O topo do Pico de Covington estendia um dedo rochoso sobre as colinas úmidas dos Ozarks. Lá embaixo, ficava a pequena cidade de Covington, onde nossa família definhava às margens do rio Arkansas. No final dos anos 70, com a chegada da primavera, o rio chicoteava sua cauda de serpente de um lado para o outro, de planície em planície.
Papai tinha um criadouro e tanto, e a pequena Ros e eu passávamos o tempo nas margens abaixo do Pico de Covington. Sabe, as correntes haviam escavado um canal profundo na face do pico, e bem na beira do rio — do lado íngreme de Covington — elas formaram uma caverna. A gente amarrava todo tipo de tranqueira no corpo, embrulhava em plástico e mergulhava fundo na encosta da montanha: revistas pornô, fogos de artifício M-80, placas de carro velhas — qualquer coisa que conseguíssemos surrupiar e que chamasse a atenção dos nossos olhos de esquilo.
Naqueles dias, antes de crescermos, antes que a mina e a represa secassem as margens e deixassem apenas um filete de pântano, ainda tínhamos esperança para nossa família. Agora, uma colina árida, um trailer murado e os restos fantasmagóricos de um criadouro e uma mina abandonada são tudo o que sobrou do nosso nome. O rio secou há muito tempo, deixando apenas um penhasco rochoso. A corrente verdejante que outrora enchia nossos bolsos e corações a cada primavera não passa agora de uma marca seca e sinuosa, como uma cicatriz de enforcamento numa cidade velha demais — teimosa demais — para morrer.
Uma colina amaldiçoada desde os dias em que homens brancos perseguiam trabalhadores de plantações até a morte ali, e um homem — não, um maldito garoto — fica parado, vendo os espectros do seu passado dançarem sobre os destroços da sua vida. Apropriado, suponho, que este lugar seja onde tudo termina.
Naqueles dias nas cavernas lá embaixo, olhando as revistas de nudez — foi quando percebi que era diferente. Um tipo de renascimento. Mas diferente de um jeito que um garoto é melhor não falar; guardar pra si e vomitar em conversas sussurradas no quarto. Eu sentia tanto medo da verdade. Mas a verdade era turvada pela minha mente adolescente cheia de tesão. Não importava quem eu era. Todos tínhamos segredos, e de algum jeito grotesco, essa cidade trancava nossas mandíbulas. Todos dormíamos e caminhávamos pela vida, zumbificados sob o peso da verdade e presos por juramentos às tradições dos mais velhos — um fardo carregado pelos jovens, se contorcendo em seu silêncio miserável.
Estou cansado agora. Tá quente aqui. Esse último verão indígena me concede um momento final de felicidade. Folhas secas e queimadas pelo sol caem ao meu redor, e a lua brilha fraca esta noite, sob a ameaça de chuva. Vou saborear este momento como um chocolate quente, pensar no meu irmãozinho e dar esses últimos passos.
Na sátira cruel que é minha vida, a percepção chocante das águas da enchente assaltou minha visão. Justo quando a paz havia se instalado em mim — satisfeito com o desfecho — percebi que a chuva da manhã enviara uma torrente sobre o penhasco rochoso abaixo. Não foi rápido; tive tempo de sobra pra me arrepender da minha saída teatral e mal planejada. Pular de um maldito penhasco — quem diabos faz isso? Por que eu não podia ter sido mais simples? Por que não podia ter sido como meu pai? Um .45 resolveu pra ele, e eu até tinha o mesmo…
Acontece que a maioria das pessoas deixa este mundo do jeito que viveu nele. Usei meus últimos momentos me arrependendo de mim mesmo — uma ópera trágica de destino, destinada a nada mais do que todos nós somos. Não havia salvador pra mim, apenas a onda de água que partia ossos e um impacto ligeiramente amortecido — o suficiente pra quebrar meus ossos de quase todas as formas imagináveis e me deixar flutuando de barriga pra cima, à deriva na dor das minhas escolhas.
Uma clareza tomou meu corpo em pânico. Com tanta dor, era como se eu não conseguisse focar o suficiente pra sentir cada uma delas individualmente. Então, em vez disso — clareza. A dor quente de sofrimento demais estava lá, mas parecia distante, como se eu flutuasse acima dela. Tossi uma risada úmida, senti o gosto inesquecível de ferro, e lentamente vi as estrelas desvanecerem acima.
Acordei em agonia ardente, meu grito se acalmando lentamente num entorpecimento profundo e refrescante — como muito Vick’s das mãos frias e ásperas da mamãe. Através de olhos embaçados e úmidos, o quarto brilhava em laranja com um fogo crepitante. Eu estava sentado ereto, corpo amarrado, mas de algum modo confortado. Trapos e tecidos foram colocados nos pontos de pressão das cordas.
“Ahh, tão cedo, tão cedo. Nunca consigo acertar isso.” Uma voz veio por cima do meu ombro, jovial e irregular. As palavras pareciam desajeitadas, mal pronunciadas — como um cachorro tentando imitar seu dono — um sotaque tão familiar, mas completamente estranho.
“Ah, minha máscara!” A imagem borrada de galhos e folhas passou por mim, raspando contra minha carne dolorida. “Nossa, não, não, não. Argh.” A voz bufou. “Isso simplesmente não tá certo. Me perdoe — onde tá essa maldita máscara?”
Conforme minha visão clareava, a massa desajeitada à minha frente remexia um baú velho, jogando itens com abandono. O quarto rangia e gemia; as pedras cobertas de musgo que formavam as paredes pingavam com a chuva recém-caída. O teto acima era entrelaçado com galhos que cresceram de propósito numa trança que — quase — cumpria seu papel, exceto por alguns buracos por onde a luz da lua entrava.
A mesa à minha frente era familiar. Era a velha mesa de esfola que papai montava lá na curva — a que pensávamos que a enchente levou. Agora, estava adornada com louças quebradas e utensílios de cozinha jogados fora há muito tempo.
“Achei!” a voz exclamou, puxando algo do baú e erguendo-o à luz da lua. “Acho que você vai gostar também!” O objeto foi abaixado com cuidado entre os galhos amontoados e, num movimento rápido, a coisa girou.
A luz iluminou uma velha máscara do Garfield — amarrada com madeira nodosa, pedaços de musgo e galhos torcidos numa caricatura grotesca do que já foi humano.
“Você gosta de espaguete?” riu, orgulhoso da sua humanização. “Espera — não, lasanha! Droga…” A fera balançou a cabeça. “Não importa. Gostou? Lembra dela? A mesma que você usou em 86 — você tava tão orgulhoso, tão exibido, se me lembro bem! O jeito que você desfilava, com o macacão de gato e a máscara, gritando ‘Eu amo lasanha!’ sem parar…”
Ergueu os braços, galhos de bétula longos e retorcidos subindo de um tronco nodoso. A fera era inteiramente feita de bétula, exceto pelo icor pingando da base da máscara do Garfield. Lentamente, removeu a máscara, revelando um rosto calejado por crescimentos de casca e musgo pendendo como uma barba. Pedaços de osso brilhavam à luz da lua, e bem ali — quase totalmente tomado pelo crescimento ao redor — um olho vermelho e esponjoso se movia dentro do resto de uma órbita.
“Me desculpe,” disse, encolhendo-se de vergonha. “Você é o primeiro convidado que tenho em muito tempo. Muitos anéis!” Riu e deu um tapa nas raízes da árvore ao lado. “Piada de árvore. Desculpa — onde eu tava? Ah, sim. Pequeno Gussy! Tava tão animado por esse dia.”
Ele se levantou, arqueando as costas pra não romper o teto baixo da cabana. “Esse lugarzinho apertado — argh, ainda ser humano…” Com as costas viradas, pegou uma chaleira do fogo. “Sabe, parte de mim ainda lembra. Difícil se livrar, mesmo depois de todos esses anos… Meu irmão, o calor do leite da minha mãe. A pele quente e escura dela.”
O quarto úmido tremeluzia com sombras selvagens na presença da criatura. Um frio penetrante tomava o ar, brigando com o calor do fogo que agora aquecia minhas canelas e pés.
“Você acha que elefantes não esquecem? Ha! Espera só — árvores são outra coisa!” Colocou uma xícara na mesa e arrancou um broto fresco de um trecho perto da lareira. O cheiro de menta doce explodiu da água fumegante. A criatura se agachou lentamente diante de mim, levando a xícara aos meus lábios.
“Eu sei — você acha que sou um monstro.” O chá era calmante, mas cuspi em desafio.
“Calma, calma… é só chá. Se eu quisesse te envenenar, teria me dado ao trabalho de te amarrar com conforto?” Um pedaço de musgo se ergueu como uma grotesca imitação de uma sobrancelha. “Hmm? Além disso, se eu quisesse você morto, parece que bastava deixar a natureza seguir seu curso. Pobre Gussy. Um penhasco. Até seu pai, aquele desgraçado horrível, teve ideias melhores que essa.”
Ele pressionou a xícara de volta aos meus lábios. Pensei, que se foda, e bebi fundo.
“Viu?” disse, orgulhoso, sorrindo.
“Quem é você?” rosnei com as cordas vocais destroçadas.
“Por favor, não deve…” Um olhar sincero de preocupação e pena enrugou seu rosto de madeira. “Tá bem, tá bem…” Remexeu em bugigangas e tranqueiras escondidas em cavidades escuras dentro de seu corpo. “Jogo de memória.”
Franziu o rosto, cavando mais fundo até puxar uma série de papéis molhados e um pequeno caderno. “Bem, é um pouco difícil dizer,” murmurou, folheando as páginas com destreza quase humana. “Minha mãe me chamou de Ezequiel — e apesar da péssima referência literária, acabei gostando. Mas já tive muitos nomes. Para o povo que vagava por essas terras — minha tribo nativa — eu era Betula. Pro seu pai? Um fantasma. Azar. Tudo e todos que ele culpava por sua desgraça. O motivo de ele ter tirado a própria vida — e o acidente que fechou aquela mina nojenta dele.”
A voz de Ezequiel ficou afiada. “Uma mina! Uma reivindicação numa floresta que ele não tinha direito. Nenhum direito!”
O quarto vibrou, o som ecoando pela madeira e pedra, e então caiu em silêncio sob o peso de sua voz.
“Não importa. Veja, Gussy, a irreverência dele foi sua ruína — inferno, a ruína da cidade inteira. Eu não queria, não!” Ele cambaleou até a lareira e pegou um anuário desgastado do mantel. “Mas ritual é ritual, e sangue é sangue, e tínhamos um acordo!” Girou com fervor e se aproximou, livro aberto, dedos de madeira podre apontando firme para uma foto.
“Querido irmão,” sua voz tremulou. “Acredito que isso é… ugh, ugh… 1965! Ele morreu numa guerra, e eu… nasci… de certa forma. Seu pai nojento tinha acabado de fazer um acordo sujo com um verme de homem, numa tentativa de tomar terras que não eram dele. Ele e esse homem — seu próprio Senador Covington — encomendaram um projeto que garantiria a ele dificuldades de guerra e a capacidade de produzir carvão como fonte de energia pro rio Arkansas. Veja,” ele enfiou o livro na minha cara, “sempre observei de perto, segui, cutuquei e tropecei nos fios certos em favor do meu irmão. Elias teria o benefício do seu querido irmão ao seu lado, mesmo que ele não soubesse…”
Ele folheou as páginas até uma foto familiar demais — um recorte de jornal do dia em que meu pai treinou até o campeonato estadual. “Olha, esse é seu pai, o técnico de basquete, e meu doce Elias.” Um franzido triste enrugou seu rosto enquanto seu corpo sacudia, como um cachorro se livrando de água. “Elias herdaria os dons abundantes do sacrifício da nossa família. Mas seu pai…” Ele abaixou a cabeça ao peito. “Vendeu a maior parte do criadouro, conseguiu os direitos pra uma mina e virou herói da cidade! Uhu, tantos empregos.” Ele agitou os braços e jogou o livro pelo quarto.
“E convenceu meu irmão a se alistar…” O tom de sua voz se enrolou em ira, e eu podia ouvir o ranger dos músculos de madeira se apertando. “Não era o fardo dele pra carregar. Nossa pobre mãe já tinha perdido demais.”
O clima ficou mais sombrio, e os galhos de folhagem murcharam com reverência ao meu redor.
“Um garoto, perdido na floresta — todos sabiam do acordo. Acho que eu também sabia, mesmo com apenas três anos. A floresta na minha janela sempre me chamava. Sempre cuidava de nós. Sempre cuidava de Keokuk.”
Franzi o nariz. “Keokuk, a vila abandonada?” perguntei.
“Haha, não parece abandonada pra mim. O velho Sr. Covington só deu uma nova pintura, só isso.”
“Isso simplesmente não é verdade! Meu pai disse pra nunca ir pras cabanas abandonadas naquelas matas.”
“Seu pai é um mentiroso…” Ele arrastou as palavras num tom irritado, lento e grave. “Já não estabelecemos isso?”
O ar úmido ficou silencioso, e o zumbido distante das cigarras ecoava sobre o murmúrio do rio.
“Brady Covington era uma cobra de homem. Senador estadual, recém-eleito…” ele bufou. “E seu herói papai fez ele encomendar um projeto pra novas terras, assim que os cheques da herança da sua família foram descontados.”
“Sempre gostei de você, Gussy. Sabia que você era diferente, assim como eu, então…” Ele alcançou uma mochila velha e fedorenta que parecia dolorosamente familiar.
“Não pode ser!” Tentei me soltar das amarras.
“Pensei que se ele soubesse, vocês dois poderiam ser felizes.” Ele encolheu os ombros arbustivos em vergonha — uma vergonha que caía vazia contra a raiva fervendo no meu corpo meio morto.
“Você me expôs, seu filho da puta!”
“Achei que se ele encontrasse suas cartas, ele perceberia… Não pensei que os amigos dele encontrariam primeiro,” ele lamentou, implorando perdão.
“Fui espancado, fui abusado, fui ridicularizado e torturado por sua causa!” A raiva jorrava em saliva ensanguentada pelo meu peito. Sentia lágrimas quentes ardendo nas feridas frescas do meu rosto.
Ele desabou no chão, e um choro fraco farfalhava por suas folhas. “Eu sei, eu sei. Sempre acho que sei o que é melhor — sábio, antigo e tudo mais. O orgulho cresce nas raízes de árvores antigas antes de serem derrubadas pelo vento. Aquela noite, no acampamento de guardas, quando encontraram… e vocês dois… Pensei que seu irmão ajudaria. Pensei que eu também…”
Lágrimas verdadeiras brotaram em sua órbita quebrada e molharam sua barba de musgo como orvalho. “Queria ajudar…” Ele estufou o peito e respirou fundo, rangendo como vento em galhos mortos. “Mas tínhamos planos,” ele sorriu.
“O filho de Brady foi o primeiro a ir — um escorregão acidental da borda do Pico de Covington.” Ele gargalhou com uma ironia seca. “Parece apropriado, não é? A cidade que seu pai roubou de nós, e o pico homônimo de Brady, seria o mesmo toco” — ele riu, fazendo aspas com os dedos — “que o filho dele tropeçaria e cairia pra morte. Fala sobre tropeçar nas ambições da sua família. A mina que faliu a cidade… sem carvão pra encontrar.”
“Essa eu me orgulhei bastante. Tive que usar um pouco de inteligência pra conseguir esse feito.”
“E o colapso?” gritei, tremendo de raiva. “O colapso que matou Henry!” Puxei forte contra as amarras, fazendo jorrar sangue quente que pingava no chão.
“Ele também era parte do problema!” Ele se ergueu num fervor demoníaco, pisando lentamente pelo quarto. “Ele não ia te amar, Gussy! Não como eu amo! E quando o vi encolhido no canto… com o que os amigos dele fizeram com você—”
“O que você fez comigo! O que você, porra, fez comigo!” Cuspi o que podia de saliva ensanguentada.
“Ele era um covarde!” Minha cabeça caiu no peito. “Me mata. Me mata, por favor.” Choraminguei, desolado.
“Um sonho morreu aquele dia, Gussy. A ideia de que pureza e entendimento poderiam sobreviver. Eu ansiava por conexão humana — sofria por isso. Vi meu irmão, minha mãe envelhecerem, relembrando álbuns de fotos, quando nossa família era inteira. Queria tanto que ela me abraçasse, Gussy!” Rios de lágrimas jorravam do seu rosto. “Não ousava mostrar minha cara. Não podia. Eles já sofriam demais.”
Ele parou — recompôs-se. “Desculpe-me pelo colapso. Isso foi particularmente vingativo.”
Eu bufei.
“Não significa nada, eu sei. Mas eu sinto muito… Observei, protegi, e me senti abandonado com tudo o que estava acontecendo na nossa bela Keokuk. Mas fiquei de lado enquanto a família Covington destruía tudo o que eu havia sacrificado e nascido pra proteger. Então percebi…”
Um sorriso brilhante iluminou seu rosto. “Era por isso que eu era necessário — por que o ritual existia, por que deve continuar. Estou aqui pra impedir o mundo de invadir nossa terra. E se os Covingtons, lavados pela modernidade,” ele gesticulou com nojo, “tivessem esquecido seu ritual e juramento, eu teria que fazê-los lembrar por quê.”
“Por favor, me mata,” chorei.
“Ah, não. Não por um tempo danado — eras, ouso dizer.”
Ele arrastou-se até uma chaleira e arrancou ervas do seu peito, amassando-as rapidamente antes de jogá-las na chaleira. Derramou um líquido escuro de um cantil costurado, que chiou ao tocar a água fervente. Um cheiro acre subiu do fogo e formou uma nuvem que parecia despertar a floresta ao nosso redor.
Os sons de correria, uivos e gemidos de animais nos cercaram. E algo mais antigo rangia e gemia abaixo — rugia em murmúrios febris sob nossos pés.
“Não é agradável. Vou usar a máscara, porém — pra te levar pra casa. Sabe, boas lembranças. Você terá que estar acordado, mas…” Ele puxou uma faca afiada, feita de pedra, de uma bolsa de musgo e deslizou até mim. Lutei a princípio enquanto ele levantava minha cabeça, mas afundei na futilidade quando ele derramou o líquido horrível na minha garganta.
A floresta ganhou vida, e uma aura brilhava de todos os cantos. Zumbidos e murmúrios passavam numa torrente de tons que lentamente se fundiam numa melodia suave. Senti calor, dormência, medo — mas principalmente calor. Eu literalmente tinha acabado de tentar me matar, então, quer saber… que se foda.
Enquanto eu vagava no torpor, deixando o zumbido me envolver, ele segurou minha cabeça gentilmente e deslizou a faca de pedra na minha garganta.
“Queria essa conversa, Gussy. Tinha que confessar. Te amo, e isso é uma honra. Mas não posso te deixar pedir ajuda. Você vai renascer, como eu — e então consumirá o que resta do meu casco, e com ele, o conhecimento de tudo ao seu redor.”
A caminhada até o topo do Pico de Covington foi um borrão. A vida selvagem da floresta se movia ao nosso redor com respeito e estima. Juro que os cervos estavam olhando pra mim. O desfile estava vivo.
No pico, vi um bosque de bétulas — uma delas aberta como um útero. O ar ao meu redor vibrava com uma energia que picava como agulhas. O horror dos meus membros sendo removidos quase passou despercebido, exceto pelos jorros arteriais que banharam seu rosto.
Deslizei pra dentro da árvore, como imagino que um esquilo faria num ninho, e senti o movimento de galhos — ou raízes — entrando nas minhas feridas. Não pra machucar ou devorar, mas pra me segurar, como uma mãe faria.
Senti silêncio. Não podia falar mesmo que quisesse, mas não teria. A beleza da floresta e das árvores era onipresente. Senti-me amado. Senti-me aceito — algo que não sentia há muito tempo. O útero me envolveu lentamente como um cobertor.
Ele colocou a máscara do Garfield, e justo antes de se fechar, vi uma lágrima rolar pela máscara.
“Te amo, Gussy.”
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