segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Algo Dentro de Mim Não Para de Me Devorar

As pessoas dizem que estou doente. Psicótico. Que eu poderia machucar alguém.  
Isso não é verdade. Eu não machuco ninguém. 

Nunca fiz isso.  

É só que… as pessoas nunca me entenderam de verdade. Sempre digo que tem algo dentro de mim, algo que me consome por dentro. Essa sensação começou há alguns meses.  

Minha irmã mais velha e eu sempre fomos muito próximos. Contamos tudo um pro outro, sem segredos. Ela vivia falando do namorado dela — um cara na casa dos vinte anos, inteligente, com um bom emprego, aparentemente bonito — toda vez que conversávamos. Era óbvio que ela estava apaixonada por ele.  

Uma noite, ela me ligou com uma notícia incrível: queria se casar com ele. Fiquei radiante. Foi como se fosse um dos melhores momentos da minha vida.  

Alguns dias depois, minha irmã e o namorado dela conheceram meus pais. Tudo parecia estar indo bem — até ele mencionar a casta dele. Meus pais ficaram chocados. Ele pertencia a uma casta diferente da nossa. Eles não aprovaram. Disseram que não era certo os dois ficarem juntos. Minha irmã tentou de tudo pra convencer eles, mas nada adiantou.  

Nas nossas conversas por telefone, ela chorava muito, dizendo que meus pais não entendiam o amor que ela sentia pelo namorado. Então, um dia, minha mãe me ligou. Só conseguia ouvir os soluços dela. Não entendia o que tinha acontecido até ela explicar: minha irmã fugiu de casa e se casou.  

Fiquei feliz por ela, mas triste pelos meus pais. Eles estavam arrasados. No fim, acabaram expulsando ela da família. Tentei consertar as coisas, mas não tinha como sustentar a situação. Me obrigaram a cortar contato com minha irmã. Fiquei destruído, devastado por não poder mais falar com ela — tudo por causa de casta. Foi quando as coisas começaram a desandar.  

Alguns dias depois do caos, comecei a sentir uma dor abdominal. Não conseguia entender o motivo. Tomei analgésicos e tentei seguir em frente, mas a dor não passava. Pesquisei na internet, tentei remédios caseiros, mas nada funcionava. Fui ao médico — ele disse que eu estava bem e receitou uns remédios, mas eles não ajudaram.  

Duas semanas se passaram, e a dor continuava. À noite, eu ficava pelado na frente do espelho, procurando a causa. Procurava por hematomas ou feridas, mas nunca encontrava nada.  

Uma noite, minha mãe insistiu pra sairmos pra jantar. Éramos eu, minha mãe e meu pai. Os jantares agora eram vazios; ninguém falava nada. Meu pai chamou a garçonete e fizemos o pedido. Era o primeiro dia dela, então ela tropeçou um pouco no atendimento. Depois que ela saiu, minha mãe disse: “Uma garota da montanha — provavelmente de uma casta tribal.”  

Meu pai completou: “Eles não sabem de nada, então faz sentido que ela não consiga atender direito.”  

De repente, senti uma dor aguda no abdômen, como se alguém estivesse me socando. Corri pro banheiro e comecei a vomitar violentamente — primeiro comida, depois sangue. Muito sangue. O chão do banheiro ficou encharcado. Olhei no espelho: pálido, acabado. Tirei a camisa e vi uma erupção se espalhando pela minha barriga, uma que eu nunca tinha visto antes.  

Nos dias seguintes, fui a vários médicos por causa da erupção. Todos disseram a mesma coisa: não havia erupção nenhuma. Minha cabeça ficou cheia de perguntas. Tentei ignorar a dor, me distraindo como podia.  

Até consegui marcar um encontro pelo Tinder. Ela era doce, e combinamos de nos encontrar num bar. Conversamos sobre nossas vidas, interesses, trabalho. Por um momento, a dor sumiu. Mas aí ela disse que não conseguiu entrar na universidade dos sonhos dela por causa das cotas de casta — muitas pessoas com notas mais baixas tinham sido aceitas no lugar dela. O clima ficou estranho. Senti um formigamento na barriga, mas ignorei.  

Um músico começou a tocar, e as pessoas dançaram. Fui dançar com minha acompanhante. Enquanto me movia, começaram as visões: um homem negando recursos a outro por causa de casta, uma empregada sendo espancada por tocar na comida, um padre ateando fogo a um homem de casta inferior. Cada pessoa parecia pertencer a uma era diferente. Mesmo assim, continuei dançando, vendo atrocidades se desenrolarem em inúmeras variações — uma idosa jogando comida nas mãos de uma empregada, um pai permitindo que o filho namorasse apenas dentro da própria casta.  

De repente, uma dor excruciante me atravessou. Corri pro banheiro. A erupção tinha se espalhado pelo meu abdômen. Então eu ouvi: algo mastigando a carne dentro de mim. Desmaiei.  

Quando acordei, estava no meu quarto. Minha mãe disse que eu tinha desmaiado e me levaram pra casa. Escovei os dentes e olhei no espelho. A erupção ainda estava lá — na verdade, tinha se espalhado.  

Mais tarde, ouvi minha mãe falando com a irmã dela sobre um grupo de WhatsApp pra pessoas da nossa casta na cidade. Senti nojo. O som de mastigação dentro de mim continuava, roendo meu corpo. A dor era insuportável. Quis me matar. Voltei ao médico. Mesma resposta. Ele sugeriu que eu procurasse um psiquiatra. Mas eu não sou psicótico.  

Nos dias seguintes, o som de mastigação ficou mais alto. No começo, era só a dor — agora tinha som também. Tentei usar algodão nos ouvidos, fones de ouvido. Nada funcionava.  

Uma noite, apesar da minha agonia, minha família decidiu assistir a um filme sobre castas e crimes de honra. Todo mundo adorou. No caminho pra casa, meu pai disse: “Não entendo. Quase todo mundo é educado. Por que seguem o castismo? Não somos todos iguais?”  

Minha mãe completou: “Quem segue casta é um idiota educado. Não merece ser chamado de humano.”  

Meu estômago se contorceu de agonia. Pedi pros meus pais pararem no McDonald’s pra eu usar o banheiro. Lá dentro, me examinei. Meu torso estava infeccionado. Pus escorria de vários lugares. Minha pele tinha ficado cinza. A dor e a mastigação aumentaram. Um fedor horrível tomou o ar. Vomitei e me encarei no espelho com nojo.  

Recuperei o controle, voltei pro carro e fomos pra casa. Passei pomadas e cremes, mas nada adiantava. Então ouvi meus pais de novo:  

“A gente tem nossa casa, né? Vamos passar pra alguém da nossa casta. Forasteiros vão estragar tudo.”  

Não aguentei mais.  

Fui pra varanda, pronto pra me jogar, mas o que vi me paralisou: inúmeras pessoas lá embaixo, como zumbis, murmurando, separadas em grupos — alguns de castas superiores, outros de castas inferiores, cada um agarrado à sua casta. Minha mãe chamou meu nome. Virei. Ela parecia um zumbi.  

Sem pensar, peguei uma faca na cozinha e cravei na garganta dela. Meu pai gritou — ele também era um zumbi. Tirei a faca da minha mãe e esfaqueei ele, de novo e de novo, umas vinte ou trinta vezes, até tudo ficar quieto.  

Mas a dor não parou. Ficou pior, insuportável. Corri pro banheiro e comecei a cortar pedaços da minha carne, gritando enquanto o sangue cobria o chão. Eventualmente, pessoas invadiram o lugar e me arrastaram dali.  

A próxima coisa que lembro é estar num quarto mal iluminado, sozinho. Acho que é uma ala psiquiátrica. Um homem vem às vezes e me diz pra escrever coisas como essa.  

Mas eu não sou psicótico.  

O pior de tudo é que dói. Ainda dói pra caralho.

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Quem sou eu

Minha foto
Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon