quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

A Última Rodada

Estávamos na quinta rodada quando primeiro percebi que algo estava errado. O bar estava lotado, o ar denso com fumaça de cigarro e o grave da jukebox sacudindo as paredes. Era o tipo de lugar onde você só acaba porque nenhum outro está aberto—pouco iluminado, chão pegajoso, com um bartender que parecia ter visto demais, mas ainda assim não se importava.

Eu estava com meu grupo habitual—Mike, Chris, Jen e Lisa—apenas relaxando depois de uma longa semana. Estávamos rindo, compartilhando histórias e nos revezando para comprar as rodadas. Mas quando me recostei na cadeira, deixando o álcool assentar no meu sistema, um arrepio subiu pela minha espinha.

Olhei ao redor, tentando identificar o que parecia estranho. O bar estava cheio, mas algo na multidão parecia... antinatural. As pessoas estavam conversando, bebendo e rindo, mas seus movimentos eram uma fração lentos demais, seus sorrisos duravam um segundo a mais. Era sutil, mas depois que notei, não conseguia mais ignorar.

Me virei para Lisa, cutucando seu cotovelo. "Ei, essas pessoas parecem estranhas pra você?"

Ela franziu a testa e olhou ao redor. "Como assim?"

Fiz um gesto vago na direção dos outros clientes. "Não sei. Algo está... errado. Como se estivessem fingindo ser normais."

Ela sorriu com desdém. "Parece que você só está bêbado."

Talvez ela estivesse certa. Talvez as luzes fracas e a cerveja estivessem confundindo minha cabeça. Tentei afastar aquilo e voltar à conversa, mas a sensação não ia embora.

Então, eu o vi.

Um homem sentado sozinho na cabine mais distante, meio escondido nas sombras. Ele não estava bebendo, não estava conversando com ninguém. Apenas sentado ali, encarando—a mim.

Um medo agudo e frio apertou meu peito. Seus olhos eram buracos escuros e fundos, e seu rosto não tinha expressão. Algo nele estava errado. Me virei rapidamente, meu pulso acelerado.

"Pessoal," sussurrei, "não olhem agora, mas tem um cara no canto me encarando."

Chris, sempre cético, revirou os olhos. "Você está paranóico."

"Juro. Só não tornem óbvio, mas olhem."

Um por um, meus amigos deram olhadas furtivas em direção à cabine. O rosto de Lisa empalideceu. "Ok... é, isso é assustador."

Mike terminou sua cerveja e acenou com a mão, descartando. "E daí? É só um maluco. Vamos ignorar ele."

Assenti, tentando me convencer de que não era nada. Mas minhas mãos não paravam de tremer.

Então, a jukebox parou.

Assim, do nada, a música parou no meio, deixando um silêncio opressivo. Ninguém reagiu. As conversas, as risadas—tudo simplesmente parou. Cada pessoa naquele bar se virou, em uníssono, para olhar para nós.

Minha respiração ficou presa na garganta. Seus olhos estavam escuros, como os do homem na cabine. Seus rostos estavam vazios, sem expressão.

Levantei tão rápido que minha cadeira arranhou o chão. "Precisamos sair. Agora."

Ninguém discutiu. Pegamos nossas coisas e fomos em direção à porta, mas no segundo em que fizemos isso, o bartender saiu de trás do balcão, bloqueando nosso caminho.

"Saindo tão cedo?" ele perguntou, sua voz estranhamente monótona.

Meu coração disparou. "Sim, nós—uh, temos trabalho amanhã cedo."

Ele sorriu, mas não havia nada de humano nisso. Era largo demais, forçado demais. "Fiquem. Tomem mais uma rodada."

Olhei para meus amigos. Eles estavam paralisados, seus rostos pálidos. Me virei para o bartender, forçando uma risada nervosa. "Fica pra próxima."

Seu sorriso não diminuiu, mas ele saiu do caminho. "Como quiserem."

Não esperei ninguém mudar de ideia. Empurrei a porta e todos corremos para o ar frio da noite.

Não paramos de correr até chegarmos ao carro da Lisa. Ela tateou as chaves, mãos tremendo, e finalmente conseguiu destrancar as portas. Entramos rapidamente, batendo as portas ao fechar.

Por um longo momento, ninguém falou. Apenas ficamos sentados ali, ofegantes, nossa respiração embaçando os vidros.

Chris finalmente quebrou o silêncio. "Que diabos foi aquilo?"

Balancei a cabeça. "Não sei."

Lisa girou a chave na ignição. O carro rugiu, ganhando vida, mas antes que ela colocasse em marcha, olhou para o bar.

E seu rosto ficou branco.

Segui seu olhar—e meu estômago afundou.

O bar tinha sumido.

Não fechado. Não vazio. Sumido.

Em seu lugar estava um prédio velho e desmoronando, suas janelas quebradas, sua placa pendurada em correntes enferrujadas. As luzes de néon estavam apagadas. O estacionamento estava rachado e coberto de mato.

Me senti mal. "Isso não é possível. Estávamos lá agora mesmo."

Ninguém falou.

Então, Lisa pisou fundo no acelerador.

Nunca mais falamos sobre aquela noite. Mas às vezes, quando estou bebendo, tenho aquela sensação—a mesma que tive naquele bar. E toda vez que isso acontece, paro de beber, pago minha conta e vou embora.

Porque agora eu sei: Alguns lugares não querem que você vá embora.

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