terça-feira, 7 de outubro de 2025

Tem um cara que fica aparecendo do lado de fora da minha janela, e ele não para de fazer barulhos de bebê...

Tudo começou há duas semanas — uns chorinhos fracos de bebê vindo lá de fora da janela, uns cinquenta metros pra dentro do meu quintal, que a minha janela dá direto pra lá. No começo, eu conseguia aumentar o ventilador e abafar o som, mas depois de umas noites, ele ficou mais alto — ou mais perto. Tentei espiar pela janela pra achar de onde vinha, mas nada. E agora tava alto demais pra ignorar. Finalmente, numa noite, eu vi a silhueta de um homem, e agarrei a chance. Joguei um casaco e chinelos e saí pra encarar esse maluco, mas de repente caí na real de como isso era perigoso — um estranho fazendo sons de choro de bebê no meu quintal. Peguei o taco de beisebol e fui pra porta dos fundos.

Quando abri a porta, uma parede de chuva me acertou na cara. Tava caindo um toró — lençóis de água batendo na varanda e encharcando meus pés. Minutos antes, o céu tava limpo. Agora parecia que a tempestade tinha rolado só pra me foder.

Apertei o taco e saí, o frio molhado invadindo os chinelos na hora.

"Ei!" gritei pro escuro. A palavra mal saiu da boca. A chuva engoliu tudo, transformando minha voz num eco abafado que morreu antes de chegar nas árvores.

Através da cortina de água, eu mal conseguia ver a silhueta de novo — parada bem onde os choros vinham. Imóvel. Observando.

Levantei o taco e bati forte na cerca, o estalo cortando a chuva. "Tô te avisando!" gritei, a voz tremendo mais do que eu queria. "Some da porra daqui!"

A figura não se mexeu de cara — só ficou lá, encharcada e parada. Aí, devagar, ele se virou e andou pro escuro, a silhueta sumindo atrás da chuva até virar nada.

Fiquei ali um segundo, escutando. Só o barulho da água caindo. Meu coração tava na boca, mas eu me convenci de que tinha acabado. Voltei pra dentro, tranquei a porta e tirei os chinelos encharcados. Quando deitei de novo, o zumbido do ventilador quase me fez achar que tinha sido um sonho ruim.

Aí o choro começou de novo. Mais alto dessa vez. Mais agudo.

Eu congelei. Tava bem do lado de fora da janela.

Minha mão tremia enquanto eu pegava a persiana, o som ficando mais grotesco a cada segundo. Eu puxei ela de uma vez —

E lá tava ele.

A cara dele grudada no vidro, água da chuva escorrendo pela pele pálida e doente. Os olhos afundados, escuros como buracos cavados no crânio. E aquele sorriso — largo, anormal, esticando de orelha a orelha — se contorceu enquanto ele soltava outro choro de bebê, uivante e infantil.

Eu tropecei pra trás, pisando na borda do tapete enquanto corria pro celular. Minhas mãos tremiam tanto que quase larguei ele. "Tem alguém do lado de fora da minha casa!" berrei no telefone. A operadora tentou me acalmar, disse que os policiais tavam a caminho, mas cada segundo parecia uma eternidade.

Eu mantive os olhos grudados na janela o tempo todo. O cara não se mexeu — só ficou com a cara colada no vidro, aquele sorriso horrendo congelado. Aí, quando o som distante das sirenes finalmente chegou nos meus ouvidos, ele se virou e sumiu no escuro.

A polícia demorou uma eternidade pra chegar. Quando eles pintaram, a chuva tinha parado de vez. O ar tava pesado e parado, o tipo de silêncio que parece errado depois de uma tempestade. Eles vasculharam o quintal, checaram a cerca, até fuçaram nas árvores. Nada.

Só pegadas na lama levando até a janela — pegadas que pareciam sumir e desaparecer na metade do caminho de volta pro mato.

Eles me disseram que provavelmente era uma pegadinha, talvez algum idiota passando por ali. Eu assenti e fingi que acreditava. Quando eles foram embora, a casa pareceu mais vazia do que nunca.

Eu deitei de novo, olhando pro teto, tentando me convencer de que tinha acabado. Por um tempo, ficou quieto. Aí veio o som de novo — o choro do bebê.

Mais perto.

Eu me sentei, puto e apavorado ao mesmo tempo. "Chega dessa merda!" murmurei, acendendo a luz.

Foi aí que eu vi — pegadas na lama. Frescas. Cruzando o carpete, direto até a porta do armário.

O choro tava mais alto agora, vindo de dentro. Eu fiquei lá olhando pro armário, a respiração curta, o som daquele choro horrendo ainda vazando por trás da porta. Minha mão apertou o taco enquanto eu dava passos lentos e cuidadosos pra frente, as tábuas do piso rangendo debaixo dos pés.

Quando finalmente cheguei na maçaneta, hesitei — só o suficiente pra me odiar por isso — e puxei a porta.

O choro parou.

Lá dentro, no chão do armário, tava uma coisa pequena e molhada. Eu estreitei os olhos, me inclinando mais perto. Não era um bebê. Nem humano.

Era um passarinho minúsculo, meio formado — pele rosada esticada fina, asas mal desenvolvidas, tremendo um pouco como se ainda estivesse vivo. Um feto de passarinho bebê.

Eu recuei tropeçando, enojado e confuso. "Que porra é essa..." sussurrei, a voz falhando. O cheiro me acertou em seguida — algo azedo e metálico — e eu tapei a boca, tentando não vomitar.

Aí um som atrás de mim fez meu sangue gelar.

Thud.

Eu virei a cabeça na hora. Minha cama tinha se mexido — quicou uma vez, forte o suficiente pra fazer o estrado tremer.

Outro thud.

Aí o cobertor começou a se mexer, como se algo embaixo estivesse rastejando, se empurrando pra cima. O tecido esticou e levantou, devagar se espalhando sobre um volume do tamanho de um humano bem no centro.

Um choro de bebê de repente explodiu no meu ouvido, tão agudo e perto que pareceu vir de dentro da minha cabeça — colado no meu tímpano. O som me rasgou por dentro, estourando algo lá no fundo. Eu gritei e agarrei a orelha enquanto sangue quente começou a escorrer pelo meu pescoço, grosso e quente na pele.

Ainda meio curvado, eu olhei pra cama. O volume embaixo do cobertor tava se mexendo de novo, subindo e descendo devagar como se respirasse. Eu não tinha o taco — tinha largado perto do armário — e o celular era minha única arma sobrando.

Eu peguei ele, mas a tela tava morta, preta, refletindo só minha cara tremendo. O pânico tomou conta. Sem pensar, eu joguei ele na cama.

No segundo que acertou, uma mão pálida e ossuda saiu voando debaixo do cobertor, impossível de tão rápida. Ela pegou o celular no ar e bateu ele no chão, o estalo do vidro quebrando ecoando pelo quarto.

Aí vieram os sons de novo — chorinhos agudos e gorgolejantes de bebê — sobrepostos e distorcidos, como se dezenas de gorrinhos minúsculos estivessem chorando de uma vez de dentro do colchão. De repente, o cobertor começou a inchar e se contorcer. Um por um, formatos minúsculos se empurraram pra fora debaixo — e rolaram pro chão com thuds molhados e pesados.

Dezenas deles.

Bebês brancos como cinza, a pele quase transparente na luz, olhos grudados mas ainda chorando — cada som perfurante e anormal. Eles começaram a rastejar pra mim, as perninhas se debatendo num ritmo estranho, os choros se misturando num coro ensurdecedor.

Eu recuei tropeçando, chutando o chão, mas eram muitos demais. Mãos frias e escorregadias grudaram nas minhas pernas, nos braços, na roupa. Eu tentei gritar enquanto eles subiam mais, as bocas se abrindo largas — largas demais — e aí começou a mordida.

Dentinhos minúsculos afundando na minha pele. Nos braços. No pescoço. Na cara.

Eu me debati e girei, mas eles só vinham mais, o quarto ecoando com o som agudo e sem fim dos choros.

E aí — tudo parou.

O som. O movimento. A dor.

O quarto tava imóvel. As mordidas, os gritos, tudo — sumido. Eu pisquei através das lágrimas e do sangue, o peito arfando, e percebi que a luz do sol tava escorrendo pelas persianas. Manhã.

O chão tava vazio. Sem bebês. Sem mão. Só a bagunça do meu quarto — sangue no carpete, meu celular estourado do lado da cama, e pegadas na lama sumindo no nada.

Eu não lembro de muita coisa depois disso. Consegui me arrastar pro hospital, onde eles trataram os ferimentos e fizeram exames. As cortes não faziam sentido, eles disseram, mas costuraram tudo e me mandaram descansar.

Agora tô em casa de novo. A casa parece quieta demais. Minha orelha ainda lateja onde o tímpano estourou, e juro que às vezes ouço chorinhos fracos quando fecho os olhos.

O sol tá se pondo logo.

E eu tô apavorado com o que essa noite vai trazer.

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Quem sou eu

Minha foto
Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon