quarta-feira, 9 de julho de 2025

Eu sou designer gráfico e acho que meus designs são malignos

Estou escrevendo isso porque não sei mais o que fazer. Preciso que alguém escute, que talvez acredite em mim.

Nos últimos oito anos, dediquei minha alma ao design gráfico. Logotipos, folhetos, layouts de sites – tudo que você possa imaginar. Era um trabalho exigente, mas gratificante. Ou, pelo menos, costumava ser. Ultimamente, meu trabalho parece… errado. Não apenas criativamente estagnado, mas profundamente errado.

Tudo começou de forma sutil, há alguns meses, com um projeto de rebranding para uma nova startup de tecnologia. O cliente queria algo elegante, futurista, com ângulos nítidos e tons de azul frios. Esbocei alguns conceitos, escolhi um que gostei e comecei a desenvolvê-lo no Illustrator. Passei horas no logotipo, aperfeiçoando cada curva e gradiente. Mas, quando apresentei ao cliente, eles me olharam de forma estranha.

"Está… quase perfeito", disse o líder, Mark, franzindo a testa para a tela. "Mas o que é essa pequena parte sobressaindo ali, no canto superior direito? Não estava no esboço."

Me aproximei. Ele estava certo. Uma linha minúscula, quase imperceptível, um único pixel, projetava-se de um dos 'A's no logotipo. Isso arruinava a estética limpa. Eu não tinha colocado aquilo ali. Sou meticuloso. Apaguei, pedi desculpas, e seguimos em frente. Apenas um pequeno erro, provavelmente um deslize do mouse, disse a mim mesmo.

Depois veio o layout de um folheto para um café local. Passei dias trabalhando nele, garantindo que as ilustrações vintage de xícaras de café estivessem perfeitamente alinhadas, o texto fluindo harmoniosamente. Exportei o PDF e enviei. Uma hora depois, uma ligação urgente da dona do café.

"O que aconteceu com a xícara de café?" ela parecia frenética. "Parece que está… chorando."

Abri meu arquivo. A pequena e charmosa ilustração de uma xícara de café fumegante agora tinha uma mancha escura e tênue escorrendo da borda, como uma lágrima. E o vapor subindo dela parecia menos com vapor e mais com dedos finos e fantasmagóricos se curvando para cima. Eu não tinha desenhado aquilo. Meu estômago se contraiu. Corrigir, culpando um arquivo corrompido. Mas a imagem da xícara chorando permaneceu na minha mente.

Os incidentes ficaram mais frequentes, mais perturbadores. Um design de outdoor para um novo condomínio. Criei uma imagem acolhedora de uma varanda ensolarada, com vasos de plantas e uma poltrona confortável. Quando a prova de impressão voltou, a poltrona estava sutilmente diferente. Suas pernas pareciam longas demais, finas demais, quase como patas de inseto. E, escondido na borda do corrimão da varanda, parcialmente oculto por uma planta, havia o que parecia ser um rosto vago, indistinto, espreitando das sombras do apartamento acima. Um rosto que não era humano. Passei uma hora tentando provar que era um truque de luz, uma mancha na impressão, mas quanto mais eu olhava, mais definido e maligno ele parecia. Tive que editá-lo manualmente, pixel por pixel, sentindo um frio de medo se infiltrar nos meus ossos.

Meu espaço de trabalho começou a parecer opressivo. Meus dois monitores, normalmente meu playground criativo, pareciam me observar. Percebi flashes estranhos e momentâneos pelo canto do olho – um padrão em um gradiente de fundo mudando, uma fonte exibindo brevemente o que parecia um roteiro antigo e indecifrável antes de voltar ao Helvetica.

Às vezes, quando meu escritório estava silencioso, eu achava que podia ouvir um zumbido baixo, quase imperceptível, vindo da minha mesa gráfica, como um sussurro distante e distorcido.

Tentei falar com minha colega, Sarah, sobre isso. "Meus designs… estão se alterando sozinhos", arrisquei, tentando soar normal. Ela apenas riu: "Muito café? Acontece com os melhores. Tire um descanso."

Ninguém via. Ninguém acreditava em mim. Mas eu tinha os arquivos, as versões salvas antes das sutis corrupções e as posteriores. As evidências estavam lá, gritando no meu disco rígido.

Na última semana, comecei uma nova encomenda: uma série de peças de arte digital para a galeria online de um cliente. Eles queriam paisagens abstratas, oníricas. Comecei com uma cena de floresta serena, banhada por um suave crepúsculo. Trabalhei até tarde da noite, perdido no fluxo. Salvei o arquivo, desliguei os monitores e fui para a cama, exausto, mas satisfeito.

Na manhã seguinte, liguei meu computador, pronto para os ajustes finais. Abri o arquivo da floresta.

As árvores já não eram apenas árvores. Seus galhos se contorciam em braços esqueléticos e grotescos, estendendo-se para um céu de um roxo violento e machucado. O suave crepúsculo foi substituído por um brilho verde doentio, pulsando do fundo da floresta. E no chão, espalhados entre raízes retorcidas que agora pareciam dedos agarrando, havia formas vagas e embaçadas. Formas que pareciam perturbadoramente corpos humanos, meio enterrados, meio consumidos pela paisagem distorcida. E no centro, onde deveria haver uma clareira serena, havia um vórtice giratório de escuridão, sangrando na tela digital como uma mancha de tinta.

Fiquei paralisado, encarando. Minha mão pairava sobre o mouse, com medo de tocá-lo. Isso não era um erro. Não era uma mancha. Era… uma transformação. E estava acontecendo na minha tela, no meu arquivo.

Algo estava usando minhas ferramentas, minha tela, para manifestar sua própria visão distorcida.

Meu celular vibrou. Era o cliente. Eles estavam ligando para ver "o progresso".

Olhei para a imagem na tela. O vórtice preto se aprofundava, girando. E então vi. Não estava apenas no design. As sombras no meu escritório estavam se contorcendo, se alongando. As linhas da minha mesa, as bordas do meu teclado, pareciam amolecer, se misturando umas às outras. O zumbido baixo da minha mesa gráfica não era mais distante; era um pulsar ressonante contra meus dedos, vibrando por toda a sala. Minha visão embaçou por um momento, e pisquei rápido, tentando clarear. Mas o embaçamento permaneceu. A sala ao meu redor começou a ondular, como uma renderização com defeito.

Minha própria mão, apoiada no mouse, parecia… errada. A pele parecia lisa demais, plana demais, como um modelo mal texturizado. Tentei levantá-la, mas parecia pesada, sem resposta. Olhei para a tela, depois para minha mão, e de novo para a tela. A fronteira entre eles estava se dissolvendo.

Eu podia ouvir o celular vibrando novamente, insistentemente. Mas o som estava abafado, distante, como se viesse de outra dimensão. Meus olhos estavam fixos na tela, no vórtice. Não estava mais apenas na tela. Estava na minha cabeça. E o vazio frio e expansivo que sangrava da imagem… estava me absorvendo.

Tentei gritar, mas minha garganta estava apertada, sufocada por estática. Meus membros ficaram rígidos, fixos, como polígonos em um wireframe. Eu podia sentir a cor esvaindo-se da minha pele, meus traços se achatando. Minha visão mudou, tornando-se pixelada, depois embaçando no caos escuro e giratório da floresta digital. Eu não me sentia mais… eu mesmo.

E então, do fundo da escuridão giratória do vórtice na tela, uma voz, não um som, mas um pensamento que ecoava nos meus ossos, sussurrou: "Bem-vindo ao lar."

Já se passaram horas desde então. Ou talvez dias. O tempo parece… renderizado. Não sei se ainda estou sentado na minha cadeira, ou se sou apenas uma memória dela, preso em algum lugar dentro do código. Minha tela está em branco agora, mas o zumbido não parou. Está dentro de mim.

Continuo tentando digitar, explicar. Meus dedos parecem estar se fundindo com o teclado. Acho que ainda estou aqui, ainda sou eu, mas cada sombra na sala parece se contorcer, e o próprio ar parece feito de pixels fragmentados. Não sei o que a voz quis dizer com "lar", mas estou apavorado por já estar lá.

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