domingo, 5 de novembro de 2023

O Espelho

Nunca esquecerei a noite em que fiquei sozinho em casa. Era uma noite tempestuosa, e meus pais relutantemente foram atender a uma emergência familiar, deixando-me em nossa velha casa rangente. Eu tinha 16 anos na época, idade suficiente para ser responsável, ou pelo menos era o que eles pensavam.

À medida que a chuva batia nas janelas e o vento uivava, a casa parecia ganhar vida com sons estranhos. Eu ignorei o desconforto, me tranquilizando que estava apenas sendo paranoico. Decidi me distrair assistindo TV e tentando abafar os ruídos inquietantes.

Horas se passaram, e a tempestade não dava sinais de diminuir. Justo quando eu começava a sentir um certo conforto, ouvi passos no corredor do lado de fora do meu quarto. Meu coração disparou, e silenciei a TV, forçando-me a ouvir. Os passos eram lentos e deliberados, como se alguém estivesse andando na ponta dos pés.

Aterrorizado, peguei um livro pesado na minha mesa de cabeceira e abri a porta lentamente, olhando para o corredor fracamente iluminado. Não vi nada além do leve brilho da luz do corredor. Com um fôlego trêmulo, saí para procurar a origem do ruído inquietante.

Os passos me levaram à porta do sótão. Estava entreaberta e uma luz pálida e doentia escapava da fresta. Eu sabia que precisava investigar, meu medo sobrepujando o bom senso. Subi as estreitas e rangentes escadas para o sótão.

Dentro, o quarto estava cheio de pertences antigos e memórias esquecidas. Teias de aranha grudavam nos cantos, e o ar estava carregado de poeira. Mas o mais estranho era o espelho antigo e rachado no fundo do quarto. Minha reflexão no espelho parecia diferente, distorcida, como se estivesse zombando de mim.

Eu não conseguia desviar o olhar do espelho, e enquanto eu o encarava, a reflexão sorriu maliciosamente. Meu coração martelava no peito quando percebi que o espelho abrigava algo maligno. De repente, o vidro se quebrou e fui lançado na escuridão.

Em pânico, procurei meu celular e usei sua fraca luz para encontrar o caminho para fora. Enquanto descia do sótão, podia ouvir sussurros ao meu redor, como vozes de outro mundo. Eles eram assustadores, ininteligíveis, e eu sentia que estava perdendo a sanidade.

Tranquei-me no meu quarto, esperando que o pesadelo terminasse. A tempestade continuou e os sussurros persistiram, ficando mais altos e insistentes. Era como se a própria casa estivesse tentando me consumir.

Horas depois, meus pais finalmente voltaram, e no momento em que entraram, o assombro cessou. Eu lhes contei sobre o espelho, os passos e os sussurros sinistros, mas eles descartaram tudo como minha imaginação.

Até hoje, não tenho certeza do que aconteceu naquela noite, mas sei que nunca mais me sentirei à vontade naquela velha casa rangente. A experiência me deixou com um medo assombrado de estar sozinho no escuro, com a lembrança da presença maligna no sótão e os sussurros sombrios, eternamente gravados em minha mente.

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon