segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A Voz no Estática

Sempre fui uma coruja noturna, o tipo de pessoa que prospera quando o mundo fica quieto. Meu trabalho como segurança noturno em um complexo de escritórios decadente me serve bem - prédios vazios, luzes piscando e o zumbido de máquinas antigas são minha companhia ideal. O pagamento é decente, o trabalho é fácil, e eu posso ouvir meu rádio a noite toda. Pelo menos, eu costumava amar essa parte.

Começou há cerca de três semanas. Eu estava em minha ronda habitual, patrulhando o terceiro andar do Prédio C - uma relíquia baixa de concreto com tinta descascando e janelas que não são limpas desde os anos 90. Meu rádio portátil estava preso ao cinto, sintonizado em algum programa de talk show noturno, a voz do apresentador divagando sobre teorias da conspiração. Eu não estava realmente ouvindo; era apenas um ruído de fundo para evitar que o silêncio ficasse muito pesado.

Então a estática começou. Uma explosão aguda e crepitante que me fez estremecer. Parei no meio do passo, mexendo no dial, pensando que a estação tinha caído. Mas enquanto eu girava, a estática não limpava - ficava mais alta, sobreposta com algo mais. Uma voz. Baixa, distorcida, como alguém murmurando debaixo d'água. Não conseguia distinguir palavras, apenas essa cadência assustadora que me causou um arrepio na espinha. Desliguei o rádio, atribuindo à interferência da fiação antiga do prédio. Deveria ter sido o fim disso.

Na noite seguinte, aconteceu novamente. Mesmo andar, mesmo horário - por volta das 2h17. Desta vez, a estática cortou uma estação de música, e a voz estava mais clara. "...mais perto agora..." ela sussurrou, cada sílaba alongada e molhada. Congelei, olhando para o rádio como se ele pudesse se explicar. Verifiquei as baterias, a antena - tudo estava bem. Até o troquei por um sobressalente da guarita no turno seguinte. Mas a voz voltou na noite seguinte, ainda mais nítida: "...te vejo em breve..."

Disse a mim mesmo que era uma brincadeira. Talvez algum idiota com um rádio amador estivesse me provocando. Comecei a deixar o rádio desligado durante minhas rondas, contando apenas com o rangido das minhas botas e o zumbido distante do ar-condicionado como companhia. Mas na quarta-feira passada, não precisei mais do rádio. Eu o ouvi sem um.

Eu estava no porão do Prédio C, verificando a sala de utilidades. O ar lá embaixo é denso, úmido e cheira a mofo. Minha lanterna varreu canos enferrujados e fios emaranhados, e foi então que aconteceu - um sussurro, bem atrás de mim. "...te encontrei..." Girei, o feixe tremendo em minha mão, mas não havia nada. Apenas sombras e aquela quietude opressiva. Meu coração estava batendo tão forte que eu podia senti-lo na garganta. Corri escada acima, me tranquei na guarita e não me mexi até o amanhecer.

Eu deveria ter pedido demissão então. Mas o aluguel está vencendo, e empregos como este não crescem em árvores. Então voltei. A noite passada foi a pior.

Eu estava no terceiro andar novamente, evitando o porão como se estivesse amaldiçoado. O prédio estava mortalmente silencioso - sem rádio, sem zumbido, apenas minha respiração. Então ouvi passos. Lentos, deliberados, ecoando pelo corredor atrás de mim. Virei, a lanterna cortando a escuridão, e não vi nada. Os passos pararam. Gritei, "Quem está aí?" - minha voz falhou, patética. Sem resposta. Comecei a andar mais rápido, indo em direção às escadas, quando as luzes acima piscaram e morreram.

Foi quando os sussurros começaram. Não de um lugar, mas de toda parte - atrás de mim, acima de mim, nas paredes. "...aqui agora... olhe..." Não era mais apenas uma voz; era um coro, sobreposto, arranhando meus ouvidos. Corri, tropeçando em cadeiras, batendo em paredes, o feixe da lanterna saltando loucamente. O ar parecia errado - frio, pesado, como se estivesse me pressionando para baixo. Cheguei à escada e, quando agarrei o corrimão, algo roçou meu pescoço. Não uma mão, não carne - apenas essa coisa gelada e sem peso que fez minha pele arrepiar.

Não me lembro de ter saído. A próxima coisa que soube, estava no estacionamento, ofegante, as chaves tremendo em minha mão. Dirigi para casa, tranquei todas as portas e fiquei sentado até o nascer do sol, esperando que algo quebrasse o silêncio. Nada aconteceu.

Me chamei doente hoje à noite. Meu chefe não ficou feliz, mas não me importo. Não posso voltar. Não depois do que encontrei no meu telefone esta manhã. Eu tinha tirado uma foto na semana passada - alguma pichação na parede do terceiro andar que pretendia relatar. Não tinha olhado atentamente até hoje. Lá, no canto do quadro, meio escondida pelas sombras, há uma figura. Alta, magra, sem rosto - apenas uma mancha onde deveria haver um. Está exatamente onde eu estava quando tirei a foto. Não a vi na hora. Não a ouvi. Mas estava lá.

Continuo ouvindo estática agora, mesmo sem o rádio. É fraca, zumbindo na borda dos meus pensamentos. E às vezes, quando fecho os olhos, juro que ouço aquela voz novamente: "...mais perto... mais perto..." Não sei o que quer. Não sei como me encontrou. Mas estou postando isso porque preciso que alguém saiba - se eu parar de responder, se eu desaparecer, não é um acidente. Está vindo. E acho que já está aqui.

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