Enquanto os relâmpagos riscavam o céu, subi as escadas rangentes até o sótão, meu coração batendo forte com uma mistura de excitação e medo. A porta rangeu ao ser empurrada para o lado, revelando um quarto fracamente iluminado cheio de caixas e teias de aranha. O ar estava denso com o cheiro de naftalina e decomposição, e um arrepio percorreu minha espinha ao atravessar o limiar.
Meus olhos vasculharam o quarto, procurando algo, qualquer coisa, que pudesse me interessar. E então eu vi, escondida em um canto sob uma pilha de cobertores velhos: uma boneca. Era diferente de qualquer boneca que eu já tinha visto antes, sua pele de porcelana rachada e desbotada, seus olhos de vidro encarando sem expressão na escuridão.
Ignorando a sensação de mal-estar que se apossava de mim, fui até a boneca e a peguei, embalando-a nos meus braços como uma amiga perdida há muito tempo. Havia algo nela que me atraía, algo que parecia estranhamente familiar e totalmente alienígena ao mesmo tempo.
Ao examinar a boneca mais de perto, notei que seus traços eram surpreendentemente realistas. Seus olhos pareciam seguir-me para onde quer que eu fosse, e seus lábios estavam congelados em um sorriso perpétuo que me arrepiava.
E então, para minha horrorizada, a boneca piscou.
Eu congelei, meu coração batendo forte no peito. Bonecas não piscavam. Bonecas não se mexiam. E ainda assim, lá estava ela, me encarando com aqueles olhos sem vida, seus lábios se torcendo em um sorriso sinistro.
Eu deveria ter largado a boneca ali mesmo e fugido gritando do sótão. Eu deveria ter ouvido a voz dentro da minha cabeça que gritava para eu me afastar o mais longe possível daquela boneca amaldiçoada. Mas algo me segurava no lugar, enraizada no local como se eu estivesse presa em algum tipo de pesadelo retorcido.
E então, como se fosse combinado, a boneca falou.
"Olá, Sarah", sussurrou, sua voz mal mais do que um suspiro. "Eu estive esperando por você."
Meu sangue gelou ao ouvir o som do meu nome. Como ela poderia saber o meu nome? Quem ou o que era essa boneca, e o que ela queria de mim?
Antes que eu pudesse reunir minha coragem e fugir, a boneca falou novamente, sua voz cheia de malícia e fome. "Você não pode escapar de mim, Sarah. Eu estive presa neste sótão por anos, esperando alguém me libertar. E agora que você está aqui, você pertence a mim."
Com um grito abafado, recuei, meu coração batendo forte no peito. Tentei correr, fugir do sótão e nunca olhar para trás, mas era como se meus pés estivessem colados ao chão.
E então, com um repentino surto de coragem, estendi a mão e agarrei a boneca pelo braço de porcelana, ignorando a sensação de queimação que percorria meus dedos. Com toda a minha força, joguei a boneca pelo sótão, assistindo horrorizada enquanto ela se chocava contra a parede e se partia em mil pedaços.
Mas mesmo quando a boneca jazia quebrada e sem vida no chão, seus olhos ainda pareciam me seguir, seu sorriso ainda torcido naquele sorriso sinistro. E naquele momento, eu soube que nunca estaria livre da sua maldição, que ela assombraria meus sonhos pelo resto dos meus dias.
Ao sair cambaleando do sótão e para a segurança do meu próprio quarto, eu sabia que a boneca no sótão seria para sempre um lembrete dos horrores que espreitavam nas sombras da nossa velha casa. E embora eu tentasse esquecer, tentasse seguir em frente com a minha vida, eu sabia que a lembrança daquela boneca amaldiçoada me assombraria até o fim dos tempos.
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