sábado, 11 de outubro de 2025

Minha Reunião com os Sentinelese da Ilha Sentinel do Norte

Sempre fui atraído por lugares onde ninguém quer pisar. Não pela adrenalina, mas pelo mistério. Pelo desconhecido. Enquanto a maioria dos aventureiros se contenta com montanhas ou ruínas, eu buscava o que os mapas alertavam para evitar.

Minhas primeiras aventuras me levaram por cavernas esquecidas, zonas centrais de parques nacionais protegidos e vilarejos abandonados onde o silêncio gritava histórias. Cada lugar sussurrava segredos, mas eu queria vozes mais altas vindas do desconhecido.

Foi então que a África me chamou. O Saara. Um deserto que se estende além da imaginação. Não era só o calor ou o vazio que me fascinavam — era a solidão das pessoas que viviam ali, isoladas e indiferentes ao barulho do mundo moderno.

De lá, o chamado mudou para a Amazônia. Os pulmões da Terra, como dizem. Mas, pra mim, era um coração — pulsante, antigo e vivo. Contratei um guia local, um cara quieto que dizia que sua vila tinha laços com uma tribo isolada no fundo da floresta. Milagrosamente, fomos bem recebidos — nada de flechas, nada de medo. Suspeito que dinheiro trocou de mãos nos bastidores, mas não perguntei. Só observei, escutei, aprendi.

A cultura deles era intocada por telas e concreto. As ferramentas eram de ossos e cipós. Até os jogos pareciam ecos de um tempo que esquecemos. Lembro de sentar perto da fogueira deles, vendo as crianças rirem com nada além de pedras pintadas nas mãos. Isso fez a cidade parecer uma simulação.

E foi aí que caiu a ficha — eu precisava de mais. Não só de mais tribos, mas de mais verdade. Algo mais profundo, algo escondido. Algo... de outro mundo.

Comecei a ler sobre os Sentinelese. Uma tribo que vive na Ilha Sentinel do Norte, na Baía de Bengala, ferozmente protegida e intocada por forasteiros. Ninguém sabia de verdade a língua deles, suas crenças — ou mesmo como eles eram de perto. Toda tentativa de contato terminava em violência. O governo indiano declarou a ilha proibida. Até os satélites pareciam manter uma distância respeitosa.

Isso, pra mim, só significava uma coisa: eu tinha que ir até lá.

Entrei em contato com alguns pescadores que trabalhavam na região, mas a maioria recusou. Aumentei a grana que ofereceria pra quem me ajudasse a furar os patrulhas navais do governo. Por sorte, um cara topou. Ele tinha olhos meio verdes, cabelo bagunçado, barba e bigode crescidos — e um cheiro constante de peixe grudado nele.

Pra minha surpresa, o inglês dele era fluente, e ele falava com turistas e locais nas línguas nativas deles. Um francês. Uma garota espanhola. Até uma mulher mexicana. Isso, pra mim, era estranhamente perturbador.

Antes que eu pudesse perguntar, ele murmurou: “Tá querendo saber como eu falo todas essas línguas, né?”

Ele perguntou como se tivesse lido minha mente.

Ainda curioso, respondi: “Sim.”

“Depois de anos pescando e negociando sem parar, guiando estrangeiros por essas trilhas, eu não só aprendi as línguas — eu vivi elas. Dinheiro fala, sabe. Não sou eu falando. É o dinheiro.”

“Ah! Beleza... Faz sentido,” respondi, ainda meio desconfiado.

Ele me levou até a ilha isolada num barco a motor todo detonado, com a superfície rachada. Quando chegamos, já passava das 23h no horário da Índia — exatamente como planejamos. Queria chegar à noite porque as chances de topar com os Sentinelese eram menores. Ele conhecia bem as rotas e me avisou sobre possíveis intervenções navais. Quando perguntei “Como você dribla eles?”, ele respondeu com um sorrisinho: “Dinheiro fala,” e deu uma gargalhada de doido.

Por sorte, não fomos pegos. Tudo graças ao conhecimento absurdo dele da área. Antes de me deixar, ele me entregou um revólver. Não pedi, mas ele disse: “Por via das dúvidas,” e exigiu mais 15 mil rúpias indianas. Depois, ele sumiu — não só do barco, mas completamente. Vi ele caminhando em direção ao mar, e então... puff, sumiu.

Não pensei muito nisso. Continuei avançando pela ilha.

Era noite. Não, eu não fui idiota de vir à noite — se viesse de dia, a tribo podia me fazer em pedaços.

Com cuidado, segui em frente, arma numa mão, celular na outra. Sem sinal, claro.

Minha única fonte de luz era a lanterna do celular. Olhando pra cima, notei as estrelas — brilhantes, piscando em perfeita sincronia, como se fossem programadas.

Enquanto caminhava pela mata, meu pé direito bateu em algo metálico. A curiosidade falou mais alto, e apontei a lanterna pro chão. Era uma caixa estranha com um mecanismo esquisito. Pequena, mas gravada com símbolos esquisitos. Coloquei no bolso e segui em frente.

Quando cheguei no que achei que era a colônia deles, tomei um susto. Não tinha ninguém — só silêncio, e um zumbido esquisito, com o canto dos insetos quebrando o vazio. Esperava cabanas de palha, talvez alguém dormindo do lado de fora, mas nada.

Sentei na areia branca e macia, pensando se o pescador tinha me enganado. Talvez nem fosse a ilha certa. O “dinheiro fala” dele ainda ecoava na minha cabeça.

Aí ouvi um barulho. A areia a poucos metros começou a se mexer, subindo lentamente, como se estivesse explodindo. Prendi a respiração. Meu primeiro pensamento? Um monstro. Algum bicho nativo da ilha. Me escondi atrás de duas palmeiras gigantes.

E então... eles surgiram.

Um após o outro, eles emergiram — esticando as mãos, girando o pescoço e... levitando. Não só levitando — nadando pelo ar. Como sereias sinistras que flutuavam em vez de nadar.

Vi as caixas pequenas de novo — dezenas delas. Alguns dos seres se transformavam nessas caixas. Assustado, joguei fora a que tinha pegado antes.

Meu coração disparou. Eu não conseguia processar o que via. Momentos depois, desmaiei.

Quando abri os olhos, eles estavam me cercando. Falavam em tons abafados, vozes que arrepiavam até a espinha.

Enquanto cochichavam, notei mais dessas caixas ao redor, brilhando, emitindo lasers afiados de onde mais deles saíam.

Implorei. Eles riram, os olhos deslizando pra fora das órbitas. Uma luz verde brilhante preenchia os espaços vazios. Até hoje não sei como sobrevivi ao que veio depois.

Eles me amarraram a um poste de metal que surgiu da areia — frio, quase sobrenaturalmente frio. Depois, me atacaram com cristais que saíam dos olhos deles. Os cristais batiam como agulhas. Ainda carrego as cicatrizes. A dor era aguda, como mil picadas de formiga de uma vez. Eventualmente, desmaiei de novo.

Quando acordei, o pescador estava do meu lado — segurando um coco rachado.

“Bebe.”

Pulei no coco e engoli cada gota.

Ele tinha chegado num barquinho. Eu ainda estava em choque. Sabia que ninguém ia acreditar em mim. As picadas ainda doíam, mas tentei esconder — até dele.

Mais tarde, enquanto estava perto do corrimão do barco, olhando pra água turquesa — ainda tremendo, ainda olhando pra trás pra garantir que ninguém me seguia — notei meu reflexo.

Meus olhos brilhavam em verde.

Ao lado do meu reflexo, vi o dele.

“Bem-vindo ao clube,” ele disse, gargalhando como louco de novo.

Ainda carrego esses olhos. As feridas. As memórias.

Não saio mais sem óculos de proteção. E mudo de lugar em lugar... pra que eles não me encontrem.

É meia-noite, e escrevi tudo isso “levitando”.

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