sábado, 2 de agosto de 2025

O Cachorro Morto que Atropelei com Meu Carro Não Me Deixa em Paz...

Era uma noite seca e fresca quando saí do trabalho, há uns quatro meses. Parei no posto de gasolina para abastecer quando um raio atingiu o chão a um quarteirão dali, seguido por uma chuva torrencial.

Com medo de que um segundo raio pudesse acertar o posto, soltei a bomba de combustível e pulei para dentro do carro, acelerando fundo. Eu sei. Que idiotice.

O posto ficava a poucos quilômetros do trabalho, mais ou menos a mesma distância do posto até o meu bairro. Eu estava voando baixo enquanto trovões ecoavam no céu. Os canais de notícias tinham prometido um tempo tranquilo, o que era estranho.

Cheguei ao meu bairro e comecei a reduzir a velocidade. A chuva batia contra o para-brisa como eu nunca tinha visto antes. Mal conseguia enxergar à frente, mesmo com os limpadores no máximo. Foi quando senti algo bater no meu carro.

Não. Eu bati em algo com meu carro.

Pisei no freio com força, saí rapidamente e fui verificar. Um husky, partido ao meio, jazia no chão.

Na hora, confesso que fui um babaca e simplesmente deixei pra lá. Pensei comigo mesmo: “Não é uma pessoa, não é meu problema.”

“Cachorro idiota,” murmurei baixinho.

Um mês atrás, o carma me acertou em cheio.

Noites sem dormir por causa de batidas aleatórias pela casa. Pareciam distantes, como se alguém estivesse batendo nas janelas.

Mas então as batidas foram ficando mais próximas, como se viessem da sala de estar e do corredor. Até que, numa noite, apaguei as luzes e me deitei. Foi quando ouvi batidas vindo da porta do meu quarto.

Peguei o celular rapidinho e usei a lanterna para olhar ao redor. Nada. Chamei a polícia na manhã seguinte, mas eles não encontraram sinais de arrombamento.

Perguntaram se eu tinha algum animal de estimação em casa. Talvez um cachorro grande. Fiquei confuso e disse que não.

O policial explicou que encontraram arranhões de animal do lado de fora da minha casa. Como se algo estivesse tentando entrar.

Talvez apenas um guaxinim mexendo nas coisas à noite, sugeriram. Também encontraram um buraco na cerca de madeira que separa minha casa da do vizinho.

Mas quando foram perguntar ao vizinho sobre animais de estimação, não tiveram resposta. Expliquei que ninguém mora naquela casa desde que o último dono se enforcou na sala. A casa é invendável.

Os policiais foram embora, e passei o resto do meu dia de folga assistindo filmes e comendo pizza. Ouvi crianças brincando lá fora, rindo, até que, de repente, começaram a gritar de medo.

Corri para ver o que estava acontecendo, e elas apontaram para a janela da casa do vizinho. “Sr. Collar!”

Sr. Collar é o nome que as crianças deram ao que dizem ser o fantasma do meu antigo vizinho. Elas juram que o veem, não só pendurado no teto, mas balançando de cômodo em cômodo.

“Vocês não têm lição de casa pra fazer ou algo assim?”

“É sábado, David.”

“Then vão assistir desenho animado se tão com medo de brincar lá fora.”

“Vai se foder, cara!”

Tem que amar essas crianças.

Enquanto elas saíam de bicicleta, olhei para a casa do vizinho pra ver se conseguia enxergar o Sr. Collar balançando por aí.

Não contei isso aos policiais, mas o Sr. Collar era o dono do cachorro que atropelei há quatro meses. Ele tirou a própria vida uma semana depois.

Ele tinha um gato. Coitado, provavelmente morreu de fome até agora. As crianças juram que o veem espiando pelos cantos da casa.

Elas são cheias de lorota, pra ser honesto. Mas, caramba, as crianças deviam estar certas o tempo todo, porque naquela noite eu os vi.

Todos eles.

Os desgraçados devem ter planejado uma maldita reunião de família. E eu era o convidado de honra.

Tudo começou quando eu estava me preparando pra dormir, e de repente ouvi batidas altas vindo debaixo da minha cama. Me agachei rápido e espiei de uma distância segura. Era aquele maldito cachorro.

Deve ter cavado um túnel do lado de fora até o meu quarto. Agora, tinha quebrado o assoalho de madeira.

Saí correndo e bati a porta. Ligando para o 911, corri pelo corredor, passando pela cozinha, quando, do nada, o gato zumbificado do vizinho pulou do balcão no meu rosto.

Ele tentou arrancar meus olhos enquanto eu derrubava o celular. Sentia suas garras cravando no meu braço. Um par de presas se prendeu na minha perna, me derrubando no chão.

Joguei o gato pro lado e fiquei cara a cara com o cachorro. Pelo menos, achei que era um cachorro.

A coisa horrível ainda tinha o torso e a cabeça de um cachorro. Mas a parte traseira do corpo estava frouxamente conectada à frente com o que presumo serem ossos humanos que ele deve ter desenterrado de algum cemitério próximo.

Suas patas dianteiras foram substituídas por braços humanos ensanguentados que agarraram e seguraram minhas pernas. E seus olhos. Não ouso imaginar como diabos ele conseguiu substituir os olhos por olhos humanos.

O Cachorro Morto me arrastou de volta para a casa do vizinho, enquanto o Gato Assustador que me atacou seguia atrás.

Lá dentro, ouvi um choro alto, seguido por uma voz familiar. Não consegui distinguir as palavras, exceto uma.

“David!”

O Sr. Collar estava pendurado no teto à minha frente. A coleira do Cachorro Morto enrolada no pescoço dele, enquanto a tira pendia pelo telhado torto.

Não precisei entender o que ele dizia pra saber o que estava acontecendo.

Eu matei o cachorro dele. Agora, a família inteira quer vingança.

Eu vou morrer, a menos que faça alguma coisa.

Chutei o Cachorro Morto pra longe e pulei de pé. O Sr. Collar balançou na minha direção e envolveu os braços na minha cintura. O Gato Assustador idiota começou a morder meus tornozelos.

O Cachorro Morto abocanhou minha mão esquerda e devorou três dos meus dedos, deixando só o indicador e o polegar.

Eu era um homem morto. E deveria ter morrido, se não fosse por dois policiais que invadiram pela porta da frente e atiraram no cachorro, no gato e no meu vizinho. Vi os rostos assustados deles enquanto me puxavam pra fora da casa.

Os policiais me pediram pra não contar a ninguém o que aconteceu, mas tanto faz. Ninguém vai acreditar em nada do que qualquer um de nós disser mesmo.

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