Começou como uma noite normal—cinco de nós reunidos na casa da Olivia para jantar. Sua antiga casa vitoriana era o lugar perfeito para encontros aconchegantes. O assoalho de madeira rangia o suficiente para parecer charmoso, e a iluminação suave dos abajures antigos dava ao ambiente todo um brilho âmbar e acolhedor. Olivia era uma excelente cozinheira, então quando ela nos convidou, não hesitei.
Quando cheguei, os outros já estavam lá—Mark, Julia e Emma. A mesa estava lindamente posta: talheres pesados, porcelana fina, velas tremulando no centro. Olivia claramente tinha se esmerado. Rimos e colocamos o papo em dia enquanto esperávamos o jantar terminar de cozinhar. O cheiro de frango assado e alho preenchia o ar, misturando-se com o suave aroma de cera derretida.
Mas algo parecia... estranho. No início, pensei que estava apenas imaginando. O jeito como as sombras das velas pareciam um pouco longas demais. Como o chão rangia atrás de mim mesmo não havendo ninguém lá. Atribuí isso aos meus próprios nervos—tinha tido uma semana estressante no trabalho.
Então Olivia trouxe a comida. Tudo parecia delicioso, e o vinho fluía. Estávamos no meio de uma conversa sobre umas férias que Julia tinha planejado quando percebi. O frango no meu prato... não parecia certo. Não conseguia identificar o porquê. Não estava malpassado ou estragado, mas brilhava levemente sob a luz, como se houvesse algo vivo sob a pele.
"Tudo bem?" Olivia perguntou, seus olhos fixos em mim. Percebi que estava olhando para meu prato há tempo demais.
"Sim," disse rapidamente, forçando uma risada. "Só me distraí."
Mas quando peguei meu garfo e faca, aconteceu a coisa mais estranha. Juro que vi o frango se mexer. Não muito, apenas um pequeno tremor, como se tentasse se mover. Congelei, olhando fixamente, com a respiração presa na garganta.
"O que foi?" Mark perguntou. Todos estavam me olhando agora.
"Nada," menti, tentando me recompor. Talvez eu só estivesse muito cansado. Dei uma pequena mordida—só para provar a mim mesmo que estava imaginando coisas. O gosto estava bom, mas havia algo mais... um leve sabor metálico, quase como sangue. Afastei meu prato.
"Você não está comendo," Olivia disse, sua voz cortante.
"É que não estou com muita fome," disse, evitando seus olhos. O ambiente de repente parecia quente demais, o ar denso e pesado.
O sorriso de Olivia não chegava aos olhos. "Eu me esforcei muito nesta refeição, sabe."
"Eu sei. Está ótimo, é só que—"
As luzes piscaram, me interrompendo. Por um segundo, tudo mergulhou na escuridão. Quando as luzes voltaram, juro que a sala de jantar tinha mudado. As sombras nas paredes estavam mais profundas, mais escuras, e pareciam ondular, como se estivessem vivas. O ar agora estava mais frio, e eu podia ver minha respiração embaçando à minha frente.
Todos os outros agiam como se nada tivesse acontecido. Julia estava rindo de algo que Mark tinha dito, e Olivia continuava bebericando seu vinho, seus olhos fixos em mim.
Então notei Emma. Ela não dizia uma palavra há um tempo, e quando olhei para ela, percebi o porquê. Ela estava olhando fixamente para frente, seu rosto vazio, seus olhos arregalados e sem piscar. Sua mão agarrava o garfo com tanta força que seus nós dos dedos estavam brancos.
"Emma?" sussurrei.
Ela não respondeu. Apenas continuou olhando, sua boca levemente aberta. Segui seu olhar e percebi que ela não estava olhando para nada em particular—apenas para a parede atrás de Olivia. Mas quando me virei para olhar, tudo que vi foi o papel de parede antigo, descascando levemente nas bordas.
"Emma, você está bem?" Julia perguntou, sua voz tingida de preocupação.
Emma piscou, saindo do transe. Ela balançou a cabeça como se limpasse uma névoa. "Sim. Estou bem. Só me distraí."
Mas ela não estava bem. Nenhum de nós estava.
O resto da noite passou como um borrão. O vinho tinha gosto amargo, as velas queimavam mais baixas, e as sombras na sala pareciam se arrastar para mais perto. Eu continuava olhando para os outros, tentando perceber se eles também estavam sentindo aquilo, mas ninguém dizia nada. Olivia, especialmente, parecia perfeitamente calma. Calma demais.
Quando a sobremesa foi servida, não aguentava mais. A tensão na sala era sufocante. Empurrei minha cadeira para trás e me levantei. "Acho que preciso ir," disse, tentando soar casual.
"Já?" Olivia disse, sua voz doce mas com um tom que fez meu estômago revirar.
"Sim, amanhã cedo tenho compromisso," murmurei, pegando meu casaco.
Ninguém protestou. Na verdade, mal me notaram quando saí. O ar frio da noite me atingiu como um tapa quando saí, e respirei fundo, tentando clarear minha mente. Caminhei até meu carro e entrei, agarrando o volante com força.
Enquanto me afastava, olhei de volta para a casa. Olivia estava na janela, me observando. Mas não era seu rosto que eu via. Era seu sorriso—largo, largo demais, se estendendo de forma antinatural por seu rosto. Seus dentes eram afiados, brilhando na luz fraca.
Dirigi mais rápido, sem olhar para trás novamente.
Naquela noite, não dormi. Não conseguia. Toda vez que fechava os olhos, via o rosto de Olivia, seu sorriso, o jeito como as sombras em sua casa pareciam vivas. Não falei com nenhum deles desde então. Estou com muito medo do que eles possam dizer. Ou do que possam não dizer.
Mas de vez em quando, quando estou sozinho em meu apartamento, ouço—um leve rangido, como alguém andando em um piso de madeira. E não posso deixar de me perguntar se realmente saí da casa de Olivia. Ou se alguma parte de mim ficou para trás.
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