Será que eu queria entrar? Acho que agora não importa, já que estou no saguão. Ele está vazio, exceto por uma recepção, uma cadeira dobrável, um suporte de chaves e um elevador no canto oposto. As luzes do teto piscam. Também ouço o som de um mata-insetos em algum lugar. Na recepção, há uma placa que diz: "Por favor, pegue uma chave". Só há uma chave pendurada. Ela está fria, e antes que eu perceba, estou no elevador, ouvindo uma música ambiente. Para onde estou indo?
Meu amigo disse que desejos são realizados aqui. Alguém conhece esse lugar? Acho que vi outro carro estacionado ao lado do meu quando cheguei.
BING.
A porta do elevador se abriu com dificuldade. Ao espiar pelo corredor escuro, vi que era apenas um longo corredor acarpetado. No final, há um quarto. A porta tem meu nome. A chave funcionou. Está tudo tão silencioso. Meu quarto é bem pequeno, mas aconchegante, como se fosse feito para mim. Cama, cozinha, banheiro. Retratos meus estão pendurados nas paredes bege. De onde vieram essas fotos? Meu Deus, minha cabeça dói. Há uma cesta de gorjetas na mesinha de cabeceira. Vou deixar algumas unhas. Meu amigo me deu algumas para que eu pudesse entrar neste lugar.
A TV e o rádio não funcionam, mas a água sim. Um banho quente parece uma boa ideia. Fiquei de molho até meus dedos enrugarem. O que são esses desejos que meu amigo mencionou? Lembro-me, em fragmentos confusos, de uma fogueira, algumas cervejas, trocando histórias com outras pessoas. Estávamos apenas conversando quando ele falou sobre este lugar. Disse que a estrada aparecia depois das três da manhã, ao norte de Fort Sumner. Acreditei nele, ou melhor, quis acreditar.
Dormi. Não sei por quanto tempo. Ao acordar, decidi escrever tudo. Este lugar, seja o que for, não está certo. Está mexendo comigo, bagunçando minha mente. As unhas que coloquei na cesta sumiram, e há um café da manhã pronto na mesa da cozinha. Não me lembro de ninguém entrando. Não vou comer isso. Coisas estão acontecendo. Estou lutando para distinguir o passado do presente. Acho que quero ir embora.
Abri a porta com cuidado; o corredor estava diferente. Ainda escuro, mas não como o que atravessei ao chegar. Parecia habitado. Havia móveis, poltronas, mesas, tigelas de frutas, uma TV antiga, um rádio, luminárias centenárias, retratos de estranhos, todo tipo de coisa espalhada. O elevador sumiu. Agora, o corredor se divide em dois, cada um com uma porta. Um arquivo está no final do corredor, com um papel bem datilografado sobre ele.
"Faça sua escolha", dizia.
"Você prefere vermelho ou azul?" estava escrito abaixo. Olhei e vi que uma porta tinha "Vermelho" entalhado, e a outra, "Azul".
Abri a que dizia azul. É minha cor favorita, afinal. O que vi me deu náuseas. Era o mesmo corredor, com tudo idêntico, mas as paredes eram pintadas de azul. A porta se trancou atrás de mim. Não que eu queira abri-la. Ouço algo quando encosto o ouvido nela. Passos pesados e uma respiração ofegante. Corri até o final do corredor e encontrei o mesmo arquivo com o mesmo papel. "Faça sua escolha", dizia.
"Você prefere sua mãe ou seu pai?" Um calafrio percorreu minha espinha.
"Me deixa sair!" gritei, sem resposta.
"Ei! Por favor, não quero fazer isso!" gritei novamente. Nada.
Fiquei parado, sem esperança. Peguei meu celular. O sinal não funciona direito. As chamadas saem, mas só ouço estática. Escolhi a porta com "mãe". Mais uma vez, o mesmo corredor azul, mas, ao passar, a TV ligou sozinha. Pulei de susto e olhei para ver o que era.
A qualidade do vídeo era ruim, mas consegui distinguir trechos de reportagens misturadas com o que parecia ser um vídeo snuff de uma mulher assassinando um homem em uma sala. Era tão gráfico, o sangue jorrava por toda parte. Vi ela brincando com os órgãos. Não conseguia desviar o olhar. Por que não conseguia desviar o olhar?
Ouvi um grito agonizante de um homem ecoar atrás de mim. Foi tão intenso que caí e examinei o corredor. Não havia ninguém. Meu Deus, não havia ninguém. Seria melhor se tivesse? Levantei e corri até o mesmo arquivo.
"Você prefere ganchos ou agulhas?" perguntava o papel.
"Que diabos isso significa?" murmurei, frenético. "Vou me machucar? Alguém vai se machucar?"
Passei pela porta dos ganchos.
Estava andando no teto. Olhei para cima e vi, acima de mim, o mesmo corredor azul, com tudo idêntico novamente. Movendo-me com cuidado, ouvi o som de metal raspando abafado sob meus pés, sob o "chão". Algo estava abaixo de mim. Antes que eu pudesse reagir, corpos surgiram explodindo do lugar abaixo de mim. Estavam pendurados em ganchos, flutuando acima de mim, pendurados ao contrário e presos por correntes. Naquele momento, senti minha pele começar a coçar e ser puxada por coisas que eu não podia ver. A dor aumentava lentamente, e eu sabia que, se não continuasse, só pioraria. Próximo papel.
"Você prefere fogo ou água?"
Fácil, pensei. Corri pela porta da água e fui recebido pelo mesmo corredor azul. Nada de anormal. Um alívio, esperava. Então a vi. Uma idosa magra e alta, sentada em uma cadeira de balanço. Sua cabeça estava abaixada, encarando o chão. Meus nervos gritavam, e, enquanto tentava passar, rezei para que ela não se movesse ou acordasse. Mas algo na minha mente me puxava. Uma lembrança? Será que a conheço? Estranho. Não quero descobrir.
Ao avançar, senti o carpete molhado sob meus pés e, olhando para baixo, vi que o corredor começava a inundar. Apressei o passo, e, quando cheguei ao arquivo, a água já batia nos meus joelhos. Olhei para trás, embora desejasse não ter feito isso. A idosa estava me encarando e se levantou imediatamente. Sua figura era imensa, talvez dois metros e meio. Gritei e me virei para ver as novas escolhas.
"Você prefere ser perseguido ou ser observado?"
Observado, decidi. Joguei o papel de lado e percebi que a idosa estava a poucos metros de mim. Sua risada me arrepiou enquanto eu lutava para abrir a porta, com a pressão da água contra mim.
"Preciso sair daqui", repetia. Ao tropeçar no novo corredor, a porta se fechou sozinha, e eu estava de volta àquele corredor. Estava mais escuro, muito mais escuro. Cambaleei e senti a presença de algo comigo. Senti seu hálito na minha nuca. Virei-me e vi apenas o brilho laranja escuro de dois olhos me encarando, a poucos passos. O que quer que fosse, acompanhava meu ritmo enquanto eu recuava com cuidado. Pensamentos que não eram meus me invadiram. Pensamentos de morte, ódio, ciúme, orgulho e muito mais. Era como se eu estivesse me partindo ao meio. Não aguento mais. Há um peso no meu peito. Finalmente, esbarrei no arquivo novamente. Minhas mãos procuraram o papel. A pergunta era diferente, mais direta.
"Você salvaria sua esposa ou seu filho?"
Unhas.
Uma dor lancinante atravessou minha cabeça, me fazendo cair de joelhos. Como uma enxaqueca intensa. Vi um vislumbre vívido de uma mãe e um filho em um piquenique. Não sou casado. Não tenho filhos. Esposa, suponho. Rastejei por aquela porta. Estava exausto.
Estava do lado de fora? Não, o corredor parecia estar do lado de fora, mas não estava. As árvores subiam para um abismo sem fim. O rádio tocava música, mas mal. Pensei, não, eu sabia, que vi alguém mexendo nele enquanto passava. Ouvi risadas ecoando. Tudo está embaçado. Onde estou? Me sentia perdido. Acho que corri por um tempo.
Unhas.
Estou cansado e ofegante. Quanto tempo corri? Acho que desmaiei sobre o arquivo e bati a cabeça em um dos puxadores. Sei que senti sangue quente escorrer pela minha testa. Você está lendo isso? O papel diz:
"Você vai me torturar?"
Preciso voltar, pensei. Empurrei os arquivos, me apoiando para levantar. Preciso sair daqui. Preciso de mais unhas. O outro caminho sumiu. O corredor está mudando, mudou, e se move quando tento olhar. Sons que não consigo descrever escapam de mim. Não há mais porta, ela sumiu. Só o corpo de uma criança que nunca conheci. Caí diante dele e chorei. Não sei por quê ou quem era, mas senti meu coração sendo arrancado ao olhar para seu rosto. O rosto parecia o meu, mas diferente. Sentimentos profundos de arrependimento e tristeza me invadiram. Unhas estavam cravadas em seus olhos, orelhas, nariz e boca.
Estou deitado no chão ao lado de um cadáver. Não enxergo mais muito bem. A bateria do meu celular está acabando. Não sei se isso vai chegar a alguém. Por favor, me ajude. Por favor, venha passar uma noite no Motel das Unhas.
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