Mas eu estraguei tudo. Meu impulso. Fiz a única coisa que não se deve fazer. Traí. Queria poder voltar atrás. Aquela dor nos olhos dela. Ela não aguentou. Pulou pela janela do nosso apartamento no 10º andar.
Eu deveria tê-la impedido. Deveria ter estado lá por ela. Todo dia vivo com arrependimento e medo pelo que fiz. Nunca vou me recuperar disso. Não sabia que ela tiraria a própria vida.
Os pesadelos começaram no dia seguinte ao suicídio dela. Sonhei que ela voltaria para minha casa em uma semana. Os sonhos eram tão vívidos que não pude deixar de vê-los como um presságio. Isso me perturbava sem fim. Claro, eu queria minha futura esposa de volta, mas não assim. Nos sonhos, seu corpo ensanguentado se arrastava para dentro da minha casa. Ela me encarava com um olhar que gelava meus ossos: uma mistura de tristeza, confusão e ódio.
Precisava fazer algo. Não sou um homem religioso, mas não sabia a quem recorrer. Procurei um padre, decidindo contar meus medos, ele ouviu. Mas não contei a história completa. Estava envergonhado. Um acidente terrível, uma morte súbita, eu disse.
Ele decidiu que esses sonhos mereciam cautela e me deu um conselho. O padre me instruiu que na noite exatamente uma semana após o suicídio dela, eu deveria me esconder embaixo da cama. Assim, quando ela voltasse para casa, não me veria, e tudo voltaria ao normal. Tão normal quanto possível, pelo menos.
Os sonhos persistiram, ficando mais vívidos a cada dia. E logo esse dia chegou. Eu estava nervoso. Arrepios cobriam meu corpo o dia inteiro. Temia o que estava por vir. Siga o conselho do padre, disse a mim mesmo. E então tudo isso acabaria.
A noite caiu e fiquei cada vez mais alarmado. Cada barulho, cada sombra me causava pânico. A antecipação me fazia sentir como se fosse morrer de medo. Me arrastei para debaixo da cama, esperando. Ofeguei, lágrimas brotando em meus olhos. Continuava imaginando ela.
Pulei de susto quando ouvi um som de batida vindo da porta da frente. Tranquei a porta, mas isso não pareceu importar porque o som se aproximou. Estava dentro. Cerrei os dentes, tentando fazer meu corpo parar de tremer. As batidas ficaram mais altas. Estava no meu quarto. Meus pelos se arrepiaram e fechei os olhos com força.
Mais e mais perto. E então parou. Bem na frente da minha cama. Mantive meus olhos fechados, petrificado de medo. Fiquei assim por vários minutos. Tinha funcionado? Ela tinha ido embora? Não a ouvi sair. Decidi abrir os olhos.
Espiei debaixo da cama. Quase tive um ataque cardíaco. Ela estava me encarando. Aquele mesmo olhar temido dos meus pesadelos. Eu deveria ter contado a história completa ao padre.
Sabe, quando ela pulou, caiu de cabeça, deixando seu corpo completamente mutilado. Me esconder embaixo da cama não adiantou nada porque sua cabeça estava batendo no chão, permitindo que ela olhasse direto para mim.
0 comentários:
Postar um comentário