sábado, 12 de julho de 2025

Encontramos um corpo na floresta. Não fui mais o mesmo desde então

Há alguns anos, meu amigo Liam e eu saímos para caminhar em uma floresta perto de onde morávamos. Não era exatamente um lugar isolado, mas o tipo de lugar onde as trilhas se dividem e desaparecem se você não prestar atenção. Não estávamos seguindo o mapa — apenas vagando fora do caminho comum, como fazíamos quando estávamos entediados.

Era meio da tarde quando percebemos um cheiro forte, quase insuportável. Doce de uma forma enjoativa, como frutas maduras demais deixadas no calor por muito tempo. No começo, brincamos sobre isso — pensamos que talvez fosse um cervo morto ou algo assim. Mas a curiosidade falou mais alto, e começamos a avançar pelo mato para encontrar a origem.

E… encontramos ele.

Um homem. Morto.

Estava encostado em uma árvore, meio coberto por folhas caídas e galhos, como se tivesse tentado se esconder ou apenas quisesse sumir. Ele claramente estava ali há algum tempo. A pele estava esverdeada e escura em alguns lugares. Inchada. Havia moscas e… outras coisas. A floresta já começava a reclamá-lo. Não vou entrar em mais detalhes. Você pode imaginar.

Liam ficou paralisado. Lembro dele sussurrando: 

“Meu Deus. É uma pessoa.”


Eu chamei a polícia.

Eles nos disseram para ficar ali até alguém chegar. Mas estávamos bem no meio da floresta, e demorou mais de duas horas para que aparecessem.

Então, sim, esperamos. Ao lado do corpo.

O cheiro não ia embora. Pelo contrário, parecia ficar mais denso — mais pesado. O ar parecia errado, como se estivesse nos pressionando. A floresta também ficou silenciosa. Sem pássaros, sem insetos. Apenas… silêncio. Parecia que não estávamos sozinhos. Mas estávamos. Eu ficava me convencendo de que estávamos.

Conforme escurecia, as coisas pioraram.

Liam começou a andar de um lado para o outro. Eu me sentei em um tronco a poucos metros do corpo, tentando não olhar para ele — mas, de alguma forma, sempre acabava encarando. E talvez fosse só minha mente me pregando peças, mas a cabeça dele parecia ter se movido um pouco desde que o encontramos. Só um pouco. O suficiente para notar. Não disse nada.

Então, vieram os sussurros.

Juro que ouvi alguém dizer meu nome. Baixinho. Bem atrás de mim. Virei rápido, mas não havia ninguém — apenas árvores. Liam ouviu também. Ele me olhou e disse: “Você escutou isso?”

Ficamos em silêncio absoluto.

Então, ouvimos um rangido lento e suave. Como se algo estivesse se movendo em madeira. Como se alguém estivesse se inclinando para a frente, a partir de uma árvore.

Não corremos. Não gritamos. Apenas ficamos lá. Nos encaramos. Esperamos pelos guardas florestais.

Finalmente, eles chegaram. Luzes. Rádios. Lanternas. Um deles nos levou de volta à entrada da trilha, enquanto os outros ficaram com o corpo. Disseram que o homem provavelmente tinha tirado a própria vida. Não havia identificação. Ninguém nunca apareceu para reclamá-lo. Um suicídio silencioso, disseram.

Mas não parecia silencioso.

Depois daquele dia, comecei a ter sonhos. Sempre os mesmos: estou na floresta novamente, olhando para aquela mesma árvore, mas o homem não está mais encostado. Ele está de pé. De frente para mim. A boca dele é larga demais, e ele não pisca.

E ele fala.

Não alto. Apenas um sussurro.

“Você não deveria ter me encontrado.”

Liam também teve esses sonhos. Ele me contou por mensagem algumas noites depois.

Paramos de fazer caminhadas depois disso.

Liam ficou estranho. Calado. Não dormia mais a noite toda. Disse que continuava acordando com aquele cheiro — o mesmo cheiro da floresta — enchendo o quarto dele. Uma vez, ele me contou que viu pegadas na terra sob a janela dele. Descalças. Humanas. Voltadas para dentro.

Eu não acreditei.

Até que senti o cheiro também.

Uma vez. No meu apartamento. Sem janelas abertas. Apenas uma onda repentina e forte de podridão doce, e então sumiu. Mal dormi naquela noite.

Seguimos em frente desde então. Mais ou menos. Liam e eu não conversamos muito mais. Não é briga — apenas evitamos o assunto. Como se falar sobre isso fizesse tudo voltar com mais força.

Mas, de vez em quando, ainda sonho com o homem na floresta.

E, às vezes, logo antes de acordar, ouço ele sussurrar:

“Você me impediu de descansar. Agora eu te impeço de esquecer.”

Essa é a parte que realmente me atinge.

Porque não esqueci.

E acho que nunca vou esquecer.

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Quem sou eu

Minha foto
Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon