sexta-feira, 12 de abril de 2024

Mamãe está doente

Estou me escondendo embaixo das cobertas esta noite. Assim como todas as noites nos últimos 6 meses. Passos gemidos se aproximam. São lentos. Parecem muito familiares. Há um rangido prolongado da minha porta. Ela se aproxima de mim, se arrastando mais perto. Em pé sobre minha cama. Tudo o que ela faz é me olhar. Eu finjo que não percebo.

Tem sido apenas minha mãe e eu há anos. Até que uma noite, depois de uma caminhada na floresta, ela voltou doente. Tentei convencê-la a ir até a cidade encontrar um médico. Mas ela disse que era apenas um resfriado comum e que seria deselegante ir incomodar o médico por nada. Mamãe está errada, isso não é apenas um resfriado comum. Tenho medo de que algo sério esteja errado com ela. Mamãe sempre disse que sou muito jovem para conversar com estranhos online. Mas depois de sua perda abrupta de apetite, seguida pela mais recente... vontade, sinto como se não tivesse outra escolha.

Eu caminhei pelo ar úmido, absorvendo o fresco cheiro da terra encharcada pela chuva. Pinheiros se erguiam altos, pontiagudos como espinhos perfurantes pela terra. A lâmina da minha pá arrastava atrás de mim pela lama. Segurei minha lanterna, iluminando o caminho à frente. O vento uivava um lamento baixo. Cada vez que a mata se movia com o vento, eu podia sentir a aceleração do meu coração e meu peito apertar. Focava minha lanterna no barulho, para não encontrar nada ali.

Depois de alguns minutos de caminhada, encontrei uma clareira aberta. Cravei a lâmina da minha pá na lama. Ao empurrar com o calcanhar na parte de trás da lâmina, a enfiei mais fundo no chão. Puxando o cabo, um monte de lama e grama se desvirou. Os corpos rosa e contorcidos de minhocas, cobertos de lama molhada, brilhavam à luz da lua. Tirei o saco de lixo dobrado do meu bolso traseiro. Tirei cada minhoca do monte de terra e as coloquei no saco. Uma por uma.

O saco se contorcia atrás de mim enquanto eu andava. Pude ver a cabana da minha família adiante. Das janelas, um tom amarelado de luz se derramava na noite. A silhueta de uma mulher magra parou na janela. Balançando de forma antinatural onde estava. Sua cabeça se virou para me encarar. Mamãe está me observando. Ao entrar pela varanda dos fundos, eu já podia sentir seu olhar penetrando em mim. Fechei os trincos da porta da varanda e coloquei o saco sobre a mesa de jantar.

"Oi mamãe, estou em casa", anunciei.

Mamãe usava um vestido azul pálido, o tecido pendurado frouxamente sobre sua estrutura. Seus olhos afundaram em um olhar sombrio. A pele sob seus olhos estava flácida. Linhas de expressão profundas estavam gravadas em sua face. Cores desbotadas e veias azuis proeminentes decoravam sua pele. Sua respiração era baixa e trabalhosa.

"Sente-se, mamãe. Você precisa descansar", implorei, com preocupação em minha voz.

Eu a segurei, levando-a de volta para a cama. Os dedos finos de mamãe envolveram os meus. O pulso de seu coração batia fracamente em suas veias. Sua pele parecia esticada, como couro sobre os ossos. Ela tremia a cada passo, se apoiando em mim para obter suporte.

Um ranger chiado ecoou da porta quando a empurrei. A luz dos corredores iluminou seu quarto escuro. O ar frio arrepiou minha pele. Guiei-a para a cama e a acomodei com travesseiros. Então a coloquei para descansar.

Seu corpo jazia frágil em sua cama king-size. Como se fosse desaparecer entre as dobras das cobertas. Seu braço trêmulo se estendia em minha direção. Ela acariciava meu cabelo. Um gesto familiar de conforto suave. Interrompido por unhas arranhando a pele de meu couro cabeludo.

Peguei o controle remoto de sua mesa de cabeceira e liguei a TV. O brilho suave da tela encheu o quarto. Ela não se virou para olhar para a TV. Fixou seu olhar em mim.

"Não se preocupe, eu volto logo, mamãe." Sussurrei.

Fechei a porta atrás de mim. Apressei-me pelo caminho de volta à mesa da cozinha. O saco havia caído. Um punhado de minhocas derramou-se sobre a mesa. Agitei as mãos, as pegando e as colocando de volta no saco.

Empurrei a porta de seu quarto, sacola na mão. Ela estava de pé no final da cama. Seus olhos estavam fixos na porta. Eu podia ouvir um rosnado baixo vindo de sua respiração. Insegura, ela oscilava de um lado para o outro. Lentamente, me aproximei dela.

"Mamãe, você sabe que precisa descansar. Eu tenho sua refeição para esta noite aqui." Balancei o saco em minha mão para mostrar a ela.

Ela parou. O rosnado baixo começou a desaparecer. Me aproximei de mamãe, para não assustá-la. Coloquei a mão no ombro dela enquanto a guiava de volta para a cama. Acomodei-a em travesseiros fofos. Dentro da sacola havia uma massa fervilhante de minhocas esperando. Peguei uma minhoca gorda e escorregadia da massa contorcida. O corpo rosa da minhoca se contorcia. Tentando em vão se libertar. Mamãe olhou para cima para mim, expectante.

Coloquei a primeira minhoca em sua boca. A minhoca desceu, suave e devagar. Então, do saco, tirei mais uma. Uma minhoca de cada vez. Eu conseguia ver as veias começarem a se contorcer sob sua pele. A cor começou a se espalhar por seu rosto. Um brilho sutil começou a aparecer em seus olhos. Seus lábios se curvaram em um leve sorriso. Uma por uma.

"Acabou." Balancei o saco vazio na frente dela.

"Boa noite, não deixe as percevejos morderem."

Ao sair, senti seus olhos em mim. Me observando. Fechei a porta atrás de mim. A casa está quieta esta noite. Apenas o ranger de meus passos ecoa.

Estou me escondendo embaixo das cobertas esta noite. Assim como todas as noites nos últimos 6 meses. Passos gemidos se aproximam. São lentos. Parecem muito familiares. Há um rangido prolongado da minha porta. Ouo ela se arrastar. Mais perto de mim. De pé sobre minha cama. Tudo o que ela faz é me olhar. Finjo não perceber.

Estou me escondendo com meu telefone embaixo das cobertas. Não consigo fazer a jornada até a cidade sozinho a pé para encontrar um médico. Mamãe observa todos os meus movimentos. Não acho que ela me deixaria sair. Estou pedindo ajuda para alguém, qualquer pessoa me ouvir. Precisamos de ajuda. E estou com muito medo de estar sozinho aqui.

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