quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Gelo Negro

O frio era cortante, daquele tipo que se infiltra pelo casaco e envolve os ossos com suas garras. Eu estava dirigindo para casa tarde da noite, com as estradas estranhamente silenciosas, cobertas por uma camada de gelo que refletia o brilho pálido da lua. O boletim meteorológico havia alertado sobre gelo negro, mas pensei que ficaria bem — já tinha dirigido por essas estradas inúmeras vezes antes.

Minhas mãos apertavam o volante com mais força do que o normal, e meus faróis mal conseguiam atravessar a neblina que se arrastava pela estrada. O aquecedor estava no máximo, mas meus dedos ainda estavam dormentes, tremendo levemente tanto pelo frio quanto por uma sensação crescente de inquietação.

Então, aconteceu.

No início, foi sutil — uma leve mudança na tração do carro. As rodas pareciam não aderir à estrada. Meu coração falhou uma batida, e, instintivamente, toquei nos freios. Esse foi meu erro. O carro deu um tranco violento, rodando como se tivesse vida própria. Tudo ficou em câmera lenta, mas meu coração disparou, batendo como um tambor de guerra no meu peito.

O mundo lá fora se tornou um borrão de faróis, escuridão gelada e galhos esqueléticos de árvores. O carro girou e deslizou em direção ao acostamento, e minha mente gritava por controle, mas eu não tinha nenhum. Minhas tentativas de dirigir só pioravam a situação.

Então eu vi: uma sombra imensa à frente, brevemente iluminada pelos meus faróis em espiral. Um carvalho gigantesco se erguia, seus galhos retorcidos se estendendo em minha direção como garras. O tempo voltou à realidade. O barulho de metal contra gelo encheu meus ouvidos quando o carro colidiu com a árvore. O impacto foi violento, a força me jogando para frente contra o cinto de segurança. Meu ar escapou em um ofego agudo e agonizado.

O silêncio depois foi ensurdecedor. Minha cabeça latejava, e minha visão estava embaçada. Vapor sibilava do capô amassado, subindo pelo ar gélido. O para-brisa estilhaçado parecia uma teia de aranha, pequenos fragmentos de vidro brilhando sob a luz fraca. Levei a mão ao rosto e me contorci ao sentir o calor pegajoso do sangue escorrendo de um corte na minha testa.

Enquanto tentava controlar minha respiração, percebi outro som — suave, quase imperceptível. No início, pensei que fosse o vento assobiando através do vidro quebrado. Mas não. Era outra coisa. Um gemido baixo e gutural.

Congelei, cada músculo travando no lugar. O som vinha de fora do carro. Meus olhos dispararam para a janela do lado do passageiro, onde a escuridão parecia se mover e inchar. Uma sombra se moveu — uma silhueta alta e esquelética, com movimentos antinaturais e espasmódicos. Estava se aproximando.

Meu pulso trovejava em meus ouvidos enquanto a figura alcançava o carro, seu rosto obscurecido pela noite nebulosa. Não conseguia desviar o olhar. Minha mente gritava para eu me mover, correr, mas meu corpo se recusava a obedecer.

Então, pressionou sua mão — se é que podia chamar aquilo de mão — contra o vidro estilhaçado. Dedos longos e ossudos, terminando em unhas afiadas e rachadas, arrastaram-se lentamente pela superfície, fazendo um som como unhas em um quadro-negro. Minha respiração falhou, visível em pequenas baforadas de pânico.

Fechei os olhos, rezando para que aquilo fosse embora. Quando os abri, a coisa tinha sumido. Mas o gemido não havia parado. Estava mais próximo agora, bem ao meu ouvido.

Gritei, tateando o cinto de segurança, arrancando-o. Abri a porta com força e cambaleei para o frio cortante, minhas botas escorregando no chão gelado. Olhei ao redor, desesperado para encontrar a fonte do som, mas não havia nada — apenas os destroços retorcidos do meu carro e as árvores ameaçadoras.

E então eu vi. À distância, entre as sombras, aqueles mesmos dedos ossudos se curvando ao redor de um tronco de árvore, a figura me observando com olhos brilhantes e vazios.

Eu corri.

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