Quando as aulas começaram, eu ficava sozinho, sentando em uma área isolada dentro da escola, perto da cafeteria, antes do sinal tocar. Eu não conhecia ninguém, então pensei, por que não? Cerca de duas semanas depois, notei algo. Numa segunda-feira de manhã, alguém havia desenhado um rabisco na parede ao lado da minha cadeira. Ao lado do rabisco, havia um balão de fala, como em um gibi. Simplesmente dizia: “Olá!”
O rabisco era básico: uma cabeça circular com olhos pretos e um grande sorriso sem dentes, braços de pau acenando. Achei que seria engraçado responder, então peguei um marcador e escrevi: “Olá!” Foi só isso.
No dia seguinte, voltei para o meu lugar e, para minha surpresa, alguém havia respondido. Estava escrito: “Prazer em te conhecer! Qual é o seu nome?” Estranhamente, não havia vestígios da minha escrita anterior. Escrevi meu nome, e assim começou nossa correspondência. A pessoa fazia perguntas básicas, e eu respondia. Sempre que eu perguntava algo sobre ela, simplesmente escrevia: “Sou seu amigo!” O desenho em si mudava ligeiramente a cada vez – às vezes um joinha, às vezes uma piscadela. Eu estava impressionado com a limpeza do desenho toda vez. Pensei que talvez o zelador estivesse escrevendo para mim e pintando a parede para responder.
Na segunda-feira seguinte, as coisas ficaram estranhas. Naquela manhã, o desenho não estava sorrindo. Tinha sobrancelhas zangadas e as mãos nos quadris. O texto dizia: “Onde você estava?” Isso me pegou de surpresa. Essa pessoa voltou no fim de semana para continuar falando? Respondi: “Foi o fim de semana! WTF?”
No almoço, decidi comer no meu lugar. Olhei para o desenho, esperando que tivesse o mesmo texto da manhã, mas tinha mudado novamente. Estava escrito: “Não me deixe de novo! Amigos não deixam amigos!” Achei que quem estava escrevendo para mim estava brincando ou levando isso a sério demais. Respondi: “Adeus,” com uma carinha triste. Foi a última vez que respondi.
Evitei aquela área por irritação, esperando que o artista entendesse a dica. Fiz alguns amigos e comecei a passar o tempo com eles pela manhã. Depois de algumas semanas, quase esqueci do desenho. Mas então, ele voltou.
Uma manhã, abri meu armário e o encontrei completamente revirado. Na parede de trás do armário estava aquele maldito desenho, mais detalhado desta vez, com olhos lacrimejantes. O texto dizia: “Por que você me deixou? Nós éramos amigos.” Quem quer que fosse tinha ido longe demais.
Contei aos meus novos amigos, e eles quiseram ver. Quando abri meu armário, tudo estava limpo. Eles acharam que eu estava brincando com eles. Mas eu estava assustado. Como eles fizeram isso? Peguei tudo do meu armário e nunca mais o usei.
Na semana seguinte, na segunda aula, fiquei com medo. Entrei na sala para ver os alunos reunidos ao redor da minha mesa, falando freneticamente. Alguém havia rabiscado em toda a minha mesa: “Você é um péssimo amigo!” No meio da mesa, havia uma barata esmagada. A forma como foi morta fazia parecer o desenho.
Falei com minha professora e contei tudo a ela. Ela pediu para eu mostrar o desenho, mas ele havia desaparecido de todos os lugares onde esteve. Eu me senti um esquisito.
As pessoas superaram o incidente da mesa depois de alguns dias, e eu mantive a cabeça baixa. Meus amigos foram uma boa distração enquanto brincávamos e falávamos sobre anime. Nunca mais mencionei o desenho a eles.
Várias semanas se passaram sem incidentes. Achei que tinha acabado. Mas houve mais um encontro. Durante a quarta aula, fui ao banheiro. Ninguém mais estava lá. Quando fechei a porta do boxe, lá estava ele de novo. Desta vez, o desenho estava mais detalhado, gritando e se arranhando. As palavras “Eu vou te matar!” estavam rabiscadas por toda a porta.
Já tinha tido o suficiente. Peguei papel higiênico e tentei limpar. A mancha ficou vermelha, como sangue. Não importava o quanto eu esfregasse, a tinta vermelha permanecia. Parecia que eu estava espalhando sangue por toda a porta. Minha mão estava coberta de tinta vermelha.
Corri para a pia, mas quanto mais água e sabão eu usava, maior a mancha vermelha ficava. Parecia que minha mão estava sangrando. Peguei uma toalha de papel, mas ela apenas ficou manchada. A mancha me fez correr para casa. A toalha de papel tinha o rosto gritando do desenho em tinta vermelha.
Demorei muito para limpar completamente as mãos. Passei a odiar ir à escola. Todos os dias, eu tinha medo do que poderia encontrar. O banheiro não mostrava nenhum sinal de tinta, vermelha ou preta. Mas um dia, na minha mesa da segunda aula, havia um bilhete no canto: “Desculpe... adeus,” com um pequeno coração partido ao lado. Esse foi o último bilhete que recebi do meu misterioso correspondente.
No início do semestre seguinte, vi outro aluno escrevendo algo na parede onde eu costumava sentar. Era meu perseguidor? Fui confrontá-lo, mas então vi o desenho, exatamente como era. Ele estava respondendo a ele. Eu não queria nada com isso, então saí. Três semanas depois, aquele garoto foi dado como desaparecido. Ele simplesmente desapareceu um dia.
Uma manhã, caminhando para a primeira aula, parei para amarrar meu sapato perto do meu antigo lugar. Olhei para a parede. O desenho estava lá, mas com outro ao lado. Cheguei mais perto e pensei: “Isso parece o cara desaparecido.” O segundo desenho estava gritando. O texto acima deles dizia: “Você quer ser nosso amigo?”
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