segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Acordo em uma Realidade Diferente Toda Vez que Durmo

Não sei onde mais postar isso. Talvez eu só precise colocar tudo pra fora antes de perder a cabeça. Ou talvez, só talvez, alguém por aí esteja passando pela mesma coisa.

Não sei quando começou. A primeira vez que notei algo estranho, era pequeno. Detalhes minúsculos que eu podia ignorar se me esforçasse bastante. Como minha marca favorita de cereal ter um logotipo levemente diferente, ou como o sobrenome do meu colega de trabalho mudou da noite pro dia.

No começo, achei que estava apenas lembrando errado. Todo mundo faz isso, né? O Efeito Mandela. O cérebro pregando peças, nos fazendo jurar que algo era diferente do que realmente era. Dei de ombros.

Mas continuou acontecendo.

Toda vez que eu dormia, o mundo ao meu redor mudava. Não era óbvio no início, apenas o suficiente para me fazer duvidar de mim mesmo. As ruas do meu bairro não estavam exatamente no lugar certo. Um filme que eu sabia que tinha visto antes de repente não existia. O aniversário da minha mãe mudou um dia.

Ainda assim, não entrei em pânico. Achei que estava apenas estressado, ou talvez meu sono estivesse sendo afetado por algo. Criei desculpas, tentei racionalizar. Até o dia em que acordei e encontrei meu irmão sentado no meu sofá, controle na mão, jogando Call of Duty como costumava fazer.

Meu irmão está morto há seis anos.

Congelei. Nem conseguia respirar. Fiquei ali parado, observando ele, esperando meu cérebro processar e dar sentido ao que eu estava vendo.

"Aí," ele disse sem olhar pra cima. "Finalmente acordou? Você tava dormindo que nem pedra."

Meu estômago revirou. Meu irmão tinha morrido num acidente de carro aos vinte anos. Fui ao funeral dele. Vi seu corpo no caixão. Fiz luto por ele. E mesmo assim, ali estava ele, agindo como se nada tivesse acontecido.

Me forcei a falar. "Mano..."

Foi quando ele finalmente olhou pra mim, franzindo as sobrancelhas confuso. "Que foi?"

Era ele. Sua voz, seu sorriso torto idiota, a cicatriz acima da sobrancelha de quando ele caiu do skate quando criança. Senti como se estivesse enlouquecendo.

Precisava sair dali. Murmurei algo sobre precisar de ar e cambaleei pra fora, minhas pernas mal me carregando. Minhas mãos tremiam. Minha respiração estava irregular. Me apoiei numa árvore, tentando forçar meu cérebro a funcionar.

Neste mundo, ele nunca entrou naquele carro. Talvez eu nunca tenha ligado pra ele naquela noite. Talvez algo que eu fiz no meu mundo original tenha mudado, e aquela única coisinha foi suficiente pra mantê-lo vivo aqui.

Foi quando tive certeza: isso não estava só na minha cabeça.

Eu estava mudando de realidade.

Depois disso, as mudanças ficaram mais drásticas.

Uma manhã, acordei e vi uma notificação aparecer no meu celular: Presidente Kanye West fará coletiva de imprensa emergencial.

Achei que era piada. Uma deepfake, uma brincadeira da internet. Mas quando liguei as notícias, lá estava ele, na Casa Branca, falando sobre política externa como se fosse apenas mais um dia.

Na próxima vez, a lua tinha sumido.

Não quero dizer que estava escondida atrás das nuvens. Quero dizer que literalmente não existia. Perguntei às pessoas sobre isso, e todas me olharam como se eu fosse louco. As marés ainda se moviam, as noites ainda eram escuras, mas ninguém se lembrava de já ter existido uma lua no céu.

Tentei entender. Comecei a manter um diário, anotando tudo que conseguia lembrar antes de dormir. Experimentei - fiquei acordado por dias, usei cafeína pra me manter desperto, mas nunca importava. No momento em que finalmente cedia ao cansaço e dormia, acordava em algum lugar novo.

Não importava o que eu fizesse, não conseguia ficar em um só lugar.

Então, justo quando estava começando a aceitar meu destino, as coisas pioraram.

Começou a me seguir.

Primeiro notei numa realidade que parecia quase normal. A única diferença que consegui encontrar era que todos os semáforos eram azuis em vez de vermelho e verde. Era só isso. Sem irmãos mortos, sem lua desaparecida, apenas... semáforos azuis.

Então, pelo canto do olho, eu vi.

Era alto, alto demais. Seu corpo se contorcia de maneiras que me davam náusea. Não tinha rosto, pelo menos não um que fizesse sentido pro meu cérebro. Cada vez que eu piscava, parecia mudar, como se não estivesse preso às mesmas leis da realidade como todo o resto.

Ninguém mais via.

Testei. Perguntei a um estranho se ele via algo estranho parado no fim da rua. Ele só me olhou esquisito e foi embora.

Foi quando soube: seja lá o que fosse, estava aqui por minha causa.

Na próxima vez que dormi, acordei numa nova realidade. E estava lá.

Não fala. Não corre. Só fica lá, observando. Sempre longe o suficiente pra eu fingir que estou imaginando, mas sei que não estou.

Toda vez que mudo, me encontra de novo.

Não sei o que quer. Talvez esteja me caçando. Talvez seja a vontade do próprio universo, enviado pra consertar o erro que sou eu. Porque sejamos honestos - algo assim não deveria acontecer. Eu não deveria estar deslizando entre mundos como um glitch num videogame quebrado.

Tenho usado minha habilidade pra fugir. Toda vez que o vejo, me forço a dormir, esperando cair em algum lugar seguro.

Mas a verdade é que acho que nunca vou encontrar um lugar seguro.

Acho que não posso continuar fugindo pra sempre.

Em algum momento, vou acordar num mundo que vai me matar primeiro. Ou a coisa - seja lá o que for - finalmente vai me pegar.

E o pior?

Não tenho motivo pra acreditar que existe uma realidade por aí com as respostas que preciso.

Já aceitei que nunca vou voltar pra casa.

Então estou postando isso aqui, porque talvez alguém mais tenha visto os sinais. Talvez você tenha notado pequenas mudanças, coisas que não consegue explicar direito.

Se você notou... não ignore.

Vou dormir agora.

Só espero que onde quer que eu acorde depois... não seja pior que aqui.

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon