segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A casa da minha prima

Sempre havia algo estranho na casa da minha prima. Pintada de um amarelo vibrante e alegre, parecia quase se esforçar demais para parecer acolhedora. Mas, não importava o quão ensolarado fosse o exterior, uma escuridão emanava de dentro — e eu podia senti-la. Sempre fui sensível ao sobrenatural, e mesmo quando criança, eu sabia que algo não estava certo. Ainda não entendia o que sentia, mas era algo que ressoava fundo nos meus ossos.

Minha prima — vamos chamá-la de Sam — morava numa cidade vizinha, e minha tia, mãe dela, cuidava de mim com frequência. Com o tempo, a energia estranha naquela casa foi ficando mais forte. O paranormal não estava apenas presente; ele estava se tornando mais ousado. No começo, eram coisas pequenas: sombras se movendo rapidamente no canto da minha visão, objetos mudando sutilmente de lugar quando ninguém estava por perto. Eu dizia a mim mesma que não era nada. Acreditava — ou queria acreditar — que, se ignorasse, aquilo iria embora.

Mas não foi. E mesmo que eu fingisse não notar, meu corpo ainda reagia. O medo era físico — uma sensação rastejante sob a pele, um frio constante no ar. De alguma forma, eu sabia que o que quer que estivesse naquela casa sabia que eu estava com medo.

O pior de tudo era quando eu precisava dormir lá.

O quarto da Sam era pequeno e quadrado. O armário ficava bem à direita ao entrar. A cama dela era elevada, com uma escrivaninha encaixada embaixo, contra a parede dos fundos. Eu dormia no chão, paralelo ao armário. Isso me deixava nervoso — então, eu sempre pedia para a Sam colocar uma cadeira dobrável de metal redonda na frente do armário antes de apagarmos as luzes. Aquilo me fazia sentir mais seguro, embora eu nunca soubesse exatamente por quê.

A Sam ficava lá em cima, na cama elevada, fora do meu campo de visão, e ela nunca usava uma luz noturna. O quarto dela era completamente escuro — aquele tipo de escuridão em que seus olhos nunca se ajustam. Eu sempre implorava à minha tia por uma lanterna, que eu escondia dentro do saco de dormir, só por precaução.

Uma noite, em particular, ficou marcada na minha memória. Até hoje, ela me assombra.

Naquela noite, eu tinha me certificado de que a cadeira estava na frente do armário. Verifiquei duas vezes. Então, as luzes se apagaram.

Eu estava deitado de lado, de costas para o armário, tentando me forçar a dormir. Foi quando ouvi: um longo arrastar metálico pelo chão... seguido de um baque suave, mas pesado. Cada músculo do meu corpo travou. Arrepios explodiram pelos meus braços e pescoço. Mal conseguia respirar.

Então, veio o clique lento e deliberado da porta do armário se destrancando.

Eu não conseguia me mover. Não ousava me virar. O ar ao meu redor ficou subitamente mais frio — cortante e anormal. Não sei quanto tempo fiquei ali, paralisado. Minutos? Horas? Pareceu uma eternidade.

Quando a onda inicial de pavor começou a diminuir o suficiente para eu agir, alcancei a lanterna sob o cobertor e a acendi. Com o coração disparado, me virei.

A cadeira tinha sumido.

Não — pior. Ela havia sido dobrada e colocada de lado no canto mais distante do quarto.

A porta do armário... estava entreaberta.

A Sam não tinha se mexido. Eu podia ouvir o ronco dela acima de mim. Queria gritar, correr, fugir — mas não conseguia sair do saco de dormir. O ar lá fora parecia gelado, como se algo estivesse esperando.

Rolei de volta, puxei o cobertor bem apertado ao meu redor e fechei os olhos.

Foi quando ouvi — uma voz. Um sussurro suave, impossivelmente perto do meu ouvido:

“Vai... dormir.”

Não dormi naquela noite. Fiquei encarando a escuridão até o primeiro raio de luz da manhã rastejar pelo quarto. Assim que pude, pedi à minha tia para ligar para a minha mãe me buscar. Eu me sentia mal — doente de verdade — e nunca contei a ninguém o que aconteceu.

Não até anos depois.

A Sam e eu saímos para tomar uns drinks e acabamos dormindo na casa de outra prima, juntas no sofá. De alguma forma, a conversa acabou indo parar na casa antiga dela. Meio rindo, meio nervosa, eu disse: “Sempre achei que sua casa era assombrada. Aquela cadeira dobrável costumava se mexer sozinha quando eu dormia lá.”

A Sam nem hesitou.

“Ah, é,” ela disse, casualmente. “Aquela casa era definitivamente assombrada. As pessoas que moraram lá antes tinham um filho. Ele se afogou na piscina do quintal.”

Eu congelei. Nunca tinha ouvido falar de uma morte naquela propriedade — nem uma vez. Mas, naquele momento, tudo fez sentido. O peso, o medo, a voz. Não era só minha imaginação. Eu tinha sentido algo real.

Mas, mesmo enquanto a Sam falava, uma parte de mim rejeitava a ideia de que era apenas o espírito de um menino afogado. Isso não explicava a malícia que eu sentia — o movimento frio e deliberado da cadeira, ou o sussurro que parecia mais uma ordem do que um conforto. Não, o que assombrava aquela casa não era inocente ou confuso. Cheguei a acreditar que a morte do menino não era a fonte da presença — mas sim o gatilho. Que a dor e o luto deixados pelo afogamento abriram uma fenda... e algo mais passou por ela. Algo mais sombrio. Algo que se alimentava de tristeza.

A presença que senti naquela noite não estava de luto.

Ela estava faminta.

Por anos, convenci a mim mesma de que minha memória estava falha — que eu tinha exagerado ou lembrado errado quando criança. Mas, depois da confirmação da Sam, eu soube a verdade: o que aconteceu comigo naquele quarto foi real.

Mesmo agora, enquanto escrevo isso, aquele mesmo pavor familiar se insinua. Ainda ouço o arrastar do metal no chão. Ainda sinto o ar gelado contra minha pele.

Ainda vejo aquela porta do armário entreaberta... na minha mente... ligeiramente escancarada, esperando.

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Quem sou eu

Minha foto
Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon