Era noite, e eu caminhava para casa por uma rua deserta. Nas mãos, segurava meu celular, assistindo a um vídeo novo. O ar fresco da noite roçava meu rosto, e os postes de luz piscavam de vez em quando enquanto eu me concentrava totalmente na tela.
Completamente absorto no que acontecia no vídeo, não percebi o asfalto cedendo sob meus pés. No começo, nem entendi o que tinha acontecido. Caí pelo chão. Agarrei as bordas de um bueiro aberto com as mãos e um dos pés. Meu celular, ainda tocando o vídeo, despencou. Um splash marcou sua queda nas águas do esgoto. Minhas mãos e pernas doíam pelo impacto, enquanto a outra perna balançava dentro do poço. Sentia o metal frio cortando minha pele, e o eco de água pingando me envolvia.
Eu xinguei alto. Não queria perder meu celular.
Uma luz fraca brilhava lá embaixo. De um lado do poço, havia degraus de metal descendo. Me movi com cuidado e comecei a descer para recuperar o telefone.
Os degraus de metal estavam molhados. Minhas botas escorregaram várias vezes. O fedor do esgoto enchia minhas narinas.
Mais ou menos na metade do caminho, outro cheiro se misturou ao fedor do esgoto. Era algo... como uma podridão desconhecida, um cheiro de coisa estragada. Um arrepio correu pela minha espinha enquanto eu tentava me equilibrar contra a parede úmida.
Ao chegar ao fundo, olhei ao redor. Na luz fraca de uma lâmpada acima, vi um túnel se estendendo adiante. O chão estava submerso em um líquido sujo. Do outro lado, uma cavidade na parede revelou algo que gelou meu sangue. Um monte de corpos humanos. Alguns sem braços ou pernas, outros apenas pedaços de corpos, rasgados nas bordas como se algo os tivesse devorado. O cheiro de podridão que eu sentira antes vinha dali. Cambaleei para trás, meu coração disparado, incapaz de desviar os olhos daquela visão macabra.
Enquanto eu encarava, horrorizado, a pilha de corpos, ouvi respingos de líquido sujo atrás de mim.
Me virei, apavorado, e vi uma figura alta e magra parada no crepúsculo do túnel, a uns dez metros de distância.
Os pelos da minha nuca se arrepiaram de medo. Não era humano. Sua cabeça careca estava inclinada para o lado. Dois pontos de fogo brilhavam em suas órbitas oculares. Braços longos, com dedos alongados e garras, se estendiam para a frente, como se estivesse pronto para atacar sua próxima vítima — e parecia que, dessa vez, a vítima era eu. Um suor frio escorreu pelas minhas costas enquanto a adrenalina pulsava em minhas veias.
Me joguei nos degraus de metal e subi freneticamente. Não sei como cheguei ao topo. Parecia que eu tinha voado.
Deitado no asfalto, recuperei o fôlego. De repente, uma dor ardente atravessou minha perna. Virei-me e vi uma garra longa e azul agarrando minha perna, logo acima da bota. Ela saía do bueiro. O crânio careca da criatura emergiu de dentro. As luzes flamejantes em suas órbitas me encaravam com ódio. A garra aterrorizante começou a me puxar para o bueiro aberto. Gritei de horror e chutei desesperadamente, tentando me soltar. Alguns dos meus chutes acertaram o alvo e distraíram a criatura por um instante. Sua garra me soltou.
Levantei-me e corri.
Nos dias seguintes, evitei aquela rua, voltando para casa por outros caminhos. Fiquei com uma ferida na perna, como se fosse uma queimadura. Demorou muito para cicatrizar e deixou uma cicatriz bem visível.
Comprei um celular novo. Meu aparelho antigo tinha se perdido de vez na sujeira do túnel do esgoto — ou pelo menos era o que eu pensava... até recentemente.
Estranhamente, recebi uma mensagem do meu número antigo, aquele do celular que se afogou no esgoto.
A mensagem dizia:
"Estou caçando você."
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