Tome por exemplo os animais mortos encenados. Já vi o suficiente para saber como são. São aqueles animais que parecem fora de lugar por algum motivo. Geralmente são cervos — embora possam ser outros animais também. Mas o estranho é que sempre está faltando o chifre esquerdo. Não é como se tivessem sido atingidos por um carro e o perdido na colisão. Simplesmente não está lá. E às vezes, o animal parece ter sido arranjado — colocado de uma certa maneira, com ferimentos limpos como se tivessem sido feitos intencionalmente. Depois tem aqueles com pontos de sutura. Já encontrei isso mais de uma vez. Como se alguém tivesse decidido remendar o animal e deixá-lo na beira da estrada. Não é algo que você vê todo dia, mas já vi vezes suficientes para saber que não é caso isolado.
Depois tem as peles. Você não pensaria que encontraria apenas uma pele, mas eu já vi. Pelo, perfeitamente esfolado, disposto ordenadamente na beira da estrada. Não há corpo. Sem sangue. Apenas o pelo. Não sei como um carro supostamente faria isso, mas já me deparei com isso mais de algumas vezes. Algumas das peles até têm pontos de sutura, o que é sempre um pouco estranho. Mas como eu disse, esse trabalho vem com seu próprio conjunto de coisas estranhas, e essa é uma delas.
O "meio-cervo" é outra coisa sobre a qual brincamos no trabalho. Toda vez que recebemos uma ligação, é a mesma coisa: "Uma espécie de cervo." Nem sempre é um cervo, mas é parecido o suficiente para você entender o que querem dizer. Mas quando você chega lá, sabe na hora — algo não está certo. Pode ser o jeito que está posicionado ou sua forma, mas algo nele está simplesmente errado. Pernas faltando, pelo que não parece certo. É o suficiente para chamarmos de meio-cervo. Nada alarmante, apenas um padrão estranho que apareceu vezes suficientes para darmos um nome.
Uma coisa que é sempre um pouco estranha são os animais mortos que desaparecem. Não é como se eu nunca tivesse visto um corpo sumir, mas acontece. Você chega num local, há uma carcaça fresca, sangue, marcas de pneu — está tudo lá. Mas no momento em que você vira as costas por um segundo, vai pegar seus materiais, quando volta, sumiu. As marcas de pneu e o sangue ainda estão lá, mas nenhum corpo. Nem sinal de que foi movido. Já vi isso vezes suficientes para não me surpreender mais. Apenas anoto e sigo em frente. Acontece mais do que você pensaria, especialmente em certos trechos da rodovia. Você aprende quais deve ficar de olho.
E então tem os caroneiros. Você encontra muitos deles fazendo esse tipo de trabalho. A maioria só está procurando uma carona, talvez algumas histórias pelo caminho. Mas alguns são um pouco interessados demais nos animais que limpamos. Ficam ali nos observando, fazendo perguntas sobre os animais mortos, os ferimentos, como fazemos nosso trabalho. Alguns atrapalham mais que outros, e já tive minha cota deles ficando muito perto, observando muito atentamente. Não é que me incomode, mas chama a atenção. A maioria das pessoas não se importa tanto com as carcaças, mas esses parecem se importar.
De qualquer forma, é um trabalho. É um trabalho que fica repetitivo, mas sempre tem algo um pouco fora do comum. Já vi muitas coisas estranhas nessas estradas, mas não penso muito sobre isso mais. É apenas mais uma parte do trabalho, e no final do dia, a estrada está um pouco mais limpa, e posso seguir para a próxima.
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