Eu estava sozinho no sofá, uma caneca de chocolate quente nas mãos, assistindo a algum filme antigo de Natal. Tudo estava parado e silencioso, aquele tipo de paz que você só tem uma vez por ano. Então veio a batida.
Não era uma batida normal. Era pesada, deliberada e muito mais alta do que alguém que busca atenção educadamente. Fervia a porta em sua moldura, fazendo com que uma sensação de frio percorresse minha espinha. Eu congelei, olhando em direção à entrada.
Bater...
Bater...
Bater...
"Mãe... Pai?" chamei, com a voz um pouco trêmula. Nenhuma resposta.
Pisei de mansinho até a porta, espiando pelo olho mágico. Nada. Apenas o alpendre e a neve, intocados e brilhantes. Sem pegadas. Sem sinal de vida.
Estava prestes a me afastar quando a batida veio novamente, mais forte desta vez, como alguém batendo com um punho — ou algo pior — contra a madeira.
"Quem está aí?" gritei.
Silêncio.
Meu coração disparou enquanto destrancava a porta e a abria ligeiramente. Uma rajada de vento gelado atingiu meu rosto, mas ninguém estava do lado de fora. Apenas uma pequena caixa de presente vermelha repousava sobre o capacho coberto de neve.
Era embrulhada em papel brilhante, com um laço dourado no topo. Sem nome. Sem bilhete. Apenas ali parada. A neve ao redor estava intocada, sem trilhas levando para ou desde o alpendre.
Contra meu melhor julgamento, eu a trouxe para dentro. A caixa era leve, quase demasiado leve, mas ao movê-la, algo dentro se mexeu com um som úmido e doentio. Eu gagá um pouco, mas a coloquei na mesa de centro. O ambiente de repente parecia mais frio, as luzes da árvore se apagando como se a energia estivesse falhando.
Fiquei encarando a caixa por horas, pareceu. O som úmido me assombrava. Não era o suave farfalhar de papel de seda ou o tilintar de um enfeite. Soava... orgânico.
Finalmente, eu não pude resistir. Puxei o laço, meus dedos tremendo, e rasguei o papel. O cheiro me atingiu primeiro. Era como cobre e podridão, espesso e enjoativo. Meu estômago se revirou, mas forcitei-me a abrir a caixa branca simples que estava dentro.
Gostaria de não ter feito isso.
Dentro havia um pedaço de carne, cru e brilhante, exudando vermelho escuro sobre o papelão. No começo, não consegui entender. Então percebi que não era apenas carne — era uma mão.
Pequena, delicada e decepada no pulso.
A mão de uma criança.
Deixei a caixa cair, o vômito subindo na minha garganta. A mão decepada atingiu o chão com um som úmido, e o brilho fraco das luzes da árvore de Natal se refletiu em seus ossos irregulares.
Foi então que as luzes se apagaram completamente. Eu tropecei para trás, caindo sobre a mesa de centro e aterrissando com força no carpete.
A sala estava completamente escura, exceto pelo fraco brilho laranja das brasas moribundas na lareira. E naquela luz tênue, vi algo se mover.
Estava no canto da sala, alto e curvado. Seu manto vermelho estava esfarrapado e sujo, gotejando algo espesso e negro. O cheiro de podre aumentou enquanto se aproximava, arrastando algo pesado atrás de si.
O tilintar de sinos quebrou o silêncio, mas não era alegre. Eles soavam descompassados, fora de ritmo, como o último suspiro de uma caixa de música quebrada.
Então vi seu rosto — ou o que restava dele. A pele era pálida e esticada demais sobre uma estrutura semelhante a um crânio. Sua boca estava aberta em um sorriso grotesco, dentes amarelos irregulares brilhando com fios de algo viscoso. Os olhos eram covas profundas, brilhando levemente em vermelho, fixando-se em mim com uma fome predatória.
Suas mãos eram as piores. Dedos longos e ósseos terminando em garras afiadas, ensanguentados.
"Você foi travesso," ganiu, sua voz molhada e gutural, como carne se moendo em um açougue.
Eu me arrastei para trás, minhas mãos escorregando no carpete. Meu pé bateu na caixa, e a mão decepada da criança rolou, batendo contra meu tornozelo.
A criatura avançou. Suas garras arranharam meu ombro, rasgando minha pele e músculos como se fossem papel. O sangue jorrou, quente e pegajoso, pintando o chão e a árvore de Natal. Eu gritei, mas o som foi abafado por aqueles sinos horríveis e estrondosos.
Ela me arrastou pelo tornozelo, suas garras afundando na minha carne. Eu chutei e arranhei o carpete, mas não havia jeito. Ela me arrastou em direção à lareira, seu hálito fétido quente contra meu pescoço.
"Por favor! Pare!" implorei, soluçando.
Ela não ouviu.
Com um movimento rápido, ela me empurrou em direção ao fogo. Minha cabeça bateu contra a prateleira de tijolos, e tudo ficou escuro.
Quando acordei, era manhã de Natal.
A casa estava silenciosa, o fogo ardia baixo, e as luzes na árvore piscavam alegremente novamente.
Meus pais tinham desaparecido.
E na árvore, pendurado em um ramo ensanguentado, havia um novo enfeite. Uma réplica perfeita de mim.
Seu pequeno rosto congelado em um grito, e seus olhos de vidro cheios de terror.
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