha. Mas mesmo depois das balas, ele continuou se movendo. Foi preciso uma baioneta no peito para detê-lo.

Enterramos ele pouco antes do amanhecer. Sem orações, sem cerimônia. Nenhum de nós conseguia olhar para o túmulo por muito tempo.

19 de outubro de 1917
Os sussurros começaram na noite passada. Pensei que fosse o vento no início, mas não... são vozes.

Davies afirma que estão falando com ele, chamando seu nome. Diz que pode ouvir a voz de sua mãe, pedindo para ele voltar para casa. Eu disse que é a guerra pregando peças, mas não estou tão certo. Também ouvi algo - minha irmã, Mary, que morreu há anos.

Os homens estão tensos. Alguns não falam. Outros não dormem. Temo o que a noite trará.

24 de outubro de 1917
Estamos amaldiçoados. Não há outra palavra para isso.

Davies tentou partir. Encontramos ele na borda da trincheira, olhando fixamente para a névoa. Lutou quando o puxamos de volta, gritando sobre "a luz" e "as vozes". Foram necessários três de nós para contê-lo.

Pela manhã, estava morto. Seu corpo frio como gelo, sua pele pálida como a própria morte. Enterramos ele ao lado de Willoughby.

Os sussurros ficam mais altos. Juro que vi formas se movendo na névoa, mas toda vez que olhava, desapareciam.

29 de outubro de 1917
Mais um se foi. Pritchard desta vez. Ele caminhou para a névoa como Willoughby fez. Quando encontramos seu corpo, estava coberto de gelo.

Os sussurros são constantes agora. Eles chamam meu nome. Eles riem.

Sonhei com minha família na noite passada. Eles estavam na terra de ninguém, seus rostos contorcidos em sorrisos horríveis. Acordei gritando.

A névoa não levanta mais. Dia e noite, nos cerca. Parei de contar quantos homens perdemos.

30 de outubro de 1917
Ninguém resta. Só eu.

A trincheira está silenciosa, exceto pelos sussurros. Estão mais altos do que nunca, e agora estão dentro da minha cabeça. Vejo os rostos dos homens que morreram, seus olhos vazios me observando da névoa.

Não sei quanto tempo posso aguentar. Minhas mãos estão dormentes, minha respiração embaça no ar. O frio penetra meus ossos.

Eles estão me chamando.

Acho que vou ir.

Fechei o diário, minhas pupilas dilatadas e respiração rápida enquanto meu coração quase explodia do peito. Não deveria ser possível. Não fazia sentido! Fui até a janela para olhar lá fora. Havia uma névoa densa se aproximando, comum para esta época do ano. Meus olhos procuraram ao redor, então se arregalaram quando vi algo que gelou meu sangue. Era o Vovô. Parado ali em seu uniforme de combate com um sorriso largo demais no rosto. Sua pele estava cinzenta e ele estava murmurando algo. Eu mal conseguia distinguir através da névoa.

"Junte-se a mim."

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