Sempre fui uma coruja noturna. Costumo pegar o último metrô para casa e curtir a solidão e o barulho rítmico dos trilhos. Mas o que aconteceu ontem à noite não me deixa confiante de que algum dia voltarei a pegar o metrô.
Era uma típica noite de quinta-feira. Fiquei até tarde no escritório, trabalhando em um projeto que me assombra há semanas. Quando saí, as ruas estavam quase vazias e um estranho silêncio envolvia a cidade. Corri rapidamente para a estação e subi na única escada rolante até o metrô.
Não é incomum que o último passeio do dia seja escassamente povoado, especialmente quando é um dia típico de semana e a maioria dos moradores da cidade já está em casa a essa altura. A viagem na escada rolante é sempre longa, mas felizmente meus fones de ouvido proporcionaram o entretenimento que eu precisava. Uma playlist favorita e solidão, o que poderia ser melhor?
Esta estação em particular é uma das mais novas da cidade e parece bastante moderna. Durante o dia a plataforma fica lotada de gente aguardando sua conexão, mas neste momento tardio estou sozinho. Sempre parece estranho estar sozinho em um lugar tão público, mas isso era tão... diferente. As luzes estavam normalmente acesas, as escadas rolantes funcionavam e o vento podia ser ouvido nos túneis anunciando a chegada do trem.
O trem chegou na velocidade habitual, as portas se abriram com pressa e eu entrei no vagão velho, familiar, mas vazio. Acomodei-me no meu lugar e fiquei feliz por ficar sozinho por um tempo. Quando o trem começou a andar, encostei a cabeça na janela e observei as pequenas luzes passarem no túnel. Era calmante, quase hipnótico.
Devo ter adormecido um pouco, embalado pelo balanço suave do trem. Quando acordei, o trem ainda estava em movimento, mas algo estava errado. Olhei para o display digital acima da porta:
Próxima estação: ___________________
Não havia mais nada. Sempre mostra a próxima estação e depois a parada final da linha, mas não desta vez.
O relógio marcava 01h45. Eu deveria estar no meu destino há dez minutos.
Sentei-me e tentei me livrar da sonolência. O trem continuou a se mover pelo túnel, mas não havia sinal da estação. Desta vez, mesmo as luzes simples e fracas que normalmente iluminavam o túnel não estavam à vista, deixando a cena lá fora envolta em uma escuridão impenetrável.
Até as carruagens à minha frente e atrás de mim estavam vazias e não havia ninguém nelas. Era como se eu estivesse sozinho no trem inteiro. Mas naquele momento me ocorreu um pensamento excelente.
"Alguém deve estar dirigindo o metrô..." Murmurei baixinho para mim mesmo. Fui até a frente da minha carruagem e apertei o botão para falar com o condutor.
Mas ninguém respondeu, apenas eletricidade estática. Tentei pedir ajuda pelo telefone, mas não havia sinal.
Nos últimos anos, a cidade começou a trazer o sinal telefônico para o subsolo, mas ocasionalmente ele caía entre certas estações mais profundas. Aparentemente, um desses momentos foi agora.
O pânico começou a tomar conta de mim. Atravessei o carro até a porta no final, esperando que estivesse destrancada. Empurrei levemente a maçaneta.
Clique
A porta se abriu com facilidade e pude passar para o próximo carro.
Mas também estava vazio. Todas as carruagens que verifiquei estavam abandonadas. Do primeiro ao último - 7 carros no total. O zumbido normalmente reconfortante do trem era opressivo, as sombras mais profundas e escuras.
Voltei para o meu lugar e minha mente fervilhava de pensamentos. O interior do trem, antes familiar e reconfortante, agora parecia claustrofóbico e estranho. As luzes bruxuleantes lançavam sombras estranhas e incongruentes que pareciam se esticar e se contorcer conforme eu me movia. Meu pulso acelerou e minha respiração ficou difícil. A percepção de que estava sozinho nesta jornada sem fim me atingiu com força total.
Minutos, ou talvez até horas, se passaram. Porém, olhando para o meu relógio, ele marcava 01h45 novamente.
O tempo parecia estar perdendo sentido naquele túnel. Tentei ocupar minha mente contando assentos, lendo as instruções de segurança repetidas vezes, estudando o mapa de todo o sistema de metrô ou tentando captar o sinal do telefone. Mas a monotonia do trem e o ambiente imutável me deixaram louco.
Tentei explicar racionalmente o que estava acontecendo. Talvez tenha havido um problema técnico e o condutor teve que percorrer várias estações. Mas isso não fazia sentido, pois ainda não tínhamos passado por nenhuma estação.
Por que não houve anúncio? Por que o tempo aparentemente não está acabando? Perguntas giravam em minha cabeça, cada uma mais perturbadora que a anterior.
Resolvi revistar o trem novamente, desta vez mais devagar, mais minuciosamente. Verifiquei cada assento, cada canto e recanto, procurando por algum sinal de vida. Não havia nada – nem sacolas, nem jornais descartados, nada que indicasse que havia mais alguém naquele trem. Ironicamente, este foi o metrô mais limpo em que já estive.
O desespero me fez tentar o freio de mão. Eu puxei, esperando que o trem parasse...
...mas nada aconteceu.
Era como se o sistema tivesse sido desativado e eu não tivesse como impedir o movimento implacável da plataforma.
A exaustão, a fome e a sede começaram a se instalar. Recostei-me na cadeira, meu corpo tremendo com uma mistura de medo e fadiga. Olhei pela janela, esperando algum indício de uma estação, alguma quebra na monotonia do túnel. Mas não havia nada - apenas um vazio escuro e sem fim.
Meus pensamentos começaram a ficar cada vez mais estranhos, e minha mente repetiu todas as decisões que me levaram a este momento. Pensei na minha família, nos meus amigos, na vida que eu considerava garantida. O arrependimento tomou conta de mim, um peso avassalador que parecia me sufocar.
À medida que as horas passavam, comecei a questionar minha sanidade. Isso foi apenas uma invenção da minha imaginação vívida? Eu estava preso em algum pesadelo? Afinal, eu havia adormecido um pouco durante o passeio e só conseguia sonhar.
O silêncio era ensurdecedor, pontuado apenas pelo estalido rítmico das faixas, um som que antes me acalmava, mas que agora parecia a batida implacável da destruição.
Num momento de epifania, lembrei-me novamente do meu telefone. Talvez, apenas talvez, eu pudesse encontrar uma maneira de conseguir um sinal. Mudei-me para o meio da plataforma, segurei o telefone bem alto e esperei novamente poder captar pelo menos um pouco de sinal. Nada. Tentei de novo e de novo, indo e voltando, mas foi inútil. O sinal era tão evasivo quanto o fim deste túnel.
Minha garganta estava seca e meu estômago se apertou de vazio. Vasculhei minha bolsa e encontrei uma barra de granola pela metade e uma pequena garrafa de água. Não foi muito, mas foi melhor que nada.
Enquanto estava ali sentado, mastigando o bar, não conseguia afastar a sensação de que o trem era um ser vivo, um animal mecânico que me havia prendido em sua barriga. A ideia era absurda, mas no meu estado de exaustão parecia assustadoramente real.
Mais tempo se passou. Mas meu relógio ainda marcava 01h45. Eu não conseguia dormir porque a ansiedade corria em minhas veias. Eu podia sentir meu controle da realidade se esvaindo, meus pensamentos se tornando mais fragmentados e irracionais. Eu precisava me concentrar, precisava encontrar uma saída.
Voltei para a frente do trem e bati na porta da cabine do condutor.
"Olá? Alguém aí? Por favor me ajude!"
Minha voz ecoou pelas carruagens vazias, mas ninguém respondeu. Desabei contra a porta, lágrimas de desespero escorrendo pelo meu rosto.
Voltei para o meu lugar e senti o peso do desespero caindo sobre mim. Mas quando eu estava prestes a ceder à ansiedade, o trem começou a desacelerar.
Meu coração pulou de esperança. É possível? Eu poderia finalmente chegar a uma estação?
O trem começou a desacelerar ligeiramente. Pressionei meu rosto contra a janela, tentando ver um pouco. O túnel ainda estava escuro, mas um brilho fraco apareceu à distância.
O trem gradualmente parou e parou.
"Estação final, por favor desembarque." veio pelos alto-falantes.
As portas se abriram com um barulho mundano e eu saí para a plataforma, todo abalado.
A estação estava estranhamente silenciosa, tão deserta quanto o trem. Eu ainda estava sozinho. Eu não estava esperando por nada. Apesar de todo o meu cansaço e exaustão, não hesitei e imediatamente comecei a subir a escada rolante em direção ao exterior.
Um dois três...
No início, subi um de cada vez, depois dois de cada vez e, finalmente, subi a escada rolante três degraus de cada vez. Meu coração batia forte de exaustão, mas também de expectativa.
A cada passo eu sentia o peso opressivo do underground desaparecer e a promessa de liberdade ficar mais forte. O fim da escada rolante apareceu no horizonte e me forcei a exercer ainda mais força, embora minhas pernas queimassem com o esforço.
Finalmente, cheguei ao topo. Saí cambaleando do topo da estação e saí para a rua, ofegante.
O ar fresco da noite me atingiu no rosto, refrescante e revigorante. Reservei um momento para me acalmar e olhar ao redor da paisagem urbana usual, mas de certa forma estranha.
As ruas estavam silenciosas, com apenas alguns carros passando e pedestres ocasionais aqui e ali. Fui para casa, minhas pernas ainda tremendo por causa do esforço e os acontecimentos da noite anterior girando em minha cabeça. Meu relógio marcava 01:55.
Quando finalmente cheguei ao meu apartamento, procurei as chaves, com as mãos tremendo. Cambaleei para dentro e desabei no sofá, exausta demais para ir para a cama.
Nos dias que se seguiram, evitei totalmente o metrô, preferindo pegar ônibus, bondes, táxis ou depender das próprias pernas. Meus amigos e colegas de trabalho perceberam que eu havia mudado de alguma forma, mas não consegui explicar isso a eles. Como eu poderia? Parecia loucura até para mim.
Por esse motivo, escrevo isto aqui, como uma pequena confissão para alívio pessoal. Não espero que ninguém acredite em mim, mas pelo menos esta experiência pode servir como um pequeno aviso.