Uma noite, tropecei em um jogo indie novo em um fórum que eu frequentava. Chamava-se O Vazio, anunciado como um jogo de terror psicológico com uma história e atmosfera fora do comum. Curioso, fiz o download na hora. Os gráficos eram simples, um pouco pixelados, mas a atmosfera era pesada — como se alguém tivesse colocado a alma em cada pixel.
Sentei-me com um Monster na mão e uma barra de chocolate meio comida ao lado do teclado. Quando o jogo começou, eu estava em uma floresta densa e escura. Uma névoa espessa pairava no ar, e eu sentia como se estivesse sendo observado. O caminho estreito que eu seguia se contorcia, mas algo parecia errado. As árvores mudavam de forma. De repente, eu estava em um lugar que não tinha visto antes, mesmo tendo seguido uma trilha reta.
Sombras se moviam no canto da minha visão. Claro, podia ser só o design do jogo, mas às vezes eu ouvia sussurros — suaves, quase inaudíveis — que não faziam parte do roteiro ou dos sons do jogo. Parecia que algo tentava falar comigo.
Quando desviava o olhar da tela, meu quarto parecia diferente. A escuridão no canto perto do computador parecia densa, como se engolisse a luz.
Continuei jogando. As latas de Monster se acumulavam, e o chocolate sumia mais rápido que o normal. Meus dias viraram um borrão. Na escola, eu cochilava nas aulas, mas, ao chegar em casa e sentar na frente do PC, ficava alerta de novo.
Quanto mais eu jogava, mais estranhas as coisas ficavam. A tela piscava às vezes, e, quando eu olhava para o lado, via de relance coisas que não deveriam estar lá — uma sombra parada no fundo, uma porta se abrindo sem eu clicar, uma figura sumindo quando eu piscava.
Mostrei aos meus amigos, mas eles nunca viam nada de estranho. “São só glitches”, diziam. Mas eu sabia que era outra coisa.
Uma noite, após um Red Bull e mais chocolate, o jogo começou a mostrar mensagens estranhas nas caixas de texto. Meu nome apareceu. Ouvi vozes pelos fones de ouvido — sussurros repetindo meu nome.
Tentei fechar o jogo, mas o computador não respondia. Era como se ele se recusasse a me obedecer.
Aos poucos, minha realidade e o mundo do jogo começaram a se misturar. Vi coisas no meu quarto que lembravam a floresta do jogo. Sombras se moviam de forma anormal. Sentia uma presença me seguindo, mesmo com a tela desligada.
Acordei uma manhã com arranhões no braço — como se algo tivesse tentado me agarrar. Não fazia ideia de como apareceram.
Queria parar de jogar. Mas o jogo ainda estava lá, no meu disco rígido, esperando. Quando o abri novamente, tudo piorou. Uma nova mensagem apareceu na tela:
“Nos deixe sair.”
Cliquei em “Não.”
Meu computador morreu.
Uma névoa fria tomou o quarto.
As vozes se aproximaram.
Agora estou preso em algum lugar entre o jogo e a realidade. Não sei quanto tempo passou, mas ouço eles — as sombras, os sussurros — todas as noites.
Eles estão esperando.
E um dia, eles vão se libertar.
Quando esse dia chegar, acho que não serei o único a ser puxado para dentro.
Alguém mais já baixou um jogo que não deveria? Porque não sei se vou conseguir sair dessa.
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