Eu era criança, brincando com blocos. Eu corria pela casa, andando com minhas meias. Então, a campainha tocou, e minha mãe recebeu aquela raposa malvada e cruel.
Ela sempre fazia coisas não ortodoxas. Sempre aparecia às 7 horas. Sempre trazia correspondência da caixa de correio. Aquela raposa cruel sempre trazia correspondência da caixa de correio.
Mas eu já tinha pego a correspondência da caixa de correio! Desde que fui trancada pela primeira vez em uma caixa, eu pegava a correspondência da caixa de correio. Eu pegava a correspondência antes das 7 horas, mas ela sempre entrava com mais correspondência, aquela raposa malvada e cruel.
Ela colocava a correspondência na mesa, aquela raposa cruel. Minha mãe então lia toda a nova correspondência da caixa de correio. Aquela raposa fazia de tudo para mantê-la lendo a correspondência da caixa de correio.
Ela se virava para mim, seus dentes irregulares como pedras. Ela se virava. Ela sorria. Ela brilhava, aquela raposa malvada e cruel. Então, ela tirava um vestido para mim, um traje. Ela me agarrava enquanto eu chutava e gritava, e me enfiava naquele traje.
Não importava o que eu fizesse, eu nunca conseguia superar a raposa. Eu batia nela com panelas ou me escondia entre minhas meias, mas aquela raposa cruel sempre me colocava naquele traje.
O vestido tinha a cor do interior de um boi. Surpreendentemente vermelho e pingando, era a cor do maldito traje. "Por favor, pare", eu gritava, mas não importava quais palavras eu chorasse, nunca escapei daquela raposa malvada e cruel.
Eu sempre sabia o que acontecia depois que era apertada naquele traje. A raposa sorria e gania, feliz que era hora da caixa. Uma vez que eu estava em meu traje, ela sorria e tirava todas as suas roupas, até que a única coisa que vestia eram suas meias.
O que eu podia fazer então, presa em meu traje com uma raposa apenas de meias? Não havia nada que eu pudesse fazer então, vendo uma raposa se aproximar de mim usando apenas meias.
Então, veio a caixa.
Eu era levada para a sala de estar, onde antes brincava feliz com meus blocos. Ela me puxava pela mão enquanto eu tentava desesperadamente fugir, aquela raposa malvada e cruel. Ela puxou uma caixa do nada e a colocou entre meus blocos. Então, ela me agarrava enquanto eu ficava ali, tremendo, em meu traje rosa brilhante.
A caixa era tão pequena, não maior que uma mancha de catapora. Não havia como eu caber dentro daquela caixa. Ainda assim, fui agarrada e empurrada, e consegui caber completamente dentro, empurrada por aquela raposa cruel.
A caixa sempre sufocava meu corpo, mas a raposa nunca se importou com como eu me sentia. Dentro, com meu traje todo amontoado, eu me sentia pressionada contra mil pedrinhas. Minhas pernas estavam acima da minha cabeça, meus braços envolviam meus pés, meus joelhos atrás do peito, pois eu tinha sido empurrada dentro daquela caixa incrivelmente pequena.
Então, eu sentia aquela raposa malvada e cruel. Ela se empurrava para dentro comigo, e eu era pressionada em todos os cantos daquela caixa oblonga. A caixa tinha uma fechadura, e eu sempre podia ouvi-la fechar. A partir daí, um paradoxo. Eu sentia as horas passarem, das 8 horas às 9 horas. Eu sabia que as horas tinham passado por causa daquela pequena fechadura. Ela abria então, e eu tentava escapar da caixa, mas aquela raposa cruel ria e fechava a caixa novamente.
Foi só depois de vinte e seis badaladas daquela fechadura que a raposa tentou se remover da caixa. A partir daí, ela me pegava pela parte de trás do meu traje e puxava até que eu sempre saísse da caixa.
Seu sorriso não estava mais cheio de pedras, não, ela parecia contente parada ali apenas de meias. Ela então colocava suas calças de volta, antes de rastejar até a porta, passando direto pelos meus blocos. Ela nunca levava a caixa com ela, pois esta se tornava um dos meus blocos. Não tinha mais fechadura.
Antes de sair, ela batia. O som despertava minha mãe da leitura da correspondência da caixa de correio. Ela nunca cumprimentava a raposa depois que ela batia. Em vez disso, ela se virava para mim e perguntava onde estavam minhas meias.
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