sábado, 1 de março de 2025

Encontrei uma Porta Que Não Deveria Ser Aberta

Eu não deveria estar lá naquela noite. Meu amigo David cancelou seus planos para o fim de semana, e eu estava sozinho em uma cidade onde não conhecia muitos rostos. Eu poderia ter ficado no meu quarto de motel, mas estava agitado e saí. Foi assim que me encontrei caminhando por ruas vazias e em frente a uma biblioteca que parecia muito mais antiga que as outras da região.

Era uma estrutura que não se encaixava numa cidade moderna—entalhes ornamentados acima da entrada, gárgulas de pedra sentadas nos cantos do telhado, observando. Um aviso acima da porta dizia Biblioteca St. Dunstan: Fundada em 1876. As portas, grandes e de madeira, estavam abertas o suficiente para despertar curiosidade.

Um arrepio subiu pela minha espinha. A biblioteca estava escura, mas eu conseguia distinguir uma luz fraca balançando lá dentro. Talvez um guarda noturno? Talvez alguns funcionários trabalhando até tarde? Eu não deveria entrar, mas algo sobre aquela porta levemente aberta parecia intencional. Como se tivesse sido deixada aberta especialmente para mim.

O silêncio me envolveu completamente quando entrei. O ar estava pesado com poeira e algo mais—algo antigo, algo em decomposição. Estava mais frio do que deveria, o tipo de frio que não resultava de má isolação.

Eu sussurrei. Não houve resposta.

Estantes de livros seguiam em fileiras na escuridão, e no outro extremo, havia uma luz tremulante—como uma vela, movendo-se levemente como se alguém a estivesse segurando. Dei um passo, depois outro passo. O chão rangeu sob meus pés.

Quanto mais fundo eu ia, mais sentia que o lugar estava errado. As prateleiras estavam cheias de livros que pareciam não ter sido tocados por centenas de anos, suas lombadas quebradas e se desfazendo. Alguns títulos nem estavam em inglês. Alguns não estavam em nenhuma língua que eu conhecia.

Então eu vi.

Havia uma porta encaixada entre duas estantes altas. Era diferente das outras portas que eu tinha visto. Esta porta era menor e mais antiga. A madeira estava retorcida, e a maçaneta de latão estava manchada pelo tempo. Havia algo nela que me perturbava. Ela não pertencia ali.

A chama da vela tremulou lá dentro. Havia alguém ali.

Pressionei meu ouvido contra a porta. Estava silencioso. Minha respiração embaçou a madeira da porta antiga enquanto eu estendia minha mão para a maçaneta e pausei. Um forte sentimento de pavor entrou em meu peito, mas minha mão agarrou o metal antes que eu pudesse parar.

Girou muito facilmente.

A porta rangeu ao abrir, revelando uma escada que curvava para baixo, envolta em escuridão.

A vela estava no primeiro degrau, sua chama tremulando levemente. Alguém deve ter deixado ali. Eu deveria ter voltado. Eu deveria ter dado meia-volta. Mas já estava muito envolvido no momento, meu coração batendo em meus ouvidos enquanto eu descia.

As escadas demoraram mais do que deveriam. Tempo demais. Quando cheguei ao fundo, tinha a sensação de que não estava mais sob a biblioteca. As paredes não eram as mesmas—pedra áspera e úmida em vez de madeira e gesso. O ar era difícil de respirar, denso com um cheiro que eu não conseguia identificar.

Um corredor se estendia à minha frente, e havia várias portas. Algumas estavam levemente entreabertas, e algumas estavam bem fechadas. Havia sussurros suaves emanando pelas aberturas, mas as vozes eram baixas demais para decifrar. Eu me movia com cautela e lentamente, minha respiração ficando mais rápida a cada ruído.

Uma porta era diferente. Maior que as outras, feita de ferro em vez de madeira. Esta porta não tinha maçaneta como as outras. Apenas uma pequena abertura para espiar, do tipo que você encontra em um manicômio.

E então—toc, toc, toc.

Três batidas fortes do outro lado.

Parei de respirar.

Um barulho de arranhão, lento e deliberado, lembrando unhas contra metal. Um sussurro então, tão suavemente falado que mal ouvi.

"Me deixe sair." Recuei. Minha mente gritava para fugir, para sair dali, para nunca lembrar que tinha visto aquilo. Mas meu corpo não estava ouvindo. Minhas mãos tremiam enquanto eu as levantava, dedos roçando contra a borda da fresta para olhar.

Olhei dentro.

Não havia nada inicialmente. Apenas escuridão. Então—movimento. Algo se moveu.

Um rosto se materializou das sombras. Não um rosto humano. Algo diferente.

Seus olhos não estavam certos. Vazios negros que absorviam luz. Uma boca grande demais, sorrindo de um jeito que nenhum rosto humano deveria sorrir.

E falou novamente.

"Você encontrou a porta."

Meu grito nunca saiu. A coisa estava se movendo rápido demais—impossivelmente rápido demais. A porta de ferro arqueou para fora quando ela bateu do lado oposto, sacudindo o chão. Poeira choveu do teto. Os sussurros atrás das outras portas ficaram em pânico, misturando-se em um furacão enlouquecedor de som.

Eu corri. Não pensei. Apenas corri.

As escadas pareciam tão longas na volta. Minhas pernas doíam, meu peito doía, mas não pararia até passar correndo pela porta da biblioteca, ofegante. O ar frio da noite me atingiu violentamente.

A porta fechou solidamente atrás de mim.

A biblioteca estava silenciosa novamente. Escura. Como se nada tivesse acontecido.

Recuei, meu coração batendo no peito. Senti meu estômago revirar quando notei algo.

A placa ao lado da entrada.

Biblioteca St. Dunstan: Fundada em 1876. Permanentemente fechada em 1942. Olhei freneticamente. Minhas mãos ainda tremiam. O prédio estava desocupado há mais de oitenta anos. Mas eu tinha acabado de entrar. E em algum lugar, sob aquele lugar, algo tinha batido de volta.

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