Queria poder dizer que o sono me oferece um alívio, mas não oferece mais. Há muito desisti de esperar por sonhos tranquilos. As sombras que se movem nos cantos do meu quarto não são meros truques de luz. São algo mais. Mudando e se esticando, como se estivessem se aproximando de mim, fechando com uma lentidão deliberada.
Olhando fixamente para meu teto, tentando afastar o terror crescente. Minhas mãos estão frias. O peso delas, pesado e imóvel, como se eu tivesse sido invadido por gelo. Tento movê-las, mas é como se meu corpo não mais me obedecesse. O peso do dia, seu cansaço, seu estresse, o ritmo implacável, pendurado em mim como correntes.
As luzes no meu teto, antes inofensivas, agora se contorcem e dançam de uma maneira que não é mais comum. As cores, muito brilhantes, muito selvagens, sobrenaturais. Elas pulsam, como se em sincronia com as batidas frenéticas do meu coração. "Isso não é real". Sei que deveria ser capaz de lutar contra isso. Mas as visões persistem, crescendo em intensidade. As sombras nos cantos da minha visão começam a tomar forma. Pisco, tentando limpar minha mente, mas elas não desaparecem.
Então elas chegam. Elas. As criaturas. No início, é apenas um lampejo de movimento, mas logo suas formas emergem completamente da escuridão, rastejando pelo chão, seus corpos se contorcendo em ângulos não naturais. Duendes, ou algo pior. Seus membros são coisas retorcidas e pontiagudas que arranham o chão com um som terrível e oco. Seus olhos, brilhando com uma luz sobrenatural, fixam-se em mim, sua fome palpável. Posso ouvi-las respirando baixo, gutural e pesado. Elas se movem com um propósito aterrorizante, chegando mais perto, cada vez mais perto.
Meu coração agora troveja no peito. Tento gritar, mas nenhum som escapa dos meus lábios. Quero correr, pular da cama e fugir, mas meu corpo está congelado, preso no aperto do terror. Não consigo me mover. Minhas pernas estão pesadas, meu corpo rígido. O ar parece espesso, como se a própria atmosfera tivesse se transformado em melaço. As criaturas estão quase sobre mim agora, suas garras afiadas arranhando o chão. Elas se aproximam, suas formas grotescas se alongando, seus olhos se arregalando, brilhando mais forte. Posso sentir sua presença como um peso pressionando meu peito.
O desespero me arranha, cortando fundo. "Não posso deixá-las me alcançar". "Não posso". Reúno toda a força que tenho, empurrando contra a paralisia que me prende. Lentamente, agonizantemente, consigo torcer meu corpo, deslizar uma perna para fora da cama. Parece que estou me movendo através de neve espessa, lento, como se meus próprios membros tivessem esquecido como se mover. Mas as criaturas são implacáveis. Vejo seus braços se aproximando, seus corpos se dobrando, se contorcendo enquanto se arrastam em minha direção.
Um pulso de medo surge através de mim quando meus pés batem no chão com um baque surdo, pesado, como se o próprio chão abaixo de mim fosse areia movediça, me puxando para baixo. O quarto parece se esticar e a porta que antes parecia tão perto agora está a quilômetros de distância. Minha respiração vem em arquejos agudos, enquanto o suor frio brota em minha testa, mas não posso parar. "Não posso parar". Empurro para frente, meus braços se agitando enquanto tento fugir do pesadelo que me persegue.
Atrás de mim, ouço seus gritos, agudos e frenéticos. O som de garras rasgando contra o chão ecoa como tambores de guerra, me incitando a correr mais rápido. O corredor parece interminável, a escuridão engolindo toda a luz atrás de mim. Olho por cima do ombro e vejo suas formas deslizando em minha direção, mais rápido agora, ganhando terreno a cada passo. Minha mente é um turbilhão de pânico. "Não posso fugir delas, não posso".
Ao alcançar as escadas, tropeço enquanto desço correndo. Meus pés mal tocam cada degrau. O som dos movimentos bestiais fica mais alto, mais próximo, como se estivessem nos meus calcanhares, a um suspiro de me pegar. Posso sentir sua respiração quente e rançosa na minha nuca, o peso de seu olhar pesado em minha pele. Corro mais forte, mais rápido, mas a escuridão é infinita, o mundo ao meu redor desmoronando em sombras. Não sei mais para onde estou indo, mas não posso parar. "Não posso".
O quarto atrás de mim, aquele do qual fugi, parece tão distante agora, uma memória distante. As criaturas, suas formas retorcidas, parecem derreter nas próprias paredes ao meu redor, como se fossem parte da própria escuridão. Meu peito aperta, minha respiração irregular, e meus membros doem de exaustão. O mundo se dobra e torce ao meu redor, distorcido, como se estivesse se deformando para me prender. O corredor se estende impossivelmente, cada passo parecendo uma milha.
Irrompo através de uma porta, batendo-a atrás de mim com um estrondo ensurdecedor. O ar é espesso e sufocante, nauseante de respirar. Tento me virar e me encontro trancado em outro quarto, cercado pela escuridão implacável. Mas as criaturas, aquelas coisas de pesadelo, parecem ter desaparecido. Ou talvez, elas simplesmente tenham parado de seguir.
Espero, tremendo, meu coração martelando no peito. O silêncio é espesso, opressivo, e a quietude é muito mais aterrorizante que a perseguição. Sei que elas ainda estão lá, em algum lugar, escondidas nas sombras, observando, esperando.
Quero me mover. Quero correr. Mas o medo me mantém no lugar, e sei no fundo que não há lugar para onde eu possa correr onde elas não me encontrarão. As criaturas não são apenas pesadelos, são meus próprios medos, minhas próprias inseguranças, e elas nunca me deixarão ir.
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