Foi uma noite fria e sem lua quando me mudei para a antiga casa vitoriana na Rua Elm. O lugar tinha um charme sinistro, com suas paredes desgastadas cobertas de hera e pisos de madeira rangentes. A proprietária anterior, uma senhora idosa chamada Sra. Abernathy, faleceu, deixando a casa para mim em seu testamento. Eu não a conhecia bem, mas seu advogado me assegurou que ela não tinha parentes vivos e que eu era sua única herdeira.
Eu fui atraída pela história e pelo caráter da casa, apesar do sentimento inquietante que parecia se instalar no fundo do meu estômago quando eu atravessava o umbral. O corretor de imóveis me assegurou que era um ótimo negócio, mas agora eu entendia o porquê. No momento em que me mudei, coisas estranhas começaram a acontecer.
Na primeira noite, ouvi sussurros fracos na escuridão, ininteligíveis e arrepiantes. Eu o descartei como minha imaginação me pregando peças, atribuindo-o à desconhecida casa nova. Mas à medida que os dias se transformaram em semanas, os sussurros se tornaram mais altos e persistentes. Pareciam vir da adega, um lugar que eu ainda não tinha explorado.
Uma noite, a curiosidade venceu. Armada com uma lanterna e trêmula de apreensão, desci às profundezas da adega. O ar ficou mais frio a cada passo, e os sussurros se tornaram mais distintos. Eram vozes de crianças, clamando por ajuda. Meu coração disparou enquanto seguia o som até um canto escondido da adega.
Lá, encontrei uma caixa pequena e empoeirada. Dentro estavam fotografias desbotadas de crianças, com rostos cheios de medo e tristeza. Os sussurros ficaram mais altos, e senti uma mão fria agarrar meu ombro. Virei-me para encontrar uma figura sombria, com os olhos ocos e cheios de desespero. Ela sussurrou meu nome, uma voz que mal reconheci como a da Sra. Abernathy.
"Eu não pude salvá-los", ela disse, a voz tremendo. "As crianças... foram levadas pela escuridão. E agora ela também quer você."
Eu recuei, fugindo da adega e fechando a porta com força. Minha mente estava tomada pelo medo e confusão. O que eu havia encontrado? Quem eram essas crianças e o que a escuridão queria de mim?
Conforme os dias passaram, os sussurros ficaram mais altos, e as sombras na casa pareciam ganhar vida. Eu não conseguia escapar da sensação de que estava sendo observada, que algo maligno estava à espreita, fora de vista. Eu tentei sair, mas toda vez que me aproximei da porta da frente, ela se fechava com uma força que não conseguia explicar.
O desespero se instalou, e eu procurei ajuda de um investigador paranormal. Eles chegaram com equipamentos e uma equipe de especialistas, determinados a descobrir a verdade. Mas, quando se aventuraram na adega, suas expressões se transformaram em horror. Os sussurros se tornaram ensurdecedores, e um frio gélido encheu a sala.
Num instante, a adega foi mergulhada na escuridão, e os gritos do investigador ecoaram pela casa. Corri até a porta da adega, mas encontrei uma barreira impenetrável. Eu estava presa, sozinha com os sussurros e as sombras que ansiavam por minha alma.
Os dias se transformaram em semanas, e comecei a perder minha sanidade. Os sussurros nunca pararam, e as sombras se aproximavam a cada momento que passava. Eu sabia que era a próxima, que me juntaria às crianças em seu tormento.
E agora, enquanto escrevo isso, posso sentir a escuridão se aproximando. Os sussurros estão por toda parte, e as sombras estão à minha porta. Não posso escapar, e temo que esta casa se torne minha prisão eterna, assim como aconteceu com a Sra. Abernathy e aquelas pobres crianças perdidas.
Se você algum dia se encontrar na Rua Elm, cuidado com a antiga casa vitoriana, pois ela abriga uma escuridão que anseia por sua alma, uma escuridão da qual você nunca poderá escapar.
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