Quando ouvi a notícia, ele morreu. Eu não chorei. Eu não senti nada. Eu simplesmente aceitei o que era. A casa dele, a casa da minha infância, foi-me dada em seu testamento. Minha mãe não estava aqui para me dizer o que fazer. Eu iria voar de volta para a Irlanda e visitá-la.
Eu não me lembrava muito bem das estradas sinuosas do interior. Lembro-me da vegetação. É isso. Eu tinha o endereço, demorei mas encontrei.
Minha casa.
A casa estava bastante isolada. Enormes portões protegendo a propriedade. Digitei o código dos portões que também me foi dado. Eu dirigi até lá. Era um longo caminho. À esquerda havia uma fonte, lembrei-me de brincar nela. E à direita havia um grande galpão. Onde meu pai guardava seus carros. A grama e as sebes não eram cortadas há algum tempo.
Aproximei-me da casa e estacionei meu carro no cascalho áspero. Era muito maior do que eu lembrava da última vez. Meu pai era operário da construção civil. Presumi que ele tivesse feito ampliações na casa. Muitas extensões. Fui até a porta. Usando a chave que me foi dada, destranquei a porta.
A casa parecia completamente diferente. Eu vaguei um pouco. Olhando os móveis e as fotos. Notei muitas moscas mortas. Como se estivessem presos. A casa era tão grande que eu devia estar andando por ali há uma ou duas horas. Notei que não havia relógios. Sentei-me na cozinha de mármore. Olhando pela janela na minha frente. Com vista para o grande jardim que circundava a frente da casa. A cozinha e a sala estavam interligadas. Bem, havia cerca de 3 salas de estar. Mas do outro lado da casa. Só então notei que na sala ligada à cozinha havia portas duplas com vitrais que davam para um longo corredor. Principalmente quartos naquele corredor. 4 quartos no andar de baixo, dois no andar de cima. Por que havia tantos, pensei comigo mesmo. Chegando ao último cômodo havia um depósito. Um monte de lixo dentro dele. Olhei pela janela e de alguma forma vi exatamente a mesma vista que tinha da cozinha. Eu congelei em confusão. Eu não estava nem perto da cozinha.
Dei uma volta lá fora. Tentando entender como o que vi fazia sentido. Não aconteceu. Subi uma pequena colina de costas. Uma grande árvore no topo da referida colina. Olhei para a casa. Estava completamente irreconhecível, não dava para ver o topo da casa do morro. Era muito grande.
Continuei andando pela casa ainda tentando descobrir o que vi. Me deparei com uma janela muito suja. Do lado direito da casa. Em frente ao morro e à sala e cozinha conectadas. Olhei pela janela e vi uma cama, a janela estava suja demais para ver qualquer outra coisa. E a essa altura eu já devia estar em todos os quartos e nenhum deles tinha uma janela tão suja. Voltei para dentro tentando localizar o quarto com a janela suja. Eu não consegui encontrar. Olhou de cima para baixo. Isso estava me deixando louco. Ainda nem coloquei minhas coisas em casa. Sempre me frustrei facilmente. E sempre determinado também. Eu queria saber o que diabos estava acontecendo. Isso estava me confundindo. Depois de vasculhar a casa várias vezes, olhei para a janela suja. Peguei um tijolo próximo que estava encostado no galpão e joguei na janela. A janela quebrou. Era um quarto muito escuro. E a essa altura o céu também estava escurecendo. Espiei minha cabeça para dentro. Ainda não consegui ver nada. Eu disse para mim mesmo: foda-se e entrei. Atravessei a sala e acendi as luzes.
Eu estava nos quartos do andar de cima.
Eu olhei em volta. Eu estava com medo por algum motivo. A janela ainda estava quebrada e eu olhei para fora dela. Eu estava de fato no segundo andar. Desci correndo os degraus de madeira da casa até onde quebrei a janela. Não havia janela agora. Corri para onde normalmente deveria estar a janela do quarto e ela não estava quebrada.
Eu pensei que estava louco e tentei ignorar. Passei uma semana morando lá e nem tudo foi tão ruim. Havia uma pequena cidade próxima onde eu fazia minhas compras. Era bom o suficiente. Sentei-me na cozinha. Colocar comida na geladeira. Então ouvi um relógio. Eu pensei que não havia nenhum, mas tudo bem. Mas eu ouvia o tique-taque do relógio, não importa onde eu estivesse na casa. Eu sabia que esta casa não fazia sentido e procurar esse relógio me deixaria louco, mas estava me irritando. Destruí todos os cômodos e nenhum relógio foi encontrado.
O relógio estava sempre correndo. Devorando minha mente, havia dias em que eu não saía de casa procurando desesperadamente por isso. Logo ouvi o zumbido da geladeira extremamente alto também. Joguei a geladeira fora. Isso pareceu funcionar. Sabendo que os ruídos podem ser interrompidos, continuei a busca pelo relógio. Eu estava me acostumando com isso.
Passei mais uma semana morando na casa normalmente. Às vezes, algum outro objeto fazia barulhos altos, competindo com o relógio. Eu encontrava os objetos que faziam barulho e os jogava fora.
Um dia me perdi em minha casa aleatoriamente. Qualquer sala em que entrei era errada. Qualquer janela pela qual eu olhasse era uma janela de cima, eu não iria pular. Para acabar com esse problema de não saber a que sala levava, decidi remover todas as portas, exceto a que dava para fora. Os quartos não mudaram mais. Que alívio. A casa estava muito mais fria agora, mas estava tudo bem. Eu gostei desta casa.
Um dia eu estava olhando pela janela da minha cozinha. Não estava mais confuso. Nada sobre isso era confuso. Só levei um tempo para me acostumar com uma casa nova. Pensei em ir embora quando cheguei, mas agora estou em casa. Fui dormir à noite. Adormeci pensando por que minha mãe saiu daqui? Só então eu acordei. O tique-taque desapareceu? Por que desapareceu? O que aconteceu? Eu olhei em volta. Eu nem estava dormindo na cama, estava dormindo no chão. Olhei ao redor da sala em que estava. Tudo havia desaparecido. Eu me levanto, meu coração afundou enquanto andava pela minha casa. Não havia janelas, nem móveis, nem portas. A única luz que eu tinha eram as lâmpadas amarelas brilhantes. Eu não conseguia nem desligá-los. Corri para a porta da frente e não havia nada lá. A casa estava completamente vazia. Não havia luz solar e meus olhos começaram a doer. A única coisa que restou na casa foi a foto de uma árvore no alto de uma colina. A única prova que tive de que o mundo exterior existiu em algum momento. Sentei-me no canto de uma sala e chorei. Eu era como uma mosca. Preso em uma teia.
Estou escrevendo isso porque preciso desesperadamente de ajuda. Meu telefone pode morrer a qualquer momento e eu me sinto enlouquecendo. Eu não sei onde estou. Mas esta não é a minha casa. Pelo amor de Deus me ajude.
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