sábado, 13 de abril de 2024

Debaixo da escada

— Vão para debaixo da escada, verme!

Meu pai está bêbado de novo. Eu me escondo, desviando de uma garrafa vazia jogada em minha direção. É o que sei fazer melhor. Desviar e se esconder. Senão, eu teria morrido há muito tempo.

— Maldito bastardo, que você morra! — os gritos embriagados ecoam de algum lugar lá em cima. Me escondo debaixo da escada, olhando para a escuridão através das fendas entre os degraus. Aqui ele não me alcançará. É muito grande e desajeitado, não passará. Eu sou pequeno, consigo me encolher no canto e esperar. Talvez até consiga mordê-lo.

— Ei, seu monstro! — os gritos estão mais perto agora. Os degraus rangem e gemem sob seu peso. Poeira cai sobre a minha cabeça. Eu espirro. Vejo o pé dele bem na minha frente. Estico a mão e puxo o tornozelo bruscamente. Chega disso. Muito barulhento. Agora ele vai ficar bom. Silencioso.

Ele é bastante pesado. O arrasto até mim, debaixo da escada. Tive que matá-lo. Macio. Saboroso. Eu como.

Jeremy estava radiante por ter comprado aquela casa. Pequena, mas espaçosa e iluminada, era perfeita para um jovem jornalista solitário. Ele podia trabalhar tranquilamente, saindo para o terraço ensolarado e, tomando chá gelado, aquecendo-se nos raios do sol.

A única coisa que o assustava um pouco era a escada de madeira rangente para o porão. Jeremy sempre teve medo do escuro, e as sombras entre os degraus da velha escada pareciam olhá-lo com um olhar faminto e ganancioso. E agora, justo na hora, a lâmpada queima. Agora ele terá que descer ao porão. Tentando vencer o medo, descer pela maldita escada e pegar uma nova lâmpada.

Ao abrir a porta, Jeremy olhou por um tempo para a escuridão, deixando seus olhos se acostumarem, se preparando. Quem colocou o interruptor embaixo? Enquanto descer, pode quebrar todas as pernas. Jeremy suspirou pesadamente e pisou na escada. Ele teve a sensação de que alguém o observava através das fendas nos degraus. Ele imaginou algo podendo esticar a mão e agarrá-lo pelo pé. Os medos infantis amaldiçoados dos quais ele, criado por sua mãe, nunca conseguiu se livrar a tempo.

Ele desceu o mais rápido possível, pegou a lâmpada da prateleira e subiu de volta rapidamente. Sucesso. A lâmpada foi conseguida, e agora ele podia se entregar ao ócio noturno comum. Sorrindo, Jeremy estendeu a mão para fechar a porta, quando viu que havia luz acesa embaixo. Droga! É claro, ele esqueceu de apagar. Mas nada podia estragar seu bom humor, e ele desceu com passos firmes.

Provavelmente, ele pisou em um lugar ruim, ou simplesmente chegou a hora da madeira apodrecida, mas o degrau sob seu pé rangeu alto, e Jeremy caiu com um grito em direção à escuridão embaixo da escada. Com um estrondo ao cair em algo duro, ele jazia tentando recobrar o fôlego. Parece que não quebrou nada. Ele estava pronto para rir da sua má sorte, quando viu em que estava deitado. Um monte de ossos. Carcaças de ratos roídas, crânios de gatos e uma espinha dorsal humana com o osso do quadril. O grito ficou preso em sua garganta. Ele ouviu algo mexendo no canto escuro distante.

— M... M... Meu... — a voz rouca o paralisou. — M... M... M... Macio...

Ele viu algo pequeno, não maior que um bebê, mas extremamente rápido se lançar na sua direção do canto distante. Pequeno, mas muito forte. A última coisa que Jeremy sentiu foi uma dor infernal. Ele viu suas entranhas saírem do estômago rasgado com um som repulsivo e caiu na escuridão.

Comendo. Ele é macio. Veio sozinho. Agora ficará tranquilo. Acho que é hora de sair daqui. Outros podem vir, muitos tipos diferentes. Posso não dar conta. Estou bem, sou pequeno. Vou me enfiar na ventilação. Ao lado, há uma casa grande. Muitos macios. Saboroso.

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