quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Eu era um Deus cativo

Eu era um deus cativo por quase uma década. Era uma existência obscura e solitária, preso dentro dos confins de um antigo santuário abandonado. Eu costumava ser um deus dos sonhos e da imaginação, adorado e temido pelas pessoas que me chamavam de Morpheus.

Há muito tempo, um grupo de fanáticos descobriu a existência de um poderoso ser capaz de manipular os sonhos e alimentar os piores pesadelos do ser humano. Eles acreditavam que, ao me prenderem, poderiam usufruir desse poder e governar sobre a mente das pessoas. Por isso, me capturaram e me trancaram em um lugar escuro e sinistro.

A medida que os anos passavam, minha presença era cada vez mais esquecida pelo mundo exterior. A poeira acumulava-se no santuário, as teias de aranha se multiplicavam e o medo que antes imperava se transformou em silêncio e esquecimento. Eu era apenas um Deus cativo, sem adoradores ou rituais para me manter vivo.

No entanto, o santuário era um lugar cheio de energia espiritual negativa, e essa energia alimentava minha existência. À medida que os pesadelos do mundo exterior aumentavam, minha força também crescia. Eu me tornei um ser poderoso, mas minha liberdade continuava ilusória.

Eu podia sentir os pensamentos inquietos daqueles que se aventuravam a entrar no santuário abandonado. Eles eram atraídos pela promessa de poder e riquezas, mas não entendiam o preço que teriam que pagar por isso. Eu os observava cuidadosamente e aguardava o momento certo para agir.

A escuridão do santuário era perturbadora. O som das correntes enferrujadas balançando ao vento ecoava pelos corredores sombrios. À medida que os intrusos se aproximavam, suas vozes se enchiam de puro terror. Eles viam coisas que não existiam, ouviam sussurros em seus ouvidos e sentiam uma presença maligna ao seu redor.

Com o tempo, percebi que estava me divertindo com o desespero e o medo deles. Eu me alimentava do terror que emanava de suas almas. Quanto mais medo eles sentiam, mais poder eu ganhava e mais próximo eu ficava de me libertar.

Um dia, chegou um grupo de quatro pessoas corajosas o suficiente para enfrentar o desconhecido do santuário. Eles tinham ouvido histórias assustadoras sobre o lugar, mas a ganância e a curiosidade os impulsionaram a entrar. Eles nunca poderiam imaginar o que os esperava.

Conforme eles se aventuravam pelos corredores sombrios, suas convicções desapareciam lentamente. Eles sentiam uma pressão em seus peitos, uma sensação de asfixia. Os sussurros se transformaram em murmúrios angustiantes e os sonhos se tornaram pesadelos vivos.

Eu me deleitava nas almas atormentadas desses intrusos. Cada grito, cada lágrima era alimento para minha existência. Eu sentia minha força aumentar a cada instante.

No entanto, algo inesperado aconteceu. Um dos intrusos, uma mulher corajosa de olhos cheios de determinação, conseguiu me ver. Nunca antes isso havia acontecido. Algo nela permitiu que ela visse minha verdadeira forma, uma figura espectral de sombras e pesadelos.

Ela olhou diretamente nos meus olhos vazios e disse com voz firme: "Morphus, eu sei o que você é. E eu vim aqui para te libertar."

Eu fiquei surpreso, nunca imaginei que alguém pudesse me enxergar dessa maneira. Mas havia algo naquela mulher que desafiava minha existência. Ela parecia imune ao medo que tanto me alimentava.

Com sua determinação, ela desfez os encantamentos que me prendiam. A corrente que segurava minha essência se desfez e eu pude finalmente deixar o santuário abandonado.

Desde então, percorro o mundo alimentando-me dos pesadelos das pessoas, mas a mulher corajosa continua ao meu lado. Ela me mantém sob controle, impedindo que eu me torne um ser maléfico e dominante.

Eu era um deus cativo por quase uma década, mas agora sou livre. Liberto pelos desejos de poder e curiosidade humana, continuo existindo, mas aprendi que minha liberdade carrega um preço alto. E agora, eu sou mais do que um Deus cativo, sou um Deus em busca da redenção.

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon