Curioso, limpei a poeira da velha fita cassete e a coloquei no toca-fitas. Um zumbido baixo e arranhado encheu o estúdio antes que a voz de um apresentador há muito esquecido surgisse, discutindo uma série de desaparecimentos misteriosos em uma pequena cidade próxima. Intrigado pela natureza assustadora do conteúdo, decidi apresentar a fita no meu programa noturno, "Mistérios Místicos".
Quando o relógio bateu meia-noite, introduzi o segmento, estabelecendo o tom sombrio para meus ouvintes. "Esta noite, vamos mergulhar em um mistério do passado, um relato arrepiante de desaparecimentos que aterrorizou uma cidade. Esta é uma transmissão de 17 de agosto de 1985, que nunca foi ao ar... até agora."
Apertei o play, e a voz assombrosa do antigo apresentador ecoou pelo estúdio e através das ondas do rádio. "A cidade de Hollow foi atormentada por desaparecimentos inexplicáveis. Um a um, os moradores desaparecem sem deixar rastro, deixando apenas sussurros de sons estranhos e sombras fugazes."
Enquanto a fita tocava, notei uma distorção estranha no áudio, um leve ruído de fundo que parecia uma mistura de estática e sussurros distantes. Ajustei os controles, mas o som estranho persistia. Chamadas começaram a chegar de ouvintes, todos relatando a mesma coisa—ruídos inquietantes e visões assustadoras que pareciam emanar de seus rádios.
A princípio, descartei como imaginação coletiva, talvez influenciada pelo conteúdo assustador da transmissão. Mas então, eu mesmo vi—a figura sombria refletida na janela do estúdio, ali um momento, desaparecida no próximo. O pânico começou a se instalar quando percebi que o que quer que estivesse na fita era mais do que apenas uma gravação; era algo vivo, algo maligno.
O apresentador na fita continuou, relatando o desaparecimento de uma família inteira. "Os Johnsons foram vistos pela última vez entrando em sua casa, mas de manhã, eles haviam desaparecido. Os vizinhos relataram ouvir cânticos estranhos e ver luzes piscando na floresta atrás de sua casa."
Senti um frio na espinha quando as luzes do estúdio começaram a piscar. Desesperado, tentei parar a fita, mas os controles não respondiam. Era como se o equipamento tivesse vontade própria, determinado a tocar a gravação até o fim. Os sussurros ficaram mais altos, mais insistentes, e a sombra na janela reapareceu, desta vez mais perto.
Lutando contra o terror crescente, peguei o microfone. "Se alguém estiver ouvindo, desligue seus rádios agora. Há algo errado com esta transmissão." Mas era tarde demais. Minha voz foi abafada por uma cacofonia de sussurros e estática, e a fita continuava a rolar.
"O padre da cidade acreditava que os desaparecimentos eram obra de um espírito vingativo, despertado por um túmulo profanado. Ele realizou um exorcismo, mas a entidade só ficou mais forte, alimentando-se do medo que criava."
A sombra se moveu pelo estúdio, uma massa amorfa de escuridão que parecia pulsar com energia maligna. Eu podia senti-la me observando, aproximando-se a cada segundo que passava. A temperatura caiu, e eu podia ver meu hálito se condensando no ar frio.
Em uma tentativa desesperada de acabar com a transmissão, arranquei a fita do toca-fitas, mas os sussurros continuaram, agora emanando das próprias paredes do estúdio. A sombra pairava sobre mim, uma sensação tangível de pavor pressionando meu peito. Ela falou com uma voz que era um coro de agonia e desespero: "Você abriu a porta, e agora deve pagar o preço."
Minha visão ficou turva, e senti-me sendo puxado para a escuridão. Reunindo todas as minhas forças, consegui pegar uma cadeira de metal e a arremessei contra a janela, quebrando o vidro. O ar frio da noite entrou, quebrando o domínio da entidade por um breve momento. Cambaleei para fora do estúdio, os sussurros enfraquecendo à medida que me afastava da fita amaldiçoada.
A estação de rádio foi fechada no dia seguinte, oficialmente devido a "dificuldades técnicas". Mas eu sabia a verdade. A fita havia libertado algo terrível, algo que deveria ter permanecido enterrado. Deixei a cidade, abandonando minha carreira no rádio, assombrado pelo conhecimento de que o espírito ainda poderia estar lá fora, esperando por sua próxima vítima.
Para quem encontrar a fita marcada "17 de agosto de 1985," eu imploro—destrua-a. Não ouça os sussurros. Não deixe a escuridão entrar. Alguns mistérios são melhores se forem deixados sem solução.
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