No extremo norte, no deserto, em uma pequena cabana com minha avó e meu irmão Daniel. Lá, no verão, lembro que eu e meu irmão brincávamos na encosta mais próxima a leste da casa, perto do mato perto de nossa casa, cercados por árvores altas que pareciam sussurrar segredos a cada farfalhar de suas folhas. Mal sabíamos que esses sussurros logo se transformariam em gritos.
Os moradores locais nos alertaram sobre o Homem Cego, um serial killer que supostamente vagava pelo vale, atacando vítimas inocentes sob o manto da escuridão. Falavam de seus olhos vazios, desprovidos de visão, mas cheios de uma fome insaciável de sangue.
No início, descartámos os seus avisos como nada mais do que folclore local, mas à medida que ocorrências estranhas começaram a atormentar os nossos dias e noites, não podíamos ignorar a sensação de que algo sinistro se escondia nas sombras.
Tudo começou com sussurros ecoando pelas árvores, fracos no início, mas ficando mais altos e sinistros a cada dia que passava. Meu irmão e eu acordávamos na calada da noite ao som de passos do lado de fora da nossa janela, apenas para não encontrarmos ninguém lá quando ousamos olhar.
Depois vieram os pesadelos - visões vívidas e assustadoras de uma figura envolta na escuridão, com os olhos tão negros quanto o vazio, estendendo a mão para nos arrastar para o abismo. Acordávamos suando frio, com o coração batendo forte no peito, incapazes de nos livrar da sensação de pavor que pairava sobre nós como uma mortalha.
Mas o pior ainda estava por vir.
Numa noite fatídica, ouvimos o som inconfundível de uma luta vindo das profundezas da floresta. Contrariando o nosso melhor julgamento, aventuramo-nos na escuridão, seguindo os gritos desesperados de ajuda que ecoavam por entre as árvores.
O que descobrimos ainda me assombra até hoje: uma cena horrível banhada pelo luar, os corpos sem vida das vítimas do Cego espalhados pelo chão da floresta como bonecas descartadas. E ali, escondido nas sombras, estava o próprio Cego, os olhos fixos em nós com uma intensidade que nos causava arrepios na espinha.
Fugimos, correndo mais rápido do que imaginávamos ser possível, os ecos de sua risada nos seguindo durante a noite. De alguma forma, conseguimos voltar para a segurança de nossa casa, mas o terror daquele encontro permaneceria conosco por muito tempo depois de deixarmos o vale para trás.
Até hoje não consigo afastar a sensação de que o Cego ainda está por aí, esperando na escuridão, com os olhos vazios observando, esperando pela próxima vítima.
Portanto, para quem se atreve a se aventurar no vale das árvores, cuidado com a lenda do Cego. Pois na escuridão, onde os sussurros ficam mais altos e as sombras ganham vida, há horrores além da imaginação esperando para reivindicar suas presas.
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