domingo, 6 de abril de 2025

O que é essa sensação de algo rastejando?

Minha esposa diz que acontece com todo mundo. Ela brinca dizendo que são os fantasmas das formigas que pisamos enquanto caminhamos, dos besouros e baratas que espantamos com chineladas no banheiro. Já li sobre isso em fóruns também, muita gente passa por isso.

Às vezes, sentimos aquela sensação estranha e formigante, como se tivesse um inseto em nós, mas na verdade não há nada lá.

Não sou alguém que acredita no sobrenatural. Não acredito no paranormal, no céu ou no inferno, nem mesmo em Deus. Não acredito em destino, e tampouco em sorte.

Mas agora não é mais uma questão de crença. Não posso negar o que sinto. Queria entender por que sinto isso, por que consigo senti-los o tempo todo, subindo e descendo, subindo e descendo. Por todo o meu corpo. Meu cabelo, meu rosto, meu tronco, pernas... tudo. Cada centímetro da minha pele parece coberto por eles.

Começou de forma simples. Eu estava prestes a dormir, cansado do trabalho daquele dia e exausto só de pensar no trabalho do dia seguinte.

Foi então que senti.

Parecia um inseto pequeno rastejando no dedo mindinho da minha mão esquerda. Tentei espantá-lo com a outra mão, ainda meio adormecido, mas ele continuava lá. Irritado, acendi a luz e levantei a mão para olhar direito.

Não havia nada.

Eu podia sentir ele rastejando, só da ponta do dedo até a base, nunca saía desse trajeto. Fiquei encarando minha mão, piscando rapidamente. Nada ali. Acordei minha esposa, que ao ouvir o que eu dizia (ela também meio dormindo), apenas disse pra eu esquecer isso e voltar a dormir.

Mas eu não conseguia ignorar. Tentei me deitar novamente, mas a sensação não parava. Passei a noite toda sem conseguir dormir. Esperava que parasse eventualmente, talvez quando chegasse ao trabalho...

Mas quando não foi embora depois de uma semana, fiquei preocupado. Liguei para meu irmão, que embora não fosse médico, havia estudado medicina alguns anos antes. Ele me garantiu que não era nada e que o corpo humano era estranho mesmo.

Eu tentei, de verdade tentei ignorar e seguir com minha vida. Fui a outro médico quando não aguentei mais, mas quando até ele disse que eu estava bem, não consegui mais aceitar aquilo.

Amputei meu dedo.

Era só um dedo; eu era operário da construção civil, já tinha sofrido ferimentos piores.

Foi um alívio. Um alívio imenso.

Mas eu devia saber que não ia parar por aí. No dia seguinte senti a mesma coisa no mindinho da mão direita, depois em cada um dos dedos, nas mãos, nos braços, nas pernas. Não importa o quanto eu tente, o que eu corte ou ampute, eles sempre estão lá. Subindo e descendo, subindo e descendo.

Agora os sinto correndo pelo meu pescoço. Minha esposa segura meu braço — o único que ainda tenho — implorando em lágrimas para que eu pare, para que eu procure ajuda.

Eu a empurro. Eles não podem ajudar. Ninguém pode ajudar. Eles vão continuar rastejando, sempre.

Subindo e descendo, subindo e descendo.

Levo a faca ao pescoço; talvez agora eles finalmente parem.

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Quem sou eu

Minha foto
Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon