Tudo começou hoje de manhã. Estávamos apenas cuidando da nossa vida, monitorando as câmeras, garantindo que os T-Rexes ficassem dentro do cercado. A chuva caía firme, mas nada muito preocupante. À tarde, a tempestade piorou. Trovões sacudiram o complexo, fazendo as paredes trepidarem. Quando estávamos voltando para os alojamentos dos funcionários, meu rádio estalou. Um raio tinha atingido algum ponto do sistema, desativando as cercas elétricas.
Dois T-Rexes soltos? Isso era impensável. Mandaram a mim e ao Carter para reiniciar o sistema. Pegamos nossas lanternas e bastões de choque, sabendo muito bem no que estávamos nos metendo. Os relâmpagos iluminavam o caminho enlameado até a torre, mostrando as árvores se curvando sob o vento, poças refletindo os flashes como espelhos. Cada clarão me fazia pular de susto.
Quando nos aproximamos da cerca, ouvi um ronco distante, algo imenso se movendo. Meu estômago deu um nó. Os T-Rexes ainda não estavam em pânico; eles estavam apenas... atentos. Esperando. Observando. Carter murmurou algo sobre a tempestade, tentando se acalmar, mas eu sentia o medo dele. Era o mesmo que o meu.
Chegamos à torre. Os painéis soltavam faíscas por causa da chuva, com água escorrendo pelos fios. Estendi a mão para tocar o interruptor principal — luvas molhadas tornando tudo escorregadio, cada faísca um pequeno choque na minha mão. Atrás de mim, um rosnado baixo e grave ecoou pelo cercado. Congelei. Um relâmpago iluminou o campo, e por um segundo terrível, eu vi — a sombra de uma das feras se movendo, imensa e silenciosa, os olhos refletindo a luz como fogo.
Carter sussurrou, apertando o bastão com mais força. “Você viu isso?” Eu assenti. Sabíamos que não tinha volta. O sistema precisava voltar a funcionar antes que eles se aproximassem o suficiente para testar as cercas por conta própria. Cada músculo do meu corpo gritava para correr, mas eu não podia. Tinha que terminar isso.
Acionei o disjuntor principal. Faíscas voaram. A tela piscou. A cerca zumbiu, voltando à vida — mas por quanto tempo? O rosnado atrás de nós não parou. Outro relâmpago brilhou, e a sombra se aproximou. A chuva mascarava o som dos passos, mas eu ouvia o baque pesado das garras atingindo a lama, em algum lugar logo além da torre.
O sistema não reiniciava rápido o suficiente. Cada segundo parecia uma eternidade. Então, ouvimos — um rugido alto, que fez os ossos tremerem, seguido por um estrondo colossal. Cabos se romperam, chicoteando na chuva, batendo na lama. A torre tremia sob nossos pés a cada passo da fera.
Congelei quando um relâmpago iluminou a janela. A cabeça dela apareceu dentro da torre, mandíbulas gigantescas mordendo as vigas de aço. A estrutura inteira estremeceu. Então, com um rugido ensurdecedor, ela arrancou a torre da base, jogando-a sobre nosso veículo com um estalo nauseante. Carter e eu fomos atirados pelo chão como bonecos de pano, ralando braços e costas.
Nos levantamos, pegando os bastões de choque. Cada passo para fora era cauteloso, nossas botas escorregando na lama. Então, o rádio estalou. Alguém gritava por cima da tempestade, dizendo para ficarmos calmos e não nos mexermos. Nem respondi. O rugido já tinha alertado a fera sobre nossa localização. Seus passos vinham em nossa direção, cada um como um martelo contra a terra.
O pânico tomou conta. Corremos. Eu mal conseguia enxergar através da chuva e da escuridão, mas chegamos aos alojamentos dos funcionários. O alívio durou pouco. Um segundo rugido cortou o ar, e o outro T-Rex atravessou os cabos não eletrificados, avançando como uma avalanche viva. Seus olhos nos fixaram, nos encurralando em direção ao pequeno posto avançado ali perto, suas mandíbulas estalando, dentes brilhando nos relâmpagos.
Ao longe, vimos um único guarda de segurança trancando tudo para a noite. Uma onda de alívio nos invadiu. Começamos a gritar, acenando com as lanternas, esperando que ele nos visse. Por sorte, ele viu — e também viu os T-Rexes. Ele atrapalhou-se com as chaves, mas finalmente abriu a porta e correu para dentro. A porta estava se fechando, mas conseguimos entrar bem a tempo.
Estávamos seguros... por enquanto.
Mas o chão tremia sob nossos pés. BUM... BUM... BUM. A porta de metal reforçado estremecia enquanto os T-Rexes batiam contra ela, suas cabeças enormes sacudindo a estrutura. Lama e água da tempestade respingavam para dentro a cada impacto. Corremos mais para dentro do posto, com os corações disparados.
Peguei o rádio e tentei contato com a estação de guardas mais próxima, minha voz falhando enquanto implorava por um time de resgate. Mas minhas súplicas caíram em ouvidos surdos. O homem do outro lado perguntou, sem emoção, se tínhamos lido o manual dos funcionários. Claro que não — ninguém lê aquele monstro de mais de 100 páginas. Implorei de novo, com a voz tremendo.
“Fique calmo”, ele disse. “Desligue o rádio, tranque-se em uma sala e reze.”
Bati o rádio no chão. Um erro enorme.
Um rugido ensurdecedor sacudiu o posto. Poeira de concreto caiu do teto. O teto acima de nós cedeu sob o peso do T-Rex que atravessou a estrutura. Mal tive tempo de registrar o som antes que ele caísse sobre Carter. Ele gritou. Depois, silêncio. A fera o devorou em um único movimento aterrorizante.
Não parei. O guarda de segurança e eu corremos às cegas pelos corredores, com fumaça e destroços em nossos rostos. O rugido atrás de nós não parava, vibrando as paredes a cada passo dos predadores gigantescos. Cada esquina, cada porta parecia uma armadilha mortal, e percebi, com uma torção doentia no estômago, que ninguém viria nos salvar. Nunca viria.
Nos trancamos na sala de manutenção. O cheiro de óleo e concreto úmido impregnava o ar, o único lembrete de que ainda havia um prédio acima de nós. O guarda de segurança foi devorado ontem.
Pensávamos que os T-Rexes tinham sido contidos. Realmente acreditávamos nisso. Então, fomos verificar.
Estávamos errados.
Um T-Rex o pegou bem na minha frente. Num segundo ele estava ali, no outro, sumiu em um borrifo de água e lama. Quase fui devorado também, mas consegui acertar a fera com meu bastão de choque, uma rápida descarga elétrica que a fez recuar por tempo suficiente para eu me jogar na sala de manutenção. Perdi o bastão no processo. Minha única arma.
Agora, sou só eu. Estou com fome e sede. Meus lábios estão secos e rachados de tanto sussurrar para ninguém.
Está tudo quieto agora. Sem rugidos. Sem passos. Sem estrondos. Só a chuva pingando em algum lugar além da porta. Talvez os dinossauros tenham sido contidos de novo. Talvez alguém finalmente tenha vindo.
Mas eu não ouviria vozes? Não ouviria alguém chamando meu nome?
Não sei mais. O silêncio parece mais pesado que os rugidos jamais foram.
Vou verificar.