Eu sei que esse título parece meio bobo e estranho, mas preciso de ajuda porque assisti algo ontem à noite. Eu estava lá, tranquilo, cozinhando, quando o filme que eu estava vendo terminou. Aí, a TV começou a rodar automaticamente outra coisa, e apareceu um cara de pé numa sala, com uma luz forte brilhando sobre ele, de costas pra câmera.
Ele ficou assim por um minuto, talvez mais. Depois, ele se ajeitou e virou de frente pra câmera. Estava vestindo um terno chique, com gravata, e tinha um cabelo meio desgrenhado. Não dava pra ver o rosto dele. Não era como se ele não tivesse rosto, dá pra entender? Dava pra ver os lábios, mas a iluminação da sala, tipo um holofote de palco, não deixava ver direito.
Aí ele começou a falar. Eu não consegui lembrar de muita coisa, porque parecia um monte de conversa desconexa. Ele começava num assunto e, do nada, pulava pra outro. Era meio desorientador, sabe?
Eu já estava pensando em desligar a TV quando ele começou outro discurso.
“Eu me lembro de quando a vi pela primeira vez. Ela era tão perfeita. Naquele momento, eu soube que ela seria o meu lar. Alguém sem quem eu não poderia viver.” Um sorriso de alegria apareceu no rosto dele.
“As primeiras vezes que nos esbarramos foram por acaso. A gente trabalhava no mesmo lugar. Ela estava começando, e eu já estava lá há um tempo. O sorriso dela era mágico. Eu comecei a inventar jeitos de cruzar com ela de propósito. Ela era o meu pedacinho de céu.” Ele estava esfregando o dedo anelar, onde fica a aliança.
“Demorei um tempo pra convencer ela a sair comigo. Ela estava preocupada com como isso poderia afetar o trabalho, o que as pessoas iam pensar, essas coisas normais. Quando finalmente saímos, levei ela pra um restaurante chique no centro. Era lindo, perfeito. Eu sabia que ela ia amar… e ela amou mesmo. Dava pra ver no rosto dela, na dancinha animada que ela fazia. Pedimos umas comidas sofisticadas, tipo filé e lagosta. Coisas que pesam no bolso, sabe? Mas eu faria qualquer coisa por ela. Depois do jantar, levei ela pra ver as estrelas. Eu tinha encontrado um lugar perfeito, não muito longe da cidade. Era o lugar ideal pra um primeiro beijo.” Ele tropeçou nas palavras por um segundo.
“Ela era tão linda. Eu ficava olhando mais pra ela do que pras estrelas. Acho que ela sabia, mas não ligava. Em um momento, ela olhou pra mim, e tudo que eu conseguia ver eram os lábios dela. Eles me chamavam. Talvez eu estivesse meio bêbado de vinho e empolgado, mas fui em frente. O eu sóbrio nunca teria coragem. Pensando bem, eu dei sorte. Ela me beijou de volta, e a partir daí, foi história.” A empolgação na voz dele era tipo uma criança ganhando um brinquedo novo.
“A gente saiu mais vezes. Ficou mais ousado no trabalho. Até que decidimos ir pra casa e… bom, transar. Foi como estar no paraíso. Nunca senti nada melhor.” A euforia no rosto dele estava crescendo absurdamente nesse ponto.
“Mas não durou muito. Eu esqueci de uma coisa. Uma coisa simples. Que minha esposa não tinha ido trabalhar naquele dia e só estava deixando as crianças na escola. Dava pra ver o ódio nos olhos dela antes de ela balançar o machado. Ele me acertou primeiro, bem na parte de trás da cabeça. Não senti dor. Morri na hora. A outra mulher, por outro lado, não teve tanta sorte. Dizem que ainda estão encontrando pedaços dela pelo bairro.” Ele deu uma risadinha com esse comentário.
“Minha esposa se entregou à polícia, mas só depois de afogar nosso filho. Disse que esse foi o único crime dela… Eles me encontraram alguns dias depois. Sem cabeça e com o pênis cortado. Acho que foi o último ‘vai se foder’ dela pra mim.” Ele fez uma pausa, e o sorriso sumiu.
“4 de setembro de 2025, 8h da manhã”, ele disse, antes de a TV voltar pra algum filme antigo. Fiquei confuso, pra dizer o mínimo. As coisas pioraram quando acordei na manhã seguinte e vi no grupo de trabalho que o chefe tinha sido assassinado. Que a esposa dele enlouqueceu ou algo assim. Não sabemos todos os detalhes, só que há mais duas vítimas. Uma é o filho deles, e a outra é desconhecida.
Eu só quero saber se fui o único que viu isso.
Obrigado pelo tempo de vocês.
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