sábado, 19 de julho de 2025

Minha esposa e eu temos recebido presentes que não estão na nossa lista de casamento

Estávamos juntos há sete anos quando finalmente tomei coragem para pedi-la em casamento. Foi tudo o que eu sempre sonhei e mais um pouco. Mas as coisas começaram a ficar... estranhas depois que marcamos a data do nosso pequeno casamento e montamos a lista de presentes com os itens habituais, além de alguns "seria bom ter".

Um pacote de papelão embrulhado com um laço rosa bem arrumado começou a chegar toda semana antes do nosso casamento. No início, eram inofensivos o suficiente, embora ainda muito estranhos. O primeiro continha uma única foto Polaroid minha e da minha esposa, tirada anos atrás. Lembramos imediatamente quando e onde ela foi tirada, mas não conseguíamos explicar por que alguém se daria ao trabalho de rolar tão fundo no meu perfil do Facebook para encontrá-la e enviá-la para nós.

"Nossa, isso é assustador pra caramba", disse minha esposa.

"É, pois é..." foi tudo o que consegui responder, antes de me perder olhando para a foto.

Estávamos ocupados demais para nos preocuparmos muito com isso, mas então chegou o próximo pacote. Outra foto nossa. Desta vez, uma que eu sabia que nenhum de nós tinha compartilhado com o mundo. Nada de post no Facebook. Nada de mensagem pra mãe. Nada. Nem mesmo estava mais no meu celular – mas, novamente, nós dois lembrávamos de tê-la tirado, porque nenhum de nós poderia esquecer aquele pôr do sol. Foi a primeira vez que dissemos "eu te amo" um para o outro, com o céu coberto de tons de laranja e vermelho enquanto o dia dava lugar à noite. Como poderíamos esquecer?

Nossa despreocupação virou pânico, e eu tentei, sem sucesso, acalmar Bella com uma fachada de falsa confiança. Eu também estava abalado, mas duas pessoas apavoradas alimentando o medo uma da outra não ia acabar bem. Depois de conversarmos, decidimos fazer um boletim de ocorrência. Era uma ideia boba, mesmo na hora, já que não havia nenhuma prova de que quem estava enviando isso tinha intenções maliciosas, mas tentar se antecipar à situação não faria mal. Bella precisava de algo para acalmar, mesmo que relutantemente, sua mente.

Três dias depois de registrarmos o boletim, o terceiro pacote apareceu na nossa porta. A essa altura, já tínhamos percebido o padrão semanal e decidimos ligar para nossos trabalhos avisando que chegaríamos um pouco atrasados naquela manhã. Mas, como se estivesse em sintonia com nossos próprios pensamentos, o pacote já estava lá esperando quando acordamos. Nenhuma das nossas tentativas de pegar o responsável funcionou depois disso – o pacote simplesmente aparecia em algum lugar que não estávamos vigiando.

O laço estava um pouco desgastado, um pouco menos rosa. Como se estivesse perdendo a alegria que deveria representar. Dentro, havia uma foto mais recente. Talvez de alguns meses atrás.

Só que nenhum de nós tinha tirado aquela foto.

Nunca estivemos na cidade ao fundo.

Não havia muito que Bella pudesse fazer a essa altura, exceto chorar, misturando confusão e medo toda vez que um novo pacote chegava, enquanto eu escondia minha própria inquietação para cuidar dela. Lugares onde nunca estivemos, beijos que nunca demos, refeições que nunca comemos. Havia pilhas de fotos em cada pacote após o terceiro. Todas retratando uma vida que nunca vivemos.

Eu queria parar de abri-los, mas nunca conseguia. Bella insistia que descobríssemos o que havia dentro de cada um, como se encontrasse algum conforto além do medo que os flashes dessa outra vida despertavam nela.

O último pacote chegou ontem. As fotos dentro eram o que já esperávamos, exceto pela última, escondida no fundo, sob uma série de momentos supostamente felizes.

Era da Bella.

Deitada no chão da nossa sala, com braços e pernas retorcidos de uma forma que embrulhava o estômago. A luz do sol entrava por um canto da janela e refletia em uma faca ensanguentada cravada no peito dela.

E lá no canto, distante o suficiente para que a cena horrível no centro permanecesse o foco, mas visível o bastante para chamar minha atenção, havia uma figura. Inicialmente tão obscurecida pela escuridão que parecia uma silhueta vazia de um humano, antes de se revelar aos poucos, em questão de segundos.

Era eu.

Virei-me para Bella, com o sangue pulsando de terror nos meus ouvidos, e ela... não estava mais lá. O espaço onde ela estava momentos antes agora estava vazio. Alguma parte de mim sabia onde ela estava, e eu arrastei-me pelo chão frio até a sala, com a habilidade de alguém que esqueceu como andar, antes de fixar os olhos no meu pior pesadelo.

A mesma cena. Bella. Sem vida. Sem tudo o que fazia dela, ela. E enquanto eu estava naquele canto, cumprindo a doente profecia que me fora imposta, o clique familiar de uma foto sendo tirada de algum lugar desconhecido rompeu o silêncio que cobria tudo ao meu redor.

Pensei melhor sobre meu primeiro instinto – ligar novamente para a polícia – já que o que estava diante de mim agora era autoincriminador. Como convencer as pessoas da verdade quando todas as evidências testemunham contra você? Quando o próprio Pai Tempo testemunha contra você?

Eu não – ainda não – sei nem qual é a verdade.

Tudo o que sei é que não tive nada a ver com o que aconteceu com minha Bella.

E agora, com o coração despedaçado pela tristeza e luto, e a mente tomada por um medo primal, estou condenado a uma vida fugindo.

Uma vida sem saber o quê.

Sem saber por quê.

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon