terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O Riso do Sótão

Na pacata cidade de Millbury, onde as folhas de outono dançavam no ar fresco, uma jovem chamada Lily se mudou para uma velha casa rangente que havia sido abandonada por anos. Os moradores locais sussurravam sobre a casa, tecendo histórias sobre seu passado assombrado, mas Lily era alheia às histórias. Ela foi atraída pelo lugar, seu papel de parede descascado e a forma como a luz do sol se filtrava pelas janelas empoeiradas, projetando formas etéreas no chão.

Mas no sótão, três palhaços espiavam - restos de um carnaval esquecido, retorcidos pelo tempo e pela tragédia. Eles eram figuras grotescas, seus rostos marcados pela decadência e negligência. Um era um palhaço mendigo com um chapéu alto esfarrapado, outro um bobo da corte com um sorriso permanentemente congelado, e o terceiro um palhaço de rosto triste cujos olhos já haviam sido roídos pelos ratos. Eles estavam faltando dedos, dentes e membros, restos de uma vida passada nas sombras do sótão, aguardando o momento certo para atacar.

Todas as noites, quando a lua brilhava alta e o mundo ficava em silêncio, os palhaços desciam do sótão, seu riso ecoando suavemente no escuro. Eles se reuniriam em torno da cama de Lily, suas formas grotescas iluminadas pelo fraco brilho da luz da rua que se filtrava pela janela. Eles a observavam dormir, sua curiosidade se misturando a um propósito sinistro. Eles eram atraídos por sua inocência, sua juventude e a promessa do sacrifício que eles haviam estado esperando - a cada vinte anos, uma oferta ao deus palhaço malévolo que exigia garotas jovens.

Lily muitas vezes ouvia os estranhos ruídos vindos do sótão - rangidos e sussurros que ela descartava como a casa se ajustando ou o sistema de ar condicionado resmungando. Mas, no fundo, uma curiosidade insistente a incomodava. O que se escondia no sótão? Ela muitas vezes imaginava que estava cheio de tesouros ou talvez restos dos antigos ocupantes. Mas a ideia de subir aquelas escadas bambas a enchia de pavor.

No silêncio da noite, o vento uivava do lado de fora, um lamento lúgubre que lhe arrepiava a espinha. Ele açoitava as paredes da casa, criando uma sinfonia estranha de sons que ecoava pelas salas vazias. O vento gelado se infiltrava pelas rachaduras das velhas janelas, trazendo consigo o cheiro da madeira úmida e da decadência, misturando-se com o ar rançoso do sótão. Era um lembrete arrepiante de que a casa, embora silenciosa, nunca estava realmente vazia.

Uma noite fatídica, os palhaços ficaram inquietos. Eles estavam cansados de esperar, cansados de serem ignorados. Eles queriam que ela viesse até eles, que subisse as escadas voluntariamente e se juntasse a eles em seu ritual sombrio. Enquanto Lily dormia, eles sussurravam entre si, suas vozes uma cacofonia de tons ásperos e risos maníacos. Eles tramavam, suas mentes retorcidas tecendo um plano que a atrairia para suas garras.

Na noite seguinte, Lily, encorajada por uma mistura de curiosidade e o anseio pelo desconhecido, decidiu encarar seus medos. Ela subiu as escadas até o sótão, seu coração acelerado. O ar ficou mais frio, e as sombras pareciam se esticar e se contorcer ao seu redor. Quando chegou ao topo, a porta rangeu ao se abrir, revelando um espaço fracamente iluminado, cheio de relíquias empoeiradas e teias de aranha.

De repente, os palhaços emergiram das sombras, seus olhos brilhando com uma fome malévola. "Bem-vinda, querida Lily", eles croaram em uníssono, suas vozes uma melodia assombrosa. "Temos esperado por você."

O coração de Lily disparou quando ela percebeu a verdade. As histórias sobre a casa não eram apenas histórias; eram avisos. Ela se virou para fugir, mas os palhaços bloquearam seu caminho, suas formas grotescas se aproximando. "Não tenha medo", o palhaço mendigo roncou, seu hálito uma mistura fétida de decadência e desespero. "Junte-se a nós. É a sua vez."

O pânico se apoderou de Lily quando ela recuou, sua mente acelerada. Ela se lembrou das lendas locais - os sacrifícios, o deus palhaço maligno, o ciclo de vinte em vinte anos. Tudo era real, e ela era a escolhida. Ela tinha que escapar.

Com um surto de adrenalina, ela correu pelos palhaços, seus pés batendo contra o chão de madeira enquanto descia as escadas em disparada. Mas quando chegou ao pé da escada, sentiu uma mão fria agarrando seu tornozelo, puxando-a de volta. Ela caiu, o mundo girando ao seu redor enquanto ela lutava contra o aperto.

"Não lute contra isso, Lily!" o palhaço de rosto triste gritou, sua voz uma mistura de tristeza e alegria. "Você nos pertence agora!"

Justo quando começavam a arrastá-la de volta para o sótão, Lily avistou algo brilhando à luz da lua - um caco de vidro quebrado de uma janela próxima. Com um impulso desesperado, ela o agarrou e cortou a mão do palhaço, libertando-se do aperto deles. Ela cambaleou até ficar de pé e disparou em direção à porta da frente.

Mas quando ela alcançou a maçaneta, não conseguiu abri-la. O pânico a dominou quando ela se virou para encarar os palhaços, que agora estavam em fila, bloqueando sua fuga. Seu riso encheu o ar, uma melodia assombrosa que ecoava pela casa.

"A cada vinte anos, uma garota é escolhida", disse o palhaço bobo da corte, seu sorriso amplo e perturbador. "E você é nosso prêmio."

Nesse momento, as luzes piscaram e a casa gemeu como se estivesse viva, as paredes se fechando em torno dela.

A respiração de Lily acelerou...

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Quem sou eu

Minha foto
Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon