Todos os dias, no caminho da escola para casa, passo de bicicleta por uma velha cerca de tijolos que separa a calçada de uma casa que parece estar mais deteriorada a cada dia. As janelas estão sempre escuras, como se a casa estivesse engolindo toda a luz, e a estrutura parece desmoronar mais a cada vez que passo. O telhado está cedendo, as paredes curvam-se para dentro e a tinta descasca como se estivesse tentando trocar a própria pele.
Mas o mais peculiar é o pequeno canteiro de flores laranja do lado de fora da cerca. Eles permanecem vibrantes e perfeitamente vivos, mesmo que o resto da área circundante esteja chamuscado e bronzeado pelo calor do sol. A grama está quebradiça, os arbustos sem vida, assim como no quintal da casa, mas as flores continuam a florescer como se não tivessem sido tocadas pela podridão ao seu redor. O cheiro é insuportável, um odor azedo que permanece no ar, grudando em mim enquanto passo pedalando.
Era tão estranho que sempre havia vários coelhinhos cinzentos de frente para a casa, ao lado das flores. Os coelhinhos costumavam fugir, mas agora ficam congelados perto das flores, olhando atentamente para a casa com os olhos sem piscar. A presença deles é enervante, como se estivessem esperando por alguma coisa.
Um dia, notei um novo detalhe. A porta de vidro deslizante nos fundos da casa, que dava para o quintal, estava entreaberta e uma corda puída estava para fora. Era como se alguém tivesse estado ali recentemente, mas não havia sinais de vida a cada dia que passava. A casa estava tão silenciosa e escura como no dia em que a notei pela primeira vez.
Com o passar do tempo, a casa continuou a sua lenta decadência, tornando-se mais dilapidada a cada dia que passava. Então, um dia, a casa simplesmente desapareceu. Não havia sinal de que alguma vez tivesse existido – apenas a cerca de tijolos e o canteiro de flores laranjas onde antes existia. As duas casas vizinhas estavam agora lado a lado, como se a casa nunca tivesse estado ali.
Alguns meses se passaram e eu conheci um cara chamado Mark em minha aula de ciência forense na escola. Logo descobri que ele morava bem em frente ao local onde deveria estar a velha casa. Quando perguntei a ele sobre isso, ele olhou para mim como se eu fosse louco. Ele alegou que morava lá há oito anos e nunca tinha visto a casa que descrevi. Ele estava convencido de que isso nunca existiu.
O dia seguinte foi aparentemente normal. Voltei da escola para casa de bicicleta, comi alguma coisa e relaxei um pouco. Depois, como sempre, fui visitar Mark. Mas a casa dele havia desaparecido, assim como a antiga. Apenas... desapareceu. Não havia sinal de que alguma vez tivesse estado lá. As casas vizinhas estavam agora uma ao lado da outra, sem nenhum vestígio da casa de Mark.
Perguntei por aí e as pessoas me disseram que Mark havia morrido anos atrás, em um acidente, muito antes de eu conhecê-lo. Ninguém se lembrava de uma casa ou de uma pessoa que deveria estar lá.
Agora, todos os dias, passo pelo canteiro de flores de laranjeira. Eles ainda estão vibrantes, ainda florescendo, enquanto tudo ao seu redor continua a murchar. As casas desapareceram, Mark desapareceu e as flores permanecem, como se marcassem algo perdido no tempo e na memória. Recentemente, eles começaram a cheirar menos amargos, agora com um aroma doce de mel fresco do mercado do fazendeiro. O que é igualmente assustador. É como se eu tivesse superado uma situação ou algo assim e estivesse sendo recompensado. No entanto, esse algo nunca deveria ter acontecido subjetivamente em primeiro lugar.
O que aconteceu com a casa, com Mark, com tudo relacionado a aquele lugar permanecerá para sempre um mistério. Tudo o que resta são estas flores de laranjeira, ainda intocadas pela decomposição que as rodeia, balançando silenciosamente ao vento.
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