Venho me preparando para este momento há meses — ensaiando mentalmente todas as noites, perseguindo obsessivamente a perfeição. É agora. Minha chance. Meu sonho. Desde os sete anos, quero ser mágico. Tudo começou na minha festa de sete anos. Meus pais contrataram um. Um verdadeiro showman. Truques chamativos, voz retumbante, aplausos que fizeram a sala tremer. Fiquei hipnotizado. Meus colegas gritaram, riram, exclamaram de espanto. Naquele momento, eu soube — é isso que quero. Essa adoração.
E nunca abandonei esse sonho. Nem uma vez. Ele está sempre no fundo da minha mente. Antes de dormir, em sonhos, durante palestras e reuniões, no trajeto para o trabalho, eu imaginava tudo. Minha plateia. Seus aplausos. Seu amor. Mesmo que o enterremos, mesmo que o temamos, todos nós desejamos: ser algo mais. Ser alguém especial. Para mim, era a magia.
Se tudo der certo esta noite, talvez tudo finalmente faça sentido. Talvez eu seja consertado. As luzes diminuem. A cortina sobe. Subo ao palco e falo ao microfone: “Apresentando... Mikey, o Homem Mágico.” Começo com o básico. Jogo de mãos. Moeda desaparece. Cartas reaparecem. Eles aplaudem, mas não é o tipo certo. É educado demais. Suave demais. Não é o que preciso.
Mudo rápido, coração disparado. O número da serra. Aquele da minha festa de aniversário. Aquele que fez as crianças gritarem de fascínio. É simples. Clássico. Pratiquei incessantemente. Conheço cada movimento. Começo. A serra desliza suavemente pelo corpo pulsante dela. O corpo se divide, exatamente como planejado. A ilusão é perfeita. Olho para a plateia, esperando os aplausos. Nada. Apenas silêncio. Então — rostos contorcidos. Horror. Olhos arregalados, bocas abertas. Vejo repulsa, não fascínio. Algo está muito errado.
Volto-me para o palco — e congelo. Ela não está se movendo. O corpo não é uma ilusão. É real. É errado. Sangue jorra. Vísceras caem no chão do palco como cordas molhadas. Engasgo com o cheiro mortal — azedo e metálico. Meu estômago revira. Minha mão solta a serra. Ela cai com um baque no peito dela — bem no coração que ainda pulsa.
Cambaleio para trás. Gritos explodem. Cadeiras tombam. Pipoca gordurosa voa. Alguém joga uma bebida. Ela me atinge como um vento gasoso. A multidão invade o palco, uivando em pânico. Ergo as mãos. Imploro. Suplico. Mas as palavras saem quebradas. Inúteis. Fiz tudo certo. Não fiz?
Tudo desmorona. Minha mente gira. Meu peito colapsa. Alguma vez fez sentido? Ou sempre estive girando, confundindo obsessão com propósito? O que antes era completo, depois incompleto, agora está totalmente quebrado. A porta giratória — ela nunca para. Gira e gira. Até você sair. Mas eu não consigo. Caio de joelhos e grito. A dor explode de mim, inundando em agonia. Arranho meu couro cabeludo, unhas cravando na pele, arrancando tufos de cabelo. Os gritos se tornam um coro. Soluço até não conseguir respirar. Até sentir que algo dentro de mim se parte. Então vou além. Meus dedos cravam nos meus olhos. Branco brilhante e azul. Depois vermelho. Depois preto. Em seguida, minha pele, pedaços deslizando de mim como uma queimadura de sol ruim, o que antes era meu rosto agora no palco, buracos cavados como uma fruta podre. Os ossos brancos e gritantes dos meus sonhos despedaçados permanecem no meu corpo decrépito. Minha figura esquelética mutilada ainda é apedrejada pela multidão. Sem holofote. Sem aplausos. Apenas a ruína do meu sonho, estilhaçado e imóvel. Reduzi-me a nada. A ninguém.
8h37. Então chega as nove. Mesmas saudações infrutíferas, mesmo café insípido, mesma mesa desgastada, tudo igual.
Estou de volta à roda de hamster. Correndo de novo e de novo, tentando alcançar algo que nunca poderei.
Às cinco e sete, seremos dispensados.
Às cinco e quinze, sairei.
Pode haver conversa fiada no estacionamento.
Depois, desaparecerei vez após vez. Só para falhar novamente. Enxágua e repete. A porta giratória mantém sua órbita, e eu ainda estou dentro.
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