sexta-feira, 4 de julho de 2025

Havia um besouro estranho escondido na escrivaninha de uma casa que estávamos reformando. Eu deveria ter deixado ele lá

Meu tio Joe é um reformador de casas. Ele compra casas abandonadas ou em mau estado, reforma e vende com lucro. Ele faz isso há anos e é muito bom no que faz. Às vezes, eu o ajudo. Não é uma má forma de ganhar um dinheiro extra no verão, e ainda passo um tempo com meu tio. O trabalho é pesado, mas é melhor do que fritar hambúrgueres ou atender telefones.

Já encontramos coisas bem estranhas ao longo dos anos: um alambique velho de moonshine, dezenas de estátuas de argila espalhadas por uma comuna de artistas em ruínas. Mas, na maioria das vezes, é só lixo. Móveis tão podres que não vale a pena salvar. Brinquedos quebrados pelo sol. Álbuns de fotos esquecidos. Tudo isso vai para o descarte.

No fim das contas, tudo o que é importante para nós acaba virando o lixo esquecido de outra pessoa.

De todas as coisas estranhas que encontrei trabalhando com meu tio, nunca guardei nenhuma delas.

Até a semana passada.

Estávamos trabalhando numa casa térrea no interior do condado. Ela estava em condições razoáveis. Só precisava de uma limpeza profunda, uma nova pintura e alguns armários novos. Os únicos móveis deixados lá dentro eram um armário de TV quebrado e uma escrivaninha antiga de tampo corrediço.

Sempre tive uma queda por móveis antigos, então precisei dar uma olhada.

Estava mexendo nas gavetas, nos compartimentos e nos cantinhos escondidos quando levei um susto e recuei.

Havia um inseto enorme. Não um de verdade, mas uma espécie de escultura.

Eu nunca tinha visto nada assim. Um besouro, esculpido em uma pedra cinza-esverdeada, talvez lápis-lazúli ou serpentina, com veios metálicos correndo por ele. Os veios pareciam prata envelhecida, com um tom arroxeado. A superfície era polida e lisa, e o trabalho artesanal era impressionante. Parecia real demais. Se não fosse pela cor estranha, eu poderia esperar que ele saísse andando assim que eu piscasse.

Também era mais pesado do que deveria.

Olha, eu sei. Deveria ter deixado ele lá. Essa é uma das regras do meu tio: “Jogue tudo fora, não guarde nada. Limpe e venda.”

Mas não resisti. Senti uma atração por ele. Como se fosse feito para mim.

Então, coloquei ele no bolso da calça cargo e voltei a passar o aspirador de carpetes nas manchas do tapete. O tio Joe é um cara legal, mas espera que você trabalhe duro.

Fiquei um pouco culpado por pegá-lo. Mas, sério, se fosse importante, alguém não teria deixado ele para trás, né?

Depois de um dia longo e suado arrastando aquela máquina de 25 quilos escada acima e abaixo, tio Joe me deixou em casa com um envelope gordo de dinheiro. Provavelmente não aprovado pela Receita, mas eu não faço perguntas.

Coloquei a escultura do besouro na minha escrivaninha, entre minha figura do Dr. Destino e o Optimus Prime G1. Depois, entrei na minha rotina de noite de verão: pizza gordurosa e muitas horas de videogame.

Naquela noite, sonhei com algo se arrastando. Um som de batidas, cliques, bem na borda do sono.

Na manhã seguinte, o besouro tinha se movido.

Não apenas deslocado. Movido. De um lado da escrivaninha para o outro. Agora estava ao lado do meu mouse sem fio.

Disse a mim mesmo que devo tê-lo movido enquanto jogava, ou talvez apenas não lembrasse onde o coloquei. Ainda assim, algo parecia errado.

Naquele dia, tive mais oito horas arrastando o aspirador de carpetes por algo que parecia o rescaldo de um crime de guerra. O tapete estava encharcado com algo espesso e oleoso. Saía em pedaços, como se alguém tivesse derramado óleo de motor e pisoteado para entranhar na trama.

Quando terminei, a máquina estava engasgada com lodo, e eu não conseguia tirar o cheiro das mãos. Ele grudava em mim, oleoso e metálico. Mesmo depois de um banho, continuava sentindo o cheiro. Disse a mim mesmo que era só coisa da minha cabeça. Só o trabalho, grudando em mim.

Desabei na cama, mais cansado do que estive em muito tempo.

Acordei com um som suave de cliques.

Rítmico. Preciso. Como um metrônomo.

Clac. Clac. Clac. Clac.

A princípio, pensei que vinha do corredor. Mas, quando me sentei, percebi que o som estava no quarto.

Acendi a lâmpada de cabeceira.

A escultura do besouro tinha sumido.

Eu não tinha tocado nela. Não a movi.

Mas eu tinha.

Olhei para baixo e vi que estava na minha mão, apertada com tanta força que um filete de sangue escorria entre meus dedos.

Abri a mão lentamente.

Parecia quase vivo.

Suas pernas, seis membros finos e serrilhados, estavam abertas. Cada uma parecia uma pequena lâmina, curvada para fora e ainda tremendo levemente.

Então, sem aviso, elas se retraíram. Suave e silenciosamente, como se nunca tivessem se movido.

Queria gritar. Jogá-lo longe. Correr. Mas não conseguia me mexer. Meu corpo inteiro estava paralisado. Meu coração disparado.

Não dormi pelo resto da noite. Ele não fez mais nada depois disso, mas, por segurança, coloquei ele dentro de um velho termo que estava ao lado da escrivaninha.

Agora, estou aqui sentado, rolando a escultura entre os dedos. Por algum motivo, parece relaxante fazer isso. Não estou dizendo que não quero largá-lo, só que ele se encaixa tão bem na minha mão.

Espera.

Quando foi que tirei ele do termo?

Não me lembro de ter aberto o termo.

Não sei o que está acontecendo aqui, e estou começando a ficar preocupado.

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Quem sou eu

Minha foto
Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon