domingo, 6 de julho de 2025

Eu sempre estive aqui

Meu nome era Diana. Quero compartilhar minha história aqui porque sei que muitos de vocês acreditam em coisas que a maioria nunca pensaria duas vezes. Não sei para onde vou daqui ou o que realmente sou. Estou apavorada com o que isso significa para todos vocês. Estou me adiantando. Desculpe-me. Esta é a minha história, começarei do início.

A primeira mensagem de voz chegou às 3h12 da manhã. Eu nem ouvi o telefone tocar.

O número era completamente desconhecido, não listado, e, quando verifiquei, também era impossível de rastrear. Sentei-me na cama e ouvi a mensagem, pensando que talvez fosse um engano. Talvez uma mãe enlutada ou algum homem bêbado e solitário. A voz do outro lado era estranhamente calma. Controlada, até. Era familiar de uma forma que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem.

“Oi. Está tudo bem. Só queria te avisar que estamos prontos. Estamos seguros agora. Você fez um ótimo trabalho. Pode voltar.”

A voz do outro lado fez uma pausa.

“Sentimos sua falta.” Clic.

Fiquei um tempo com o telefone na mão, repetindo a mensagem. A voz era como algo saído de um sonho. Como se fosse conhecida, mas não pudesse ser localizada, embora você a reconhecesse nos ossos. Ela disse meu nome. Não Diana ou Ana. Do jeito que minha mãe me chamava quando precisava conversar, ouvir minha voz. Era exatamente o mesmo tom. Como se ela soubesse exatamente quem eu era.

E, ainda mais estranho, para uma mulher que não chora, não consegui evitar o soluço estrangulado que escapou dos meus lábios.

Chorei até adormecer e, quando acordei na manhã seguinte, descartei como uma brincadeira. Alguém deve ter feito um chute de sorte, talvez um amigo exagerando.

Mas não conseguia esquecer como aquilo me fez sentir. Como uma saudade de um lugar que eu não lembrava.

Então, apaguei a mensagem de voz.

Ao meio-dia, ela estava de volta na minha janela de notificações.

Nos dias seguintes, as coisas ficaram mais estranhas. Pequenos detalhes no início, depois coisas maiores, que eu não podia ignorar ou justificar.

Meu café favorito não tinha gosto de nada. Como se minhas papilas gustativas tivessem parado de funcionar.

O poste de luz do lado de fora da minha casa começou a piscar em um padrão que eu tinha certeza de ser código Morse. Quando o transcrevi, porém, não formava nada. Ou talvez fosse algo que eu simplesmente não conseguia entender. A cada noite, os intervalos no padrão ficavam mais longos.

Uma noite, cheguei do trabalho e encontrei um hematoma escuro no meu ombro esquerdo. Era sensível, mas claramente antigo. Semanas de idade. Não lembrava de nenhuma dor ou de como poderia ter me machucado assim. Depois, vieram os arranhões. Linhas sutis, simétricas, como se algo com precisão tivesse me agarrado. Ou ajustado.

Verifiquei meu aplicativo de sono, claro, e não havia distúrbios. Apenas um descanso completamente ininterrupto, registrado como sono profundo. Todas as noites. Eu tenho insônia, era perfeito demais.

Então, os sonhos começaram.

Túneis vastos e escuros sob um céu em chamas. Um conselho de formas sem rosto esperando em silêncio. Eu estava diante deles, alta, alienígena e amada. Lembro-me de falar, mas não das palavras. Apenas uma sensação de grande importância. De comando. E uma frase singular que persistia mesmo depois de acordar.

“A morte é apenas o fim do corpo. A memória é o verdadeiro eu.”

A segunda mensagem de voz chegou uma semana depois.

Dessa vez, a voz do outro lado soava diferente. Dolorida e suplicante.

“Você nos disse para esperar. Mas já faz tanto tempo. Alguns de nós não conseguiram. Alguns te esqueceram completamente. Mas nós não. Nem todos. Você disse que voltaria quando fosse seguro. Está seguro agora. Volte. Por favor.”

Minhas mãos tremiam como folhas enquanto ouvia. Algo dentro de mim mudou ao escutar. Como uma engrenagem voltando ao lugar. Quando abri os olhos novamente, a luz do meu apartamento estava errada. O ângulo estava diferente. Sutil, mas definitivamente diferente.

A televisão havia se movido alguns centímetros para a esquerda no suporte da parede.

Naquela noite, quando fui me deitar, um bilhete me esperava na mesa de cabeceira.

Na minha própria letra, e eu moro sozinha.

“Não atenda se eles ligarem novamente, não ouça essas mensagens de voz. Você não deve lembrar. Você não está estável. Continue dormindo.”

Corri para o banheiro e queimei o bilhete na pia, eliminando aquela coisa horrível deste mundo. Não preguei o olho naquela noite.

Nos dias que se seguiram, comecei a ver pessoas que não eram... reais. Não sei como explicar de outra forma. Seus movimentos eram precisos demais. Seus rostos, muito parados. O jeito como piscavam, com ritmo. E elas me observavam, mas só quando pensavam que eu não estava olhando. No canto da minha visão, formas surgiam e tremeluziam.

E o céu, inexplicável, o azul estava errado. Pesado demais, como se tivesse sido pintado sobre algo diferente.

Olhei no espelho uma manhã antes do trabalho, e meu reflexo sorriu primeiro.

Fui ao médico exigindo exame após exame. Um check-up completo. Mas o médico. Ele sorria demais, fazia perguntas que não tinham nada a ver com o exame.

“Lembra do seu ponto de entrada, Diana?”

“Que ano você disse que era mesmo?”

“Ainda dói quando você acorda?”

Saí do médico me sentindo mais delirante do que quando entrei. Naquela noite, desliguei o celular completamente.

Às 3h12 da manhã, ele tocou mesmo assim.

Não havia toque. Apenas vibração. Baixa e constante. Como o zumbido de algo profundo no subsolo.

Eu não atendi.

Quando olhei para cima, minha janela não dava mais para a rua, como deveria. Dava para outra janela.

Na janela, vi a mim mesma. Ela era mais magra, mais alta. Seus olhos eram escuros demais, e ela me encarava. Sorrindo.

Fui para a cama aquela noite e, quando acordei, minha cama havia sumido.

O ar estava diferente. Mais denso, como respirar debaixo d’água. As paredes brilhavam como pele suada. Era orgânico. O quarto tinha o tamanho de uma catedral, mas pulsava como um pulmão. E do outro lado da câmara, havia algo. Quase humano, mas não.

Muitos olhos. Sem boca, mas, quando falou, era com a mesma voz das mensagens.

“Bem-vinda de volta, Instrutora.”

Atrás do ser, havia fileiras deles. Estudantes, seguidores, o que quer que fossem, estavam lá, esperando.

“Mantivemos a memória intacta pelo tempo que pudemos. Você nos pediu isso. Foi pacífico? O sonho?”

Eu não conseguia falar. Queria gritar. Ou correr. Mas algo antigo no meu sangue me dizia: Não. Isso é real. O resto foi um sonho.

A criatura deu um passo à frente. Colocou a mão — lisa, brilhante, errada — no meu ombro.

“Eles precisam de você novamente. Todos nós precisamos.”

Como um coro de murmúrios sem sentido, todos falaram ao mesmo tempo.

“Você sempre esteve aqui.”

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