domingo, 17 de agosto de 2025

Ele me espia pela janela às 3 da manhã

Estou escrevendo isso pra que as pessoas saibam a verdade quando ouvirem meu nome. Eu sinto que ele está tomando conta de mim. As vozes estão ficando mais altas e as visões, mais reais. Eu sei que isso pode parecer o delírio de um cara que finalmente surtou, mas acredite em mim, eu não tô louco. Eu só não quero que o que aconteceu comigo aconteça com mais ninguém. Então, lembre disso enquanto lê minha história: ele espia pela sua janela às 3 da manhã. Não importa o quanto ele tente te atrair, não importa os truques que ele use, não deixe a curiosidade vencer.

Quando eu me mudei pra esse apartamento, eu me convenci de que os barulhos eram só coisas normais de prédio antigo. Sabe como é: canos rangendo como se estivessem tossindo catarro, radiadores tiquetaqueando como um relógio de bolso velho, os vizinhos de cima derrubando sei lá o quê em horários absurdos. Na primeira semana, eu acordava por volta das 3 da manhã com sons fracos perto da janela. Achei que eram gatos no beco, talvez alguém jogando lixo fora, ou até o vento assobiando pelas frestas minúsculas da moldura da janela nesse meu apartamento velho e barato. Pareciam coisas normais. Coisas inocentes. Mas os barulhos foram ficando mais estranhos. Menos como "casa velha se acomodando" e mais como... vozes. Não palavras completas, mas ritmos. Como se alguém estivesse testando sílabas ou tentando aprender o ritmo da fala humana, mas não conseguisse acertar. Algumas noites, soava como o meu nome. Outras, eram batidinhas leves, como dedos tamborilando no vidro. Sempre da mesma janela. Sempre no mesmo horário. Eu tentei ignorar e me convenci de que não era nada. Esse foi o meu erro.

Os barulhos ficaram mais constantes, e foi aí que notei algo diferente neles. Eles estavam ficando espertos. Começaram a imitar sons de dentro do meu apartamento. Barulhos simples, como o zumbido da geladeira, o rangido da cadeira, até o chiado suave dos meus sapatos quando eu andava de um lado pro outro na cozinha... mas sempre vindo da mesma janela. Esses sons logo evoluíram de volta para aqueles ruídos confusos tentando imitar a fala humana. As vozes mudavam de um grito raivoso para um gemido quase acolhedor. Ele queria que eu me aproximasse, queria que eu olhasse. Por semanas, eu resisti. Eu não sabia o que era, mas se tivesse olhos, de jeito nenhum eu ia deixar que me visse. Fiquei encolhido debaixo das cobertas, tentando abafar aqueles sons demoníacos que vinham da janela toda noite. Mas, no final, a curiosidade venceu. Acordei de novo às 3 da manhã com os barulhos vindo daquela janela escura e hostil. Eu não aguentava mais. O que estava causando isso? Com certeza era só alguém me pregando uma peça, né? Então eu fui e olhei.

Foi aí que os pesadelos começaram. Não eram só sonhos ruins. Eram cenas montadas com precisão, filmadas com uma clareza que nenhum sonho deveria ter. Uma garota que eu amava mutilada na minha banheira, os olhos arrancados por mãos longas demais pra serem humanas. Uma cena da minha família gritando por socorro através de uma janela gradeada, as bocas cheias de cacos de vidro e as pontas dos dedos sangrando enquanto tentavam se arrastar na minha direção. Eu deitado na cama enquanto algo pressionava o rosto contra a janela, sorrindo cada vez mais largo até a pele rachar. Os pesadelos não acabavam quando eu acordava. Eles me seguiam durante o dia, queimados nas minhas pálpebras, fazendo minha pele arrepiar e minha ansiedade explodir. Faz semanas que eu não durmo mais do que umas horinhas picadas. Meu corpo treme de exaustão, meus olhos ardem, e eu não sei se as sombras que vejo são alucinações ou vislumbres do futuro. Vou tentar dormir um pouco agora. A luz forte do sol está iluminando meu quarto nesse momento, me protegendo daquela escuridão profunda e perturbadora que surge quando a lua aparece. Mais tarde, vou procurar apartamentos novos. Preciso sair daqui, RÁPIDO.

Algo estranho aconteceu hoje. Uma senhora que mora no final do corredor, uma velhinha simpática que geralmente fica na dela, me encurralou perto das caixas de correio. Ela me encarou por um bom tempo, como se estivesse estudando meu rosto. Dava pra ver que ela notou o olhar assombrado, sem alma e cansado que eu tô, e as olheiras debaixo dos meus olhos que normalmente são cheios de alegria. Ela não disse nada por um tempo, só me olhando como se eu fosse um caso perdido. A tensão no ar era tão pesada que eu não sabia se falava algo ou se saía correndo. Antes que eu decidisse, ela disse uma coisa que no começo não fez sentido, mas agora me dá calafrios na espinha.

"Enrole-se todo. Da cabeça aos pés. Como as crianças fazem. Não deixe que ele te veja. Nem um dedo. Nem um fio de cabelo."

Eu tentei perguntar o que ela queria dizer, mas ela se afastou rapidinho e sumiu antes que eu pudesse insistir. Fiquei pensando nisso o dia inteiro, a ponto de vasculhar fóruns, arquivos antigos e até blogs locais esquisitos. Fiquei chocado com o que descobri. Havia um padrão que aparecia repetidamente. Crianças enfiadas debaixo das cobertas, ouvindo historinhas de ninar que pareciam mais guias de sobrevivência. Adultos dormindo com facas ou outras armas debaixo do travesseiro, cortinas blackout pregadas nas molduras e trancas em todas as janelas. Todas essas histórias tinham uma coisa em comum. A Regra. Segundo a lenda, "A Regra" é assim: se ele te vê, qualquer parte de você, você tá marcado. Se você tiver "sorte", ele te mata. De forma horrivelmente lenta e brutal, com certeza, mas misericordiosa comparada ao que acontece se ele decidir te manter vivo.

Porque os sobreviventes não duram. Pesadelos, alucinações, paranoia até eles quebrarem. Alguns se matam se ainda conseguirem se controlar. Aqueles que não são tão fortes cometem atos atrozes e matam outros de maneiras bárbaras e horríveis. Mas toda história termina do mesmo jeito: uma ou mais mortes e uma tragédia por trás de tudo. E eu? Eu o vi antes mesmo de ter chance. Olhei pra aquela janela e agora os pesadelos não param. Eles estão piorando há dias, e eu sinto que tô escorregando. Já tentei me matar. Não vou dizer como, mas toda vez algo me impede. A corda arrebenta, a lâmina escorrega, o frasco derrama. Não é coincidência. Aquela... coisa, aquela abominação nojenta e sorridente vinda do inferno, com sua pele fina como papel e traços distorcidos que não são bem humanos, não me deixa morrer. Ela quer que eu sofra. Eu sinto ela rindo atrás do vidro toda noite, me vendo apodrecer. Eu não sou mais uma pessoa. Sou um peão no jogo dela. E ela vai decidir como e quando eu morro. Então, se você ouvir meu nome no jornal... seja suicídio, assassinato, alguma tragédia grotesca... por favor, saiba que não fui eu.

Ele espia pela sua janela às 3 da manhã.

E ele me viu.

Não deixe que ele te veja.

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Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon