segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Tem algo aqui comigo

Tem algo aqui comigo.

Não sei exatamente o que é, mas tenho certeza de que não estou sozinho. Não sei como entrou; tranquei todas as portas e as janelas estão fechadas. Eu SEMPRE verifico isso antes de ir pra cama. Então, logicamente, eu deveria ser o único aqui. Mas não sou. Tenho certeza de que não sou.

E não é o meu cachorro. Ele está bem aqui do meu lado, dormindo. Como eu estava há poucos minutos. Mas algo me acordou. Não foi um som, mas uma sensação. Ainda estou dormindo? É paralisia do sono? Não… consigo me mexer. Sentei na cama. Estou completamente acordado e alerta. Mas não sei o que me deixou assim.

Tudo o que sei é que não é nada. Tem algo aqui. Alguma coisa. Mas não consigo ver. O interruptor de luz está bem ali. Eu poderia ligá-lo facilmente. Mas estou paralisado. Toda a minha atenção está consumida pelo que está à minha frente. Mas tudo o que vejo à minha frente é escuridão. Vazio. Um abismo. Não costumo ter medo do escuro. Bem, não mais do que qualquer outra pessoa, eu diria. Então, é o escuro que estou temendo agora? Não, tem algo NO escuro. Esperando.

Será que vejo olhos? Olhos me encarando? Será que vejo dentes esperando pacientemente que eu feche os olhos novamente, pra atacar quando estou mais vulnerável? Será que ouço a respiração de algo sinistro? Está com um cheiro estranho aqui? Estou examinando todos os meus sentidos em busca de qualquer evidência que justifique essa sensação. E não encontro nada. Então, eu deveria me sentir seguro. Mas não me sinto.

Quero chamar por isso. Mas e depois? Não tenho nenhuma arma comigo. Sei que deveria ter guardado uma faca, uma arma, um taco, uma lanterna ou… qualquer coisa. Pra noites como essa. Talvez já tenha havido noites assim em que nada aconteceu e não havia nada no escuro além das minhas próprias criações. Mas dessa vez parece diferente. Não PENSO que tem algo ali. Eu SEI que tem algo ali.

Tento explicar pra mim mesmo, mas fico sem respostas. Sei que não estou fazendo sentido. Metade de mim acha que estou errado, mas a outra metade sabe que estou certo. E saber é mais forte que pensar. Mas o que É isso? Não é nada. Tem que ser nada. As portas estão trancadas, as janelas seladas, meu cachorro não se alarmou, e eu estou simplesmente louco pra caralho.

Só que meu cachorro acabou de acordar. Ele virou a cabeça pra onde eu estive olhando pela última hora. E ele está fixado nisso. As orelhas estão erguidas, apontando pra longe de mim. Ele está imóvel. Eu sabia que não estava louco, ele algo. Algo que eu não consigo ver. Mas ele também não se mexe. Queria que ele simplesmente latisse ou corresse atrás pra que o que quer que esteja neste quarto conosco saísse correndo e isso acabasse, e eu pudesse voltar a dormir. Mas agora sei que TEM algo lá fora. Eu já sabia disso. E ele sabe agora também. E seja lá o que for, é algo que o deixou paralisado também. Será que ele está com medo como eu? O que poderia assustá-lo assim? O que poderia me assustar assim?

Porra, o que eu faço? Se eu pegar o celular, isso pode me alcançar antes que eu disque o primeiro número. Se eu alcançar o interruptor, isso pode me despedaçar com seus dentes. Se eu me mexer, com certeza vai me pegar e eu estarei morto. Mas preciso fazer algo. Porra, PRECISO fazer ALGO.

Tomo coragem. Vou fazer isso. Vou acender a luz. Foda-se esse jogo de gato e rato. E foda-se o que quer que esteja no quarto comigo. Não aguento mais não saber. Não aguento mais esperar. Nada é pior que esperar. Qualquer coisa é melhor que ficar parado. Acender a luz é melhor que não respirar. Os sons que faço ao me inclinar pro interruptor são melhores que esse silêncio doentio. O ranger do colchão é como uma explosão, mas é melhor que o espaço vazio entre mim e seja lá qual for meu destino. Esperar não me ajudou, pensar nisso só piorou, então o que mais resta além de agir?

Inicio a reação em cadeia. Meus dedos são os primeiros a ganhar vida (doem enquanto se movem). Mexo o braço (está mais pesado que nunca). Respiro (quanto tempo faz desde minha última respiração?). Minhas costas se esticam em um ângulo estranho em direção ao interruptor (está muito mais longe do que eu lembrava). Gotas de suor se formam na minha testa (posso sentir o gosto do ar). As orelhas do meu cachorro se movem com o som do meu corpo deslizando contra os lençóis (o olhar dele ainda está fixo à frente). Posso ouvir meu próprio coração (cada batida leva uma eternidade). Minhas pontas dos dedos tocam o plástico frio (cheguei). Meu corpo inteiro hesita (eu puxo o interruptor).

Eu sabia.

Eu sabia, porra.

Tem algo aqui comigo.

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Quem sou eu

Minha foto
Escritor do gênero do Terror e Poeta, Autista de Suporte 2 e apaixonado por Pokémon