Estava na casa da vovó, a mesma que sempre me recebia com cheiro de bolo e risadas nas tardes de domingo. Mas naquele dia a casa estava diferente. Escuro, silencioso e cheio de uma tristeza que não consigo descrever. Minha avó faleceu recentemente, tomada muito rapidamente por um câncer cruel. Meu pai e meu tio decidiram que era hora de reformar, limpar e organizar tudo. Mas senti que a casa não queria ser perturbada.
Eu estava brincando com meus carrinhos no chão da sala, tentando me distrair enquanto eles desmontavam móveis antigos e retiravam caixas de um armário. Era estranho ver tudo coberto por lençóis brancos, como se a casa estivesse escondida, recusando-se a mostrar o que realmente era.
Meu pai suspirou profundamente. “Ainda não consigo acreditar que mamãe se foi. Esta casa está cheia de memórias.”
Meu tio assentiu, balançando a cabeça. “É difícil, irmão. Mas precisamos seguir em frente. Ela gostaria que nós cuidássemos de tudo isso.
Ambos estavam claramente tristes, tentando ser fortes um pelo outro. Olhei para eles e senti um nó no estômago. Eu queria ajudar, mas não sabia como. Então comecei a explorar a casa. Era como se eu estivesse vendo tudo pela primeira vez. Cada canto escuro parecia esconder um segredo.
Caminhei pelo corredor, passando os dedos pelas paredes frias revestidas de papel de parede. Foi quando eu ouvi. Um som estranho, quase como um sussurro, vindo do porão. Parei para ouvir com mais clareza. "O que é que foi isso?" Murmurei para mim mesmo.
Não sei o que me levou a descer aquelas escadas, mas algo dentro de mim queria saber mais. Cada passo rangia sob meus pés, o som ecoando no silêncio da casa. O porão era ainda mais assustador do que eu lembrava, cheio de teias de aranha e sombras que pareciam se mover.
Acendi a luz, que piscou antes de estabilizar. Foi então que vi a velha cadeira de balanço no canto, movendo-se sozinha, como se alguém tivesse acabado de se levantar dela. Engoli em seco. "Quem está aí?" minha voz saiu mais fraca do que eu esperava.
Uma corrente de ar frio passou por mim, me fazendo estremecer. Ouvi passos suaves atrás de mim e me virei rapidamente, mas não havia ninguém ali. A luz começou a piscar freneticamente e senti o pânico tomar conta.
Foi quando ouvi o grito. Foi meu próprio grito, ecoando nas paredes do porão. Ouvi meu pai e meu tio chamando meu nome, seus passos descendo rapidamente as escadas.
Quando chegaram ao porão, me encontraram encolhido num canto, apavorado. Meu pai correu até mim e me abraçou com força. “O que aconteceu, filho?” ele perguntou, sua voz cheia de preocupação.
“Eu... eu acho que vi a vovó. Ela estava sentada naquela cadeira”, eu disse, apontando para a cadeira de balanço que agora estava imóvel.
Meu tio olhou para a cadeira, incrédulo. Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a luz apagou-se de repente, mergulhando-nos na escuridão. Foi quando ouvimos isso. Uma risada suave e etérea, vinda de todas as direções. Congelamos, a sensação de uma presença invisível se tornando inegável.
Aquele dia mudou tudo. Nunca mais olhei para aquela casa da mesma forma. O que quer que tenha acontecido lá, sinto que a vovó queria nos contar uma coisa, uma última mensagem antes de partir para sempre. E até hoje evito pensar muito no que poderia ter sido.
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